Quando se trata de Sam Neill, Jeff Goldblum e Laura Dern, os protagonistas do clássico Jurassic Park, o diretor Colin Trevorrow é gente como a gente. “Eu sou fã desses atores desde jovem, então foi um pouco difícil me obrigar a tratá-los não só como um fã, mas também como um cineasta”, conta ele ao Omelete, refletindo sobre a responsabilidade de trazer o “trio de ouro” de volta em Jurassic World: Domínio.
“A trilogia tem muitos personagens interessantes, e nós poderíamos muito bem ter trazido Samuel L. Jackson de volta para acenar com o seu braço decepado para a câmera”, brinca Trevorrow. “Mas ele é Samuel L. Jackson. Se você vai colocar alguém como ele em seu filme, ou alguém como Sam, Laura e Jeff, eles precisam ter uma história”.
Domínio resolve esse “problema” de maneira engenhosa, fazendo com que a Dra. Ellie Sattler (Dern) volte a se envolver com os dinossauros através do seu trabalho de ativismo. Ao encontrar uma praga de gafanhotos geneticamente modificados pelos EUA, ela suspeita da BioSyn, empresa bilionária contratada pelo governo para gerir a crise dos dinos escapados de Isla Nublar. Alistando a ajuda do Dr. Alan Grant (Neill) e encontrando o Dr. Malcolm (Goldblum) na sede da empresa, onde ele serve como uma espécie de fachada pública e “filósofo contratado”, ela busca desvendar as falcatruas do CEO Lewis Dodgson (Campbell Scott).
Laura Dern conta ao Omelete que esse protagonismo de Ellie foi essencial para que ela topasse a sequência. “Foi fascinante pensar em quem Ellie Sattler e Alan Grant seriam depois de todos esses anos. Digamos que ela evoluiu como mulher independente e solteira, enquanto ele… bom, ele está meio que no mesmo lugar em que estava antes, mas cheio de arrependimentos e desejos não resolvidos”, define ela. “A ideia em Domínio era que ela retornaria transformada, e puxaria Alan para esse mundo de ativismo, o que é bem divertido”.
“O poder de Ellie como feminista, como ativista, desde o primeiro filme, foi incorporado à franquia e levado adiante nas continuações, mesmo em um tempo no qual não víamos muitas heroínas como ela no cinema”, continua. “Particularmente por causa da mensagem ambiental inserida nessa trama, eu realmente me sinto grata por ter podido contá-la de forma tão criativa e colaborativa”.
De fato, a história de amor entre Sattler e Grant é parte fundamental de Domínio, que busca dar uma resolução a um dos “será-que-vai-rolar?” mais famosos do cinemão americano. “Não existe herói romântico mais charmoso do que Sam Neill, e a história de amor dos dois é importante para muita gente”, elogia Dern. “Nós conversamos primeiro com Steven [Spielberg], que é muito apegado a esses personagens, e depois com Colin, que queria muito homenagear a história de amor deles e saber o que aconteceria se eles tivessem uma nova chance de ficar juntos”.
Segurando vela?
O terceiro elemento da reunião, é claro, é Jeff Goldblum - e o ator é o primeiro a admitir que sua dinâmica com o casal de protagonistas é um pouco complicada. “Desde o começo [de Jurassic Park], o Dr. Malcolm queria saber se o Dr. Grant e a Dra. Sattler estavam juntos ou não... Ele estava em um clima para aventura, digamos assim”, brinca o ator ao Omelete. “Neste filme, Grant e Sattler retornam com uma dinâmica mais doce entre eles, um reencontro romântico, então Malcolm é meio que um intruso, e a desconfiança de Grant continua lá”.
Goldblum acredita, no entanto, que é tocante ver como os três reacendem sua amizade ao passar mais um dia dramático fugindo de dinossauros juntos. “Eles percebem que precisam se apoiar, e que seriam capazes de realizar atos de coragem uns pelos outros. Há um ótimo momento entre Grant e Malcolm durante uma cena de ação, onde acho que eles finalmente percebem que são amigos. É emocionante”, completa.
