Você pode não gostar, mas sua filha gosta. E muito. É previsível assim que pode se resumir o show de Justin Bieber em São Paulo, terceira apresentação da turnê brasileira que passou pelo Rio de Janeiro e ainda desembarca em Porto Alegre.
Justin Bieber
Bieber cantou em um estádio do Morumbi isolado pela falta de energia elétrica na região, como atração principal do Z Festival. Antes dele, a brasileira Cine e as gringas The Wanted e Cobra Starship se esforçaram na ingrata tarefa de animar o público de "beliebers" que mal entendem inglês. Interação difícil, só restava usar o nome do cantor para arrancar gritos das pessoinhas no estádio.
Com apenas um EP e um disco na breve carreira (sem contar a versão acústica), do alto dos seus 17 anos, o loirinho conquista facilmente. Com um discurso de Don Juan da autoajuda - "sabe, eu não tinha ideia de que as meninas brasileiras eram tão bonitas" e "eu só quero fazer uma de vocês se sentir menos solitária esta noite" - , Bieber ganha o coração de todas ali. Inclusive das mães, algumas mais empolgadas que as suas crias. Genro mais perfeitinho não existe.
Enquanto isso, as meninas gritam e esperneiam quando ele sorri, quando ele acaricia o rosto da fã que ganhou um buquê de flores no palco, quando ele veste a jaqueta, quando ele tira a jaqueta, quando ele bebe água, quando ele faz coração com as mãos. Mesmo que, pra quem olha com frieza, ele não soe sincero em nenhum desses momentos.
Claro, a fórmula é mais velha do que a avó de Bieber, e vem sendo usada pela indústria do pop há gerações. Não se discute a vontade genuína (e tão comum hoje em dia) do menino por fazer música, incentivada pelos vídeos que sua mãe colocava no YouTube, onde foi descoberto. Mas a performance é inevitavelmente triturada pelo gigantismo milionário que o envolveu.
É engraçado notar a quantidade de referências que empacotam Bieber e não são da sua geração. A boa "Love Me", que abriu o show e tem dedo de Bruno Mars na composição, "rouba" o refrão de "Lovefool", do Cardigans. Uma homenagem passa por Michael Jackson e Aerosmith, quando o cantor assume a bateria (e toca bem, melhor que sua performance canhestra ao violão). Ao piano branco, em "Down to Earth", impossível não imaginá-lo como uma versão mirim de Elton John. Elvis Presley também dá as caras em alguns movimentos de dança.
Mas é em Jackson que o guri se espelha mais. A equação é óbvia, e dá conta dos dois grandes pilares do pop moderno. Enquanto Lady Gaga se esforça para (e até consegue) ser a nova Madonna dos sub-20, Bieber parece aficcionado por ocupar o espaço vazio que poderia ter sido de Justin Timberlake, como o novo Michael Jackson.
Feito uma cruza de Macaulay Culkin com o falecido cantor, ele dança e se comporta como se o pequeno do Jackson Five já tivesse os trejeitos da sua versão adulta. Prato cheio para Freud, que teorizaria bastante sobre a sexualização precoce do menino que não tira a mão da sua pélvis.
Mimetizando o bom showman que pode vir a ser, Bieber dança bem, com a facilidade de uma criança bem treinada. E nessas horas lança mão do playback, para não perder o fôlego. E nem há a preocupação do disfarce (para que, afinal?). Quando resolve cantar ao vivo, nas baladinhas em que não dança tanto (como "U Smile"), sua voz soa mais alta e bem menos suavizada pelos equalizadores de estúdio que aparecem em "Somebody To Love" e "Eenie Meenie".
Mas, como se disse, nada de imprevisível. Loirinho, simpático e bom moço na medida (escorregadas são essenciais, atualmente), Justin Bieber é um ótimo produto. Tem boas músicas no pacote (o hit máximo "Baby", que fez o bis sob chuva de papel picado nas cores da bandeira canadense, é um exemplo) e é cercado de gente que sabe o que está fazendo.
No fundo, ele é apenas mais um em uma longa lista de genros perfeitinhos. Falar mal é por pura rabugice de gente que não está na idade alvo do produto. Elas choram em "That Should Be Me". E você, que chora com "Let It Be"? Cada um na sua.