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Entrevista

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada | Omelete entrevista Martin Freeman

"É muito gratificante saber que os fãs me queriam no papel", disse o ator

20.11.2012, às 00H08.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Quem conhece a série britânica Sherlock já torcia: Martin Freeman tinha que interpretar Bilbo Bolseiro em um filme d'O Hobbit. Não apenas por ele se parecer fisicamente com Ian Holm (que interpretou o personagem na trilogia O Senhor dos Anéis), mas também porque ele é um grande ator. Assim, quando Peter Jackson anunciou que Freeman estaria no elenco, os fãs ficaram nas nuvens. E agora, depois de conversar com ele no set de filmagens na Nova Zelândia, a impressão só se fortaleceu. Durante a entrevista, Freeman falou sobre o quanto ele se espelhou na atuação de Holm, como o Um Anel afeta Bilbo, como foi o primeiro dia no set, as filmagens em 3D e em 48 quadros por segundo, a forma como ele gosta de trabalhar e muito mais. Confira:

Bilbo e os anões

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Bilbo e os anões

Martin Freeman e Andy Serkis no set

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Freeman e Andy Serkis no set

Martin Freeman como Bilbo Bolseiro

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Martin Freeman como Bilbo Bolseiro

Hobbit poster

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O cabelo do Bilbo fica bem mais legal pessoalmente.

Eu sei, geralmente eles passam mais produto nele. Ele está um pouco mais ondulado do que o normal porque estou prestes mergulhar em uma cena. Se colocassem mais produto escorreria tudo nos meus olhos, por isso eles deixaram nesse estilo.

Uma coisa que desperta a curiosidade é que, no livro O Senhor dos Anéis, sempre que Bilbo coloca o Um Anel, não vemos qualquer efeito negativo sobre ele. Isso é algo que vai mudar com o filme? O Um Anel vai ter algum efeito sobre Bilbo?

Acho que o anel definitivamente tem um efeito sobre ele. Talvez eu não deva dizer o quão negativo ou positivo será, mas é claro pra mim que ele existe e que será algo reconhecível que existe nos livros. Ainda assim, acho que o caminho seguido será diferente. Eu presumo isso porque O Hobbit é um livro um pouco mais leve, familiar e não tão sombrio [quanto O Senhor dos Anéis]. Mas isso não significa que os riscos não estarão presentes. Será definitivamente relevante que Bilbo está com o Um Anel. Acho que em grande parte do tempo Bilbo não sabe ao certo o motivo por ele querer tanto ficar com o anel. É como um imã, uma força inconsciente sobre ele.

Enquanto se preparava para o papel, você se espelhou na performance de Ian Holm?

Nem tanto. Eu já conhecia o trabalho dele e assisti aos filmes novamente - obviamente com mais atenção. Me espelhei na performance de Ian somente quando eu precisava, em momentos em que era relevante que eu prestasse mais atenção na atuação dele. Acho que somos bastante parecidos, e é por isso que estou elenco; não somos tão diferentes fisicamente. Todos me disseram que eu era a única pessoa que poderia interpretá-lo. Se todos pensam assim, quem sou eu pra discordar? É muito útil pensar desta forma, já que a atuação de Ian é brilhante e ele estabeleceu muito bem este adorado personagem. Mas isso também poderia ser prejudicial, pois se o tempo todo há uma parte de mim pensando "como o Ian teria feito isso?", estaria ferrado. Acho que o trabalho necessário para estabelecer a ligação entre os dois "Bilbos" foi feito na minha contratação - e não pensado em como eu faria o personagem.

Você poderia falar um pouco sobre o primeiro dia de gravações? O que significou para você a experiência de estar ali, trabalhando com todos envolvidos em O Hobbit?

Nas primeiras duas semanas gravamos a cena da caverna de Gollum, então passei meu primeiro dia contracenando com Andy [Serkis], o que em si é sempre algo bastante interessante. Foi fascinante. Ele é muito bom, o personagem é muito adorado e ele o conhece como ninguém. Isso me fez sentir seguro. Os primeiros dias no set de filmagens foram repletos de descobertas. Você capta muita coisa, por isso me coloquei alerta e receptivo a tudo o que via. Outro dia eu estava fazendo a substituição de áudio daquela primeira cena e pensei que gostaria de ter a chance de fazer aquilo de novo, algo que raramente penso. Mas este é um projeto longo e às vezes me ocorre que, se eu tivesse a oportunidade de repetir algo, eu faria diferente. Mas não é possível, e não tem problema. Eu estava olhando para o Gollum, então estava tudo bem.

A maior evolução de personagem em O Hobbit é Bilbo aprendendo a se tornar um herói. Considerando o tempo em que o filme está em produção, manter este arco narrativo é um desafio?

