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Homem-Aranha: De Volta ao Lar comprova o valor do Universo Ultimate

Novo filme também aprimora a fórmula do reboot consagrada por O Despertar da Força

06.07.2017, às 16H49.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Nos 15 anos em que durou nos quadrinhos da Marvel Comics, o Universo Ultimate gerou ideias e personagens que acabaram incorporados ao Universo regular e foram aproveitados em outras mídias. No cinema, o exemplo maior é o fato de Nick Fury, desenhado com as feições de Samuel L. Jackson por Bryan Hitch na série dos Supremos (os Vingadores do mundo Ultimate), ter sido interpretado nas telas pelo próprio Jackson - o que hoje torna a versão anterior do ator David Hasselhoff ainda mais pitoresca.

Homem-Aranha: De Volta ao Lar estabelece mais uma vez essa ponte com o Universo Ultimate, não apenas por reaproveitar com o Peter Parker Tom Holland algumas dinâmicas vistas nas HQs de Miles Morales - o melhor amigo/ajudante asiático; o uniforme ganho como uma promoção de carreira - mas principalmente por autorizar de forma bastante evidente uma via de entrada de Miles Morales ao Universo Cinematográfico da Marvel. (Não vamos contar aqui o que acontece no filme, apenas dizer que um personagem central da origem de Morales aparece em De Volta ao Lar.)

De todos os personagens criados no Universo Ultimate que acabaram incorporados aos títulos regulares, de Nick Fury ao Reed Richards do mal, Miles Morales sempre foi o mais popular, a ponto de a Marvel ter matado o Peter Parker Ultimate sem remorsos, levado o garoto portorriquenho pra televisão e em breve para o cinema. Nesse sentido, a parceria entre a Sony e o Marvel Studios está apenas seguindo um fluxo que já vem há anos, na cola da inclusão étnica que hoje é fator importante para agregar demografias mais diversas na receita de filmes e séries.

O que você precisa saber sobre a história de Miles Morales

À parte o easter egg sobre Morales, De Volta ao Lar se diferencia de outros filmes recentes de super-heróis da Marvel por - a julgar pela resposta positiva de crítica - acertar na escolha dos elementos que incorpora do Universo Ultimate. Dá pra dizer, por exemplo, que Quarteto Fantástico usa bem as ideias que pegou de lá (como o fato de Reed Richards ter sido recrutado ainda adolescente pelo governo, o que ajuda o filme a demarcar a amizade dele com Ben Grimm), mas o filme como um todo foi mal recebido.

O Espetacular Homem-Aranha foi buscar nas HQs Ultimate o conceito da aranha geneticamente modificada pela empresa de Norman Osborn e a amarração de conspiração que envolvia os pais de Peter Parker - e o filme terminou rejeitado, entre outros motivos, justamente pela causalidade exagerada que envolvia todos esses personagens. Como o Universo Ultimate está repleto dessas recontações de origens cheias de causa-e-efeito bem sacadinhas, é normal que isso tenha sido reaproveitado no cinema com mais frequência, e um dos méritos de De Volta ao Lar é escapar dessa armadilha (que, no mais, havia dado errado nos dois longas anteriores e vitimado também Homem-Aranha 3).

Muita gente já questiona as liberdades que o novo longa toma em relação ao cânone - não só a ausência de Tio Ben, que reorganiza toda a bússola moral do Aranha, mas também a revisão da dinâmica entre Peter e MJ - mas não dá pra dizer que De Volta ao Lar faz suas escolhas inconsistentemente. Os vários elementos que o longa toma para si do mundo de Miles Morales - um colegial mais diverso, a recusa à grandiloquência de Manhattan, a divisão do segredo do herói com o seu melhor amigo - são pensados para renovar a empatia que temos com o Amigão da Vizinhança, que na fase Andrew Garfield foi marcado, acima de tudo, pela alienação de ser O Escolhido.

De resto, a relação entre Aranha e Homem de Ferro no filme - que revisita de certo modo a relação mentor-aprendiz que Morales, fã dos Vingadores, tem com Steve Rogers no Universo Ultimate - não pode ser reduzida a um oportunismo do mercado. Isso seria subestimar a ideia que Sony e Marvel tiveram, porque ao substituir a já conhecida relação de aprendizado de Peter com Tio Ben por uma relação de idolatria com Tony Stark, os dois estúdios adaptam de forma sutil e insuspeita a fórmula de reboot que deu muito certo em O Despertar da Força: recontar uma história manjada (neste caso, a origem do Aranha) de um viés de fan fiction (Rey/Finn eram "fãs" de Star Wars, o Peter de Tom Holland é antes de tudo um espectador da Marvel), e com isso fazer com que essa história pareça não só respeitosa mas também nova.

Dá até pra dizer que Homem-Aranha: De Volta ao Lar, com as lições aprendidas no Universo Ultimate, aprimora essa fórmula.

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