O ator também é responsável por muito do alívio cômico do longa (a sua piada sobre “fazer uma promessa a um dinossauro” foi a melhor parte do trailer de Domínio), e conta ao Omelete que o clima colaborativo do set rendeu boas improvisações - especialmente porque, como a primeira grande produção hollywoodiana a retomar filmagens durante a pandemia de covid-19, o novo Jurassic World colocou o seu elenco em isolamento por meses no mesmo hotel, antes mesmo de gravarem sequer uma cena juntos.
“Aos fins de semana, nós ensaiávamos algumas coisas, e ideias surgiam. Então há alguns momentos que nasceram das brincadeiras entre nós”, comenta Goldblum. “Colin nos disse: 'Vocês conhecem esses personagens tão bem quanto qualquer outra pessoa, então se quiserem incluir algo ou sugerir algo, fiquem à vontade'. Ao mesmo tempo, ele tem um gosto impecável, então muitas vezes eu dizia: 'O que você acha disso?'. E ele respondia: 'Ah, isso é muito engraçado, mas não. Não cabe neste filme, Jeff'. Ele tem uma ideia muito clara das coisas, mas é um homem muito gentil”.
Um desses momentos de humor, inclusive, relembra a clássica cena em que o Dr. Malcolm aparece com a camisa aberta em Jurassic Park, transformada em meme nos círculos cinéfilos das redes sociais. Quando perguntado se devemos esperar outro “momento sexy” do seu personagem neste filme, Goldblum ri e dá um gostinho para os fãs.
“Eu não quero estragar o filme para quem ainda não assistiu, mas há um momento em que eu divido a tela com DeWanda Wise, a nossa incrível Kayla Watts”, explica ele. “Estamos no meio de uma cena de ação com os dinossauros, e eu começo a ficar com calor e confortável demais, digamos assim, mas ela me repreende na hora. É meio sutil, mas é um aceno para isso”.
Enfim, juntos
Após meses de espera por causa dos protocolos pandêmicos - além de, é claro, décadas de espera antes do filme acontecer - a reunião do trio de veteranos no set de Jurassic World: Domínio estava fadada a se tornar um momento de pura emoção. “Estávamos no set, e vi Sam Neill colocando o chapéu do Dr. Alan Grant, Jeff Goldblum colocando a jaqueta de couro do Dr. Ian Malcolm, e todos nós entramos em um jipe juntos novamente... Quando olhamos ao nosso redor, alguns membros da equipe estavam chorando, e havia um clima de nostalgia no ar”, conta Dern.
“Me reunir com Laura e Sam foi monumental para mim, porque 30 anos atrás tive uma das melhores experiências da minha vida com eles, em Jurassic Park”, aponta Goldblum. “Fora das gravações, ficávamos conversando sobre tudo o que aconteceu em nossas vidas e carreiras nas últimas décadas - todos nós tivemos filhos desde o primeiro filme, e muitas coisas aconteceram no mundo. Laura e Sam são ótimas pessoas, grandes ativistas, muito envolvidos em questões importantes, e muito inteligentes”.
Comparando as experiências de 1993 e 2022 na franquia Jurassic e ao lado de seus colegas, Dern se deixa filosofar um pouco. “Quando fizemos o primeiro filme, não parecia que estávamos fazendo um blockbuster. Era uma experiência de invenção, de inovação”, comenta ela. “Depois disso, eu observei de longe enquanto essa franquia crescia, e agora tive a oportunidade de voltar a uma personagem que é muito amada por pessoas de várias gerações. Para mim, foi como prestar homenagem ao amor dessas pessoas, ao amor delas pelo cinema”.
Jurassic World: Domínio já está em cartaz nos cinemas brasileiros.