Durante a nossa visita ao set de filmagens de O Hobbit: A Desolação de Smaug, segunda parte da trilogia que adapta o livro O Hobbit, o Omelete conversou com o ator Luke Evans. O galês, que interpreta o guerreiro Bard, contou um pouco sobre como conseguiu o papel e a origem do sotaque de seu personagem.
"Eu venho de Valle e meus ancestrais também. Então, fizeram com que
todos com origem nesta cidade tenham sotaque galês", diz Evans
Como você se envolveu no filme? Foi Peter Jackson quem te chamou?
Teria sido uma ótima história, não? Ele apenas me ligou e disse "Luke, quais são seus planos para os próximos 18 meses?". Brincadeiras à parte, eu consegui o papel em junho passado, mas fiz testes um ano e meio antes disso. E não ouvi uma resposta sequer por este período. Estava quase começando um filme chamado No One Lives, em Nova Orleans. Três dias antes de viajar para lá, recebi uma ligação dizendo que Peter queria me encontrar e me testar para o papel de Bard. Eu não podia ir até a Nova Zelândia, estava em meio a um trabalho, mas aceitaram fazer um teste em Londres numa tarde de sábado. No domingo, acordei com a oferta.
O que mais te surpreendeu ao trabalhar em O Hobbit?
Para mim, surpreendente é estar em um filme imenso e nem perceber. Não há hierarquia. Você não tem medo de olhar alguém nos olhos. E Pete representa tudo isso. Ele nunca levanta a voz, fica furioso ou algo assim. Isto me surpreendeu, já que não há o estresse que surge às vezes, quando há muito dinheiro envolvido, muito a filmar e um prazo apertado.
Aqui no set vimos seu personagem em conflito. Ele estava bravo com Thorin, mas também desapontado. Você pode falar um pouco sobre esta cena?
Bard não quer ter nenhum conflito. Sempre que puder resolver um problema sem derramar sangue, ele vai fazê-lo. E ele foi à montanha porque acredita que pode fazer Thorin perceber que é possível encontrar uma solução sem matar pessoas. Durante essa cena, acho que há muitos sentimentos pessoais, porque ele se sente um pouco traído. Ele levou os anões até a Cidade do Lago, mas isso só fez com que o dragão matasse a maior parte de seus conhecidos.
Quando ele está na montanha, aposta em seu último fio de esperança. Ele é um humano e tem que lidar com anões impulsivos e elfos arrogantes. Como humano, acredita que ser honesto e conversar com Thorin vai fazê-lo entender.
Como você se sentiu ao saber que, em um filme onde existem elfos, orcs e trolls, você seria o humano?
Realmente não pensei neles como anões, elfos e orcs. Pensei em Sir Ian McKellen, Orlando Bloom, Richard Armitage, Stephen Fry. Olhei para todas as pessoas com quem iria trabalhar, atores que respeito e admiro, e pensei: 'Isto vai ser muito empolgante'. Não estava mesmo preparado para a tela verde. Já fiz coisas semelhantes anteriormente, mas nada como o sistema de câmeras-escravas [várias câmeras sincronizadas, usadas para retratar personagens de alturas diferentes].
Quanto você trabalhou com esses atores?
Muito. Trabalhei por um bom tempo com os anões. Gandalf acabou de entrar na vida de Bard, assim como Thranduil. No filme, lidamos com um grande gabinete de guerra, composto basicamente pelo líder dos humanos, o líder dos elfos, o mago que está tentando unir todos eles e, obviamente, o anão guerreiro Billy [Connolly, ator], Dain Pé-de-Ferro. Muitas coisas estão acontecendo agora [nas filmagens]. Bard está envolvido com muitas delas, o que é muito bom. A primeira cena que fiz foi com Ian. É curioso quando você vê alguém por 10 anos e, de repente, está no set com aqueles olhos brancos te observando. Ele é brilhante.
Como Ian foi, em carne e osso?
Ele é divertidíssimo, sempre com uma história ou piada para contar. No set, muitas vezes você tem que esperar por horas e horas. É bom ter alguém que possa contar uma anedota ou apenas nos fazer rir, e ele é esse alguém. Todos estão muito familiarizados agora, conhecemos um ao outro muito bem.