Pode ser. Este processo é responsabilidade minha, mas obviamente Peter Jackson tem uma responsabilidade ainda maior. Ele tem que ficar de olho em tudo que acontece. Ele tem a imagem completa na cabeça, sabe como tudo vai ser editado e como o filme deve ficar. Então é possível que, enquanto uma cena é rodada, eu posso achar que ela é a cena 94 e ela pode acabar sendo a cena número 213. Preciso me comprometer com o personagem com a maior boa vontade do mundo, mas também é preciso estar aberto a coisas novas. É preciso reconhecer que o trabalho de edição é importante. Tenho que me dedicar ao trabalho do ator que é o de ser diligente sobre a evolução do personagem, porém sabendo que, no fim das contas, não sou eu quem estou no comando de tudo.

Com Bilbo Bolseiro, o Guia do Mochileiro das Galáxias e o Dr. John Watson de Sherlock no currículo, você não se assusta em interpretar personagens tão icônicos? Muitos atores teriam medo de assumir qualquer um desses papéis, mas você já em três grandes produções...

É verdade. Eu não fico assustado com isso. Não é porque eu ache que eu seja incrível ou algo assim, mas sim porque pensar desta maneira não me ajudaria em nada. Pra mim é algo simples; estou nesta profissão pela alegria e pela diversão proporcionada. Ninguém vai morrer se eu for ruim em determinado papel. Está tudo bem. É claro que eu prefiro não ser ruim no meu trabalho. Honestamente, é horrível quando as pessoas não gostam do que eu faço, mas no fim das contas eu que dou a palavra final. Eu digo se gostei ou não - e pode ser que eu realmente não goste, como já aconteceu em algumas ocasiões. Outras coisas na vida me intimidam, não meu trabalho. Deixei a escola de atuação cedo e nunca parei de trabalhar. Mesmo quando um trabalho está me dando nos nervos, eu prefiro estar fazendo isso do que qualquer outra coisa. Claro que existem momentos em que ficamos inseguros, mas acho que nunca chegarei ao ponto de ficar inseguro em assumir determinado personagem. Parte seja, talvez, por eu não ser iniciado minha carreira nos universos do Guia do Mochileiro das Galáxias, Sherlock, Conan Doyle ou Tolkien. Acho que se me dissessem que eu seria parte dos Beatles, por exemplo, aí sim eu estaria preocupado. Mas ainda assim não seria meu ponto de partida, a banda não seria minha.

Sabendo que você era o favorito dos fãs para viver Bilbo, você sente qualquer tipo de pressão? Sabendo que houve até uma campanha de fãs para que você fosse contratado?

Sim, senti a pressão, mas acredito suficientemente em Peter para saber que daria tudo certo. Ele me disse sobre outras decisões que tomou com base em manifestações e rumores da internet e acabou sendo guiado na direção errada. É fácil entrar na internet e tomar decisões precipitadas, ler mensagens de pessoas que te amam e de pessoas que te odeiam, mas ele aprendeu com o tempo. É muito gratificante saber que os fãs me queriam no papel, mas não foram eles que me conseguiram o trabalho.

Foram filmagens longas e, entre elas, você se ausentava pra gravar Sherlock. Foi difícil voltar para o personagem?

Mais ou menos, mas essa é parte da razão para sermos atores. Atores, autônomos ou jornalistas como vocês não sabem ao certo o que estarão fazendo em todos os pontos de suas vidas. Mesmo que estejamos fazendo várias coisas ao mesmo tempo, é sempre algo voltado para aquilo que você ama. Então sim, é muito difícil, mas é também gratificante.

Vocês estão filmando O Hobbit em 48 quadros por segundo e em 3D. Qual é a sua opinião sobre o avanço da tecnologia?

Eu não tenho opinião alguma sobre os 48 quadros por segundo, seria a pior pessoa para falar sobre o assunto. Já do 3D eu gosto bastante. Acho que tudo devia ser em 3D, é vergonhoso O Poderoso Chefão não ter sido convertido até agora, ahahaha. É como o personagem de Jeff Goldblum disse em Jurassic Park: "ficamos tão empolgados que estamos fazendo isso simplesmente porque podemos, nunca pensamos se realmente deveríamos". É isso. Não tenho problema com a evolução da tecnologia, mas acho que ela não seja o ponto central do filme. No final das contas, a história diz mais que todo o resto. Eu nunca assisti ao Poderoso Chefão pensando que seria tudo muito mais legal se a mão do Fredo saísse da tela. Se o 3D é usado com bom gosto, para incrementar algum fator do filme, tudo bem. Mas tão logo ele seja o ponto principal da produção, a coisa desanda. Eu confio no Peter, ele tem muito bom gosto e sabe o que está fazendo. Temos cerca de 2 mil pessoas trabalhando para garantir que a história venha sempre em primeiro lugar.

