[Atenção: como o próprio título sugere, o texto a seguir contém spoilers da Parte 4 de La Casa de Papel. Logo, se você ainda não assistiu, guarde esse texto para mais tarde]
Apesar da terceira temporada ter deixado claro o risco no seu último episódio, ninguém imaginou que La Casa de Papel realmente teria coragem de matar Nairóbi (Alba Flores), muito menos com tamanha crueldade. Não apenas porque os capítulos iniciais da Parte 4 fazem com que os fãs voltem a acreditar na sua sobrevivência, mas principalmente pela importância da personagem.
Desde a primeira temporada, a ladra foi um dos elementos fundamentais para o sucesso dos planos do Professor (Álvaro Morte). Enquanto Berlim (Pedro Alonso) tinha seus momentos megalomaníacos, Tóquio (Úrsula Corberó) tomava decisões impulsivas e questionáveis e Denver (Jaime Lorente) começava um romance no mínimo complicado com uma refém, Nairóbi era a voz sensata do grupo. Ela impediu que o líder executasse seus colegas, ajudou a controlar os ânimos da amiga e fez uma cirurgia de remoção de bala na perna da pretendente do ladrão. Tudo isso enquanto ainda coordenava a operação de impressão de euros.
Quer dizer, Nairóbi foi por muito tempo a âncora que manteve o bando unido. Não à toa, depois de levar um tiro e ficar afastada em recuperação, a situação saiu completamente do controle. Sem a liderança dela, não houve ninguém capaz de apaziguar o conflito entre Tóquio e Palermo (Rodrigo de La Serna) e, consequentemente, impedir que Gandía (José Manuel Poga) iniciasse sua caçada. Agora, com o impacto emocional da sua morte, sobretudo em figuras como Bogotá (Hovik Keuchkerian) e Helsinki (Darko Perić), e o destino incerto do Professor, a tendência é que o cenário se complique ainda mais.
É verdade que Lisboa (Itziar Ituño), estando agora dentro do Banco da Espanha, pode em alguma medida ocupar esse posto de voz da razão e amaciar um pouco os próximos percalços do grupo. No entanto, falta à antiga inspetora uma característica que sobra à falsificadora: carisma. E esse é o maior baque que La Casa de Papel sofre com seu assassinato.
Nairóbi trazia humor para as cenas com seu jeito descontraído e livre, mas também sempre contribuía com aquelas pílulas de sabedoria sobre a vida que só ela sabia dar. Por isso, não é de se estranhar que ela tenha protagonizado vários dos momentos mais icônicos da série - e “que comece o matriarcado” é apenas um deles. Dentre os personagens hoje envolvidos no assalto, nenhum deles sozinho poderia exercer uma função semelhante. Denver e Rio (Miguel Herrán), recuperados dos seus respectivos traumas, talvez possam voltar a ocupar a vaga de alívio cômico, enquanto Estocolmo (Esther Acebo) poderia virar a nova conselheira do grupo. Mas a questão é: eles teriam o mesmo apelo encantador e forte no público quanto a personagem de Alba Flores? Dificilmente.
Lidar com a saída de um membro carismático do grupo, porém, não é um desafio inédito ao seriado. A morte de Berlim ao final da Parte 2 foi sabiamente contornada na temporada seguinte com flashbacks e a justificativa de que ele era a mente por trás do novo assalto. Logo, Nairóbi poderia voltar a aparecer nas cenas de preparação para o roubo em um eventual quinto ano. Infelizmente, ao menos até agora, não há nada que possa servir de desculpa para dar tanto destaque à personagem, como aconteceu com Berlim nos últimos anos. Ela deve ficar como um fantasma, um incentivo para que todos sigam em frente, nada mais.
Portanto, resta aos fãs apenas torcer para que a decisão de matá-la, por mais louvável e corajosa que seja em termos de narrativa, não prejudique o andamento de La Casa de Papel nos seus próximos episódios. Porque saudades está claro que ela vai deixar.