"É como um cisne: todo calmo na superfície, mas com as pernas trabalhando
sob a água", diz Evans sobre Peter Jackson
Na primeira trilogia, Viggo Mortensen se tornou um ícone como Aragorn. Desta vez, você está em um papel semelhante. Você está preparado para os fãs, os bonecos e tudos os desdobramentos que estão por vir?
Sim! Acho isso muito empolgante. Na maioria das vezes, você participa de filmes que até são grandes, mas não percebe a extensão da base de fãs que se forma. Com este projeto, não dá para fugir disso. Conheço o [site] TheOneRing.net e toda a base de seguidores que angariou ao longo dos anos. É muito legal pensar que eu posso ter um personagem Lego ou ir à Comic-Con. Quer dizer, eu já fui à Comic-Con, mas nunca com algo desse tipo. Sabemos que o filme tem muito apoio e que todos estão tão animados quanto nós. Estamos ansiosos demais para assistir ao filme, então nem imagino como os fãs possam estar.
Como é trabalhar com Peter Jackson?
Esta é uma boa pergunta. Impressionante. Ele tem um jeito de te deixar confortável e confiante. Também é capaz de te fazer em pedacinhos e mesmo assim você continua a saber o que está fazendo. Ele diz "pense nisso, mude aquilo, faça aquela outra coisa", altera tudo o que tinha sido feito até então, mas ainda faz parecer que tudo surgiu por nossa iniciativa. Em uma cena, ele consegue captar 10 vezes o número de ideias que eu conseguiria passar sozinho.
É porque ele é muito bom no que faz. Ao ver minha cena e sugerir ideias, ele abre cinco ou seis portas na minha imaginação, indicando os rumos que uma conversa ou história poderia tomar. Pete é famoso por gostar de escolhas, ele gosta de ter muitas opções quando chega à sala de montagem para não pensar "deveria ter feito aquilo". Isso é que é bom nele. Também é bom porque o ator pode tentar coisas diferentes e ele não dirá que está errado. Ele não pensa que nada é errado, só gosta de ter opções.
Tenho certeza de que ele nem sabe como vai cortar a cena de hoje até metade do ano que vem, quando começar a fazê-lo. Ele terá muitas opções, porque nós a fizemos não sei quantas vezes, foram muitas vezes. Pelo que ele me contou, houve muitas mudanças a cada take. Como ator, é incrível ter esta aplicação por parte de um diretor, mas sentir que está no controle do que está fazendo. Não sei como ele se mantém são com tantas coisas que tem que administrar por hora. Ele faz isso com tanto estilo que ninguém percebe. É como um cisne: todo calmo na superfície, mas com as pernas trabalhando sob a água.
Muitos [dos entrevistados] disseram que alguns personagens não eram tão detalhados, então foi preciso trabalhar com ele [Peter Jackson] para criá-los. Você se surpreendeu com algo que criaram sobre seu personagem?
Esta é a primeira vez que tenho a oportunidade, mas quando fiz meu teste, fui filmado usando meu próprio sotaque, que é galês. Quando falei ao telefone com [a roteirista e produtora] Philippa Boyens, 18 meses atrás, ela sugeriu que eu fizesse o segundo teste com este sotaque. E eu: "Sério? Eu nunca fiz sotaque galês em nada". A maior parte das pessoas quer que eu mude minha maneira de falar. Mas ela insistiu: "Não, nós gostamos de verdade. Você pode fazer a cena com o sotaque?". E eles amaram. Pela primeira vez na vida, estou falando como um galês e o mais legal é que isso se reflete na história de Valle. Eu venho de Valle e meus ancestrais também. Então, fizeram com que todos com origem nesta cidade tenham sotaque galês. Todos os meus filhos são galeses no filme, então Valle sempre será o País de Gales para mim, o que é algo maravilhoso.
Provavelmente, esta foi a maior característica que acrescentei ao personagem. O filme tem muitos sotaques regionais, já que o Jimmy Nesbitt [que vive o anão Bofur] é irlandês e Richard [Armitage, Thorin] é de Leicertershire. Agora eles têm um galês, e isto é importante para todos que estão conectados ao Bard. Isso sempre estará no filme, a não ser que regravem toda e qualquer cena em que eu estive.
O Hobbit - A Desolação de Smaug estreia em 13 de dezembro.