Filmes

Entrevista

O Hobbit - A Desolação de Smaug | Omelete entrevista Peter Jackson

Durante as filmagens na Nova Zelândia, o diretor fala de tecnologia, maus momentos e Guillermo del Toro

21.11.2013, às 15H54.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Durante a nossa visita ao set de filmagens de O Hobbit: A Desolação de Smaug, segunda parte da trilogia que adapta o livro O Hobbit, o Omelete conversou rapidamente com o diretor Peter Jackson. Ele fala sobre tecnologia, maus momentos e o legado deixado por Guillermo del Toro, que dirigiria O Hobbit mas deixou o projeto em 2010 devido aos atrasos na produção.

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"Tem muito do DNA de Guillermo del Toro neste filme", diz Peter Jackson

Quais foram os melhores e os piores momentos de fazer estes filmes?

Bom, o pior foi o período entre a perda de Guillermo [del Toro] até o momento em que nós começamos a filmar. Isso aconteceu bem no meio de uma disputa com o Sindicato de Atores da Austrália, que quase nos fez pegar o filme e levá-lo para a Inglaterra e rodar por lá. Tudo se resolveu apenas um ou dois dias antes de tomarmos esta decisão. Foi um período muito estressante que levou entre seis e sete semanas. E ainda acabei com úlcera, que eu não sei se foi uma consequência ou não - mas não vou culpar os australianos por isso. Mas desde o dia que começamos a rodar tem sido maravilhoso. Tem sido muito divertido. Chegou a ser surpreendente para mim o tanto que eu tenho me divertido. Estou muito, muito feliz fazendo isso. Eu não sabia o quanto ia ser gostoso até começarmos.

Qual é a participação de Guillermo del Toro nestes filmes e a relação dele com estes filmes hoje em dia?

Ele não está mais ativamente envolvido neste projeto, mas tem muito do DNA do Guillermo neste filme. Ele construiu o design para estes filmes. Ele trabalhou nisso por 14, 15, 18 meses ou algo do tipo. Foi muito tempo. O trabalho principal dele foi com o departamento de design. Quando peguei o projeto, eu dei uma olhada em todos os desenhos que eles tinham feito e chamei [os ilustradores] Alan Lee e John Howe para fazer novas coisas também. Tem muita coisa do Guillermo que eu gosto e mantive, mas também fiz muita coisa nova.

O filme que ele tinha desenhado tinha todos os elementos de um filme do Del Toro, o que é sensacional, e seria um filme diferente deste e com certeza muito interessante. Mas eu obviamente não consigo fazer os filmes dos outros, então, quando assumi a direção eu falei "Ok, deixe-me dar uma olhada em tudo que está pronto e meio que começar tudo de novo". E claro que eu mantive todas as coisas que ele tinha feito que eu gostava, todas as boas ideias. Tem muita coisa ali. Com certeza tem um dedo de influência dele aqui, mas eu trouxe de volta muito do visual original dos filmes O Senhor dos Anéis também. É uma mistura.

Tem alguma sequência específica que você acha que o visual de Del Toro está mais presente?

Gostei muito do trabalho que ele fez para a Cidade do Lago. Então, sim, essas cenas com certeza têm um quê da arte dele.

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"É legal poder mexer no filme e dar um visual um pouco mais fantástico",
diz Jackson sobre a tecnologia de 48 fps

Que lições você aprendeu com o processo de filmagem a 48 quadros por segundo e 3D neste filme?

Nós nem pensamos nisso, para ser sincero. Você não tem que pensar nisso. É só [faz gesto de apertar um botão] ajustar para 48 fps e você esquece completamente. Não impactou em nada a forma como filmamos. [Nota do Editor: a entrevista foi feita em junho de 2012, antes do lançamento do primeiro O Hobbit.]Agora nós estamos iniciando o processo de pós-produção do primeiro filme. Começamos a cuidar da cor de algumas sequências e é legal poder mexer no filme e dar um visual um pouco mais fantástico. Você pode manipular cores e as luzes e sombras e a amplitude da cor. Dá para mexer de uma forma que é possível tirar aquela cara de eletrônico, o que é bom.

Sobre os 48 quadros por segundo, eu tenho dois pensamentos. Primeiro, como indústria do cinema, nós estamos tentando fazer filmes que chamem atenção do público e os faça vê-los. O público está diminuindo. Eles parecem cada vez mais relutantes em ir ao cinema, principalmente os adolescentes e as pessoas com vinte e poucos anos. Eles estão felizes em ficar em casa com seus iPads ou jogando games na TV. Quando eu era uma criança, todo domingo eu subia no trem e ia para o cinema. Nem importava qual era o filme. Eu chegava lá e escolhia algo que queria ver. Esse tipo de comportamento parece que não existe mais. Então eu acho que nós podemos pegar a tecnologia que temos hoje - não estou falando de coisas que estão aí há 20, 50 anos, mas sim da tecnologia que temos hoje - para criar uma experiência no cinema que é nova e mais imersiva e mais dinâmica e algo que realmente puxe as pessoas para dentro do filme. Acho que isso é algo bom. Acho que, como indústria, é uma bobeira pegar e falar "Quer saber? Os 24 fps que nós estamos acostumados a ver nos últimos 75, 80 anos é o cinema de verdade, então vamos ficar com eles mesmo". Acho que este tipo de pensamento não ajuda a indústria, para ser sincero.

E meu outro pensamento é que você não tem que enfiar essa tecnologia goela abaixo do seu público. Por isso o filme é lançado em 24 e 48 fps. Se as pessoas quiserem ver o filme da mesma forma que viram O Senhor dos Anéis 12, 13 anos atrás, o filme está lá. Mas vamos experimentar também a ideia de um filme a 48 quadros por segundo. Acho que vai ser legal e você vai se acostumar com isso. Você se senta lá e aquilo é imersivo de verdade. Parece que você está vendo um ambiente de verdade, um mundo de verdade. Não importa o quão fantástico ele é, você é puxado para dentro da tela desta forma. Você é puxado para dentro desta experiência. O 3D é algo mais fácil para os olhos [se acostumarem]. Acho que as pessoas deveriam esperar e fazer o seu julgamento só depois de sentar lá e assistir ao filme completo. E se elas realmente não gostarem da ideia, com certeza vai ter também a opção dos 24 fps. Acho que as pessoas deveriam levar em consideração isso como uma nova experiência. Claro que no momento que o segundo filme estiver para ser lançado - que é quando vocês estarão publicando esta entrevista - vocês já saberão a resposta.

Muito obrigado por virem até aqui.

Muito obrigado por ter convidado.

Vocês conversaram com todas as pessoas com quem queriam falar? Os anões passaram por aqui? Todo mundo deu um pulo para falar com vocês?

Sim, até mais pessoas do que esperávamos. E todo mundo foi muito legal.

Ótimo! Ótimo! É assim que eu gosto. Muito obrigado e vocês são sempre bem-vindos por aqui.

O Hobbit - A Desolação de Smaug estreia em 13 de dezembro.

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