Lançamentos em Quadrinhos é uma coluna do Omelete em que comentamos os principais lançamentos das editoras de quadrinhos do Brasil nas bancas e livrarias.
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20th CENTURYS BOYS 1 / MONSTER 1
Podiam ter soltado mais fogos de artifício (talvez da própria editora) quando a Panini anunciou que ia intercalar mês a mês as duas obras mais conhecidas do japonês Naoki Urasawa, mangaká que faz sucesso mais que merecido em todo o mundo. Monster e 20th Century Boys talvez sejam as melhores opções que se encontra nas bancas brasileiras. Seja contando a história do médico que tenta remediar a operação em que salvou um monstro, ou do grupo de trintões que querem impedir um antigo colega de executar o plano de dominação mundial que inventaram na infância (Boys) - tramas muito originais, aliás. Urasawa é um mestre da narrativa simples e efetiva que deveria ser referência para quem quer contar HQs. Já falei aqui de Monster e estou acompanhando as edições dos EUA de Boys (onde a série só termina no ano que vem). Quem não conhece ritmo de mangá pode ficar um pouco indignado com o desenvolver da história - as séries têm entre 18 e 24 volumes -, mas sabendo aproveitar a intercalação (quem sabe ler um capítulo por dia?), você tem entretenimento e suspense no nível de um Breaking Bad, Walking Dead ou outro bom seriado dramático da TV. Suspense como poucos sabem fazer.
Naoki Urasawa
200 e poucas páginas, 13,5 x 20 cm, p&b (cada)
Panini
R$ 10,90 (cada)
SE A VIDA FOSSE COMO A INTERNET
Fazer piada com os exageros dos viciados em internet e com as podreiras que circulam pela rede é algo que já faz tão parte da própria web que virou estática. Pablo Carranza, porém, consegue destacar-se em meio à estática. Se a vida fosse como a internet reúne tirinhas, histórias mais longas e pequenos cartuns em torno dos "internautas", após o sucesso do autor na própria web com suas tiras sobre a vida de free-lancer. Carranza apela para o humor mais previsível em algumas das histórias, mas é excepcional quando toma o rumo absurdo - sendo o ápice a HQ em que Clarice Lispector levanta-se do caixão para acabar com a disseminação de frases atribuídas a si no Facebook. Até o projeto gráfico do livro faz piada com os mesmos temas, com direito a senhas de acesso, "digite as palavras que você vê ao lado" e tela azul. É essa imaginação, justamente, que faz o livro valer a pena enquanto livro e destoar ainda mais - positivamente - dos memes engraçadinhos que você acabou de ver no facebook.
Pablo Carranza
84 páginas, 17 x 26 cm, p&b e colorido
Beleléu
R$ 29,90 (compre aqui)
O ATENEU
Também na categoria "faltaram fogos de artifício", a adaptação que Marcello Quintanilha fez do livro, digamos, de vestibular é simplesmente um dos quadrinhos mais bonitos que saíram no Brasil este ano. A escolha do estilo gráfico é o mais impactante: um desenho semi-realista, quase fotográfico, cujo traço quase desaparece na pintura a guache - que fica numa palheta reduzida para dar identidade ainda mais forte à obra. Quintanilha trabalha ao estilo europeu: quatro faixas de quadros, bastante conteúdo a cada página, e ainda mantém o texto do original. Porém, como destaca um posfácio, fez com maestria a separação da parte visível da narrativa (que fica, afinal, somente nas imagens) da parte das descrições e narrações internas do protagonista. Completando o pacote, diante dos preços que alguns gibis coloridos têm chegado às livrarias e da qualidade gráfica de O Ateneu, é também uma das obras mais baratas que se vê hoje em dia.
Marcello Quintanilha (a partir da obra de Raul Pompeia)
96 páginas, 19 x 26 cm, colorido
Ática
R$ 28,50
PROMESSAS DE AMOR A DESCONHECIDOS ENQUANTO ESPERO O FIM DO MUNDO 3: POTLATCH
Por falar em HQs bonitas, Pedro Franz chegou a outro nível com o fechamento de sua trilogia do nome comprido. As belas cores do álbum misturam-se a bons experimentos de narrativa, que Franz faz com habilidade: há, por exemplo, páginas sem requadro e atulhadas de elementos em que a ordem de leitura ainda é clara. E há também páginas em que a narrativa é confusa, mas que logo se entende ser intencional e refletindo a confusão da própria cena. Promessas de Amor cresceu junto com o próprio autor: HQ reacionária bela mas complicada no primeiro volume, o ápice do experimentalismo no segundo (a HQ vinha sem grampos e você determinava a ordem de leitura), ela chega ao final equilibrando clareza com experimentalismo e raiva incontida com um toque de amor, bem na cena final. O mais importante é que Promessas é apenas o primeiro trabalho do autor. Se ela já teve toda esta evolução aqui, imagine os próximos.
Pedro Franz
64 páginas, 23x22 cm, colorido
independente
R$ 25 (compre aqui)
THE NAO OF BROWN
Glyn Dillon, o escritor e desenhista de The Nao of Brown, teve carreira de algum destaque nos quadrinhos nos anos 90 - algumas publicações na Inglaterra e uma e outra colaboração com a Vertigo. Caiu fora para trabalhar com storyboard para cinema e outro emprego ilustre: fazer parte da equipe de ilustração dos Gorillaz, junto a Jamie Hewlett. Nao é seu trabalho de retorno, após quatro anos de produção do álbum sobre uma menina com transtorno obsessivo-compulsivo, cuja doença se manifesta principalmente em imaginar como poderia assassinar as pessoas ao seu redor - e que ela tenta controlar com meditação. Lançado há pouco nos EUA e Inglaterra, o álbum já está sendo considerado uma das surpresas do ano devido à arte e o roteiro com estética de filme indie, além de comparações a Moebius (que não fecha muito bem, apesar de Dillon ser excelente ilustrador - veja o preview) e mangás. É uma história intimista contada de forma grandiosa, cujo grande valor está na construção delicada dos personagens - o que faz lembrar ainda mais cinema indie. Torça para que saia por aqui.
Glyn Dillon
208 páginas, 19 x 26 cm, colorido
SelfMadeHero
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Magnetar e Máquina de Goldberg
Batman: O Filho do Demônio e Monstros.