Você pode falar sobre como foi trabalhar com as câmeras de movimento simultâneo?

Passou de ser uma experiência horrenda para ok. No começo, usávamos somente câmeras Red e elas quebravam muito - talvez de hora em hora, o que acabava dificultando muito o processo de filmagem. Acho que ninguém havia usado essa tecnologia antes, é uma inovação do Peter. Na realidade, é bem parecido com teatro - ensaiamos, ensaiamos e ensaiamos para que tudo ficasse o mais preciso possível. Aí Ian [McKellen], caracterizado como Gandalf, atuava em um cenário com 12 bolas de tênis que tinham nossas fotos coladas nelas, e nós [os anões] ficávamos em outro ambiente, interagindo com 14 pedacinhos de fita colados no chão para simbolizar onde ele estaria. É uma conquista magnífica. Eu já vi a cena editada e, mesmo ela ainda não estando finalizada, não dá pra ver a junção. Ficou perfeito. E [atuar para a câmera de movimento simultâneo] acabou sendo bem agradável. Agora não vemos mais como um problema quando temos que rodar algo usando a tecnologia. Já estamos bem treinados, já sabemos o que esperar. Tudo em O Hobbit é mais lento, mas nada é um fardo. No começo até me senti um pouco intimado, mas depois que você vê uma cena pronta, tudo faz sentido.

Como foi a "disputa" entre os atores no set? Fale um pouco sobre a química entre vocês.

Primeiramente, acho que o mais surpreendente do grupo foi que nós não brigamos em nenhum momento, nem nos xingamos. E olha que tem muitos homens no elenco, todos com egos grandes, mantendo a compostura. Eu nunca tinha trabalhado em um projeto por tanto tempo assim. Mas ainda acho que seria diferente se fossemos em quatro [em vez de 13]. Não teríamos pra onde correr, mas sim aguentar essas três outras pessoas o tempo todo. Nós não somos um grupo unido - até porque, como em qualquer outra relação de trabalho, você acaba tendo que encontrar seu espaço ali dentro. Fiquei surpreso como tudo deu certo. Acho que todos lembraremos disso daqui a dez anos, ficaremos orgulhosos por termos conseguido manter uma relação de trabalho tão boa e amigável. Mesmo depois de um ano e meio, nós ainda saímos juntos para almoçar, jantar, beber - ainda conseguimos ficar juntos sem querer nos matar.

A câmera de movimento simultâneo ajudaria caso vocês não se dessem bem...

Que gravamos em ambientes diferentes? Sim, é verdade. E geralmente é Ian que fica longe de nós. Nós realmente odiamos Ian. [risos] Então foi ótimo que ele filmasse tudo sozinho, porque senão teríamos feito bullying. Nós o banimos. [risos]

Como vocês estão gravando fora de ordem e a história acompanha principalmente a jornada de Bilbo, é muito difícil para você saber ao certo onde estão no seu desenvolvimento pessoal e no seu relacionamento com os outros personagens?

Pode ser bem difícil. Acho que o desafio seria maior se não filmássemos fora de ordem em outras produções também, mas em O Hobbit fica pior por causa do tempo. Por exemplo; pode ser que agora estejamos rodando a cena número 55, mas rodamos a cena 54 em fevereiro. Claro que podemos sempre nos apoiar no roteiro, mas não é a mesma coisa do que ter uma memória mental clara de onde estávamos. No final das contas, sem querer ser simplista mas já sendo, tudo acaba se resumindo ao treino. Temos que nos acostumar a isso, mas nem sempre dá tudo certo.

Alguns atores preferem trabalhar com o método de filmagem de Clint Eastwood, que exige apenas duas tomadas de cada cena; enquanto outros preferem o de David Fincher, que faz 50 tomadas. Qual é o seu preferido e qual foi o escolhido para O Hobbit?

Acho que uma média entre os dois é ideal. Duas tomadas são incríveis se todos sentem que elas são as tomadas certas. Ele [Peter Jackson] não faz várias tomadas por causa dos atores, mas sim por motivos técnicos - o que pode ser frustrante. Eu gosto de fazer uma tomada até que ela esteja realmente boa. Talvez seis?

Você já perguntou pra alguém se vai poder ficar com a Ferroada?

Não. Estou de olho em um robe que Bilbo usa. Mas não na Ferroada.

E a peruca?

De jeito nenhum.

Os pés? As orelhas?

As orelhas? Não. Estou muito feliz sem elas.

E os pés?

Não. Depois de um certo período usando tudo isso, não quero levar nada pra casa. Eles podem ficar com tudo.

O Hobbit - Uma Jornada Inesperada estreia em 14 de dezembro.

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