Um conselho necessário para quem está animado à espera de Cavaleiro da Lua: ajuste suas expectativas. Não que a nova série do Disney+ decepcione - longe disso -, mas ela não entrega o thriller psicológico prometido pelas inúmeras prévias lançadas pelo Marvel Studios nas últimas semanas. Ao invés disso, Oscar Isaac e companhia levam o público para uma aventura arqueológica e com tons de misticismo que lembra muito Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, seja por sua trama centrada em lendas e deidades antigas ou por sua ação física e divertida.
Sim, ao apresentar seus elementos fantásticos como deuses egípcios, chacais e seitas hipnóticas a Steven, uma das duas personalidades do personagem-título vivido por Isaac, a minissérie até ensaia momentos de suspense e terror, mas nada que realmente escape da proposta de entretenimento universal do MCU. Ao longo dos quatro episódios já liberados para a mídia, raros são os momentos em que o medo é o sentimento predominante. O que move Cavaleiro da Lua, na verdade, é a curiosidade - pelo passado de Steven/Marc/Cavaleiro da Lua, pelo mundo que o cerca e pelos acontecimentos bizarros em que se vê repentinamente inserido.
Uma das principais forças dos primeiros episódios de Cavaleiro da Lua está em sua direção. Mohamed Diab, Justin Benson e Aaron Moorhead trabalham suas cenas de forma dinâmica, transformando sequências que poderiam facilmente se tornar monótonas em trocas de diálogo dinâmicas e inteligentes. Diferente de alguns blockbusters - incluindo o recente Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa -, o trio não deixa que a ação predominantemente noturna da produção interfira na visibilidade. Com personagens em tela sendo facilmente diferenciáveis, a série se distancia dos borrões computadorizados que dominam produções ricas em efeitos visuais. Aqui, cada movimento, por mais rápido que seja, pode ser visto de maneira clara, algo que tem se tornado cada vez menos comum na franquia comandada por Kevin Feige.
Infelizmente, é impossível ignorar os problemas dos efeitos visuais. Seja na transformação de Marc/Steven em Cavaleiro da Lua ou na criação das feras e inimigos que ele enfrenta, o CGI da produção é uma verdadeira bagunça, sendo de longe o mais fraco das produções do Marvel Studios para o Disney+ e um dos piores a aparecer no MCU. Por mais que se movimentem de forma fluida, os modelos digitais usados na minissérie têm um aspecto demasiadamente plástico e artificial. Mesmo que não anule os bons trabalhos de elenco e cineastas, os efeitos visuais quebram quase completamente a imersão, de modo que é quase impossível acreditar que o estúdio responsável pela série é o mesmo que entregou a incrível batalha no terceiro ato de Vingadores: Ultimato e não as aberrações vistas nas temporadas mais recentes de The Flash.
Elenco carismático e bem trabalhado
O que carrega de fato Cavaleiro da Lua é seu ator principal. Vivendo (por enquanto) dois personagens opostos, Oscar Isaac se mostra um verdadeiro talento cômico, trabalhando com humor um físico que ainda não tinha mostrado em grandes produções de sua carreira. Quando incorpora Steven, ele consegue, com poucas falas, detalhar cada uma de suas inseguranças, além de criar maneirismos que o diferenciam do confiante e sigiloso Marc. A dinâmica entre os dois personagens, inclusive, proporciona os momentos mais engraçados e alguns dos mais dramáticos da minissérie até aqui.
Ethan Hawke também está em ótima forma como Arthur Harrow. Se Isaac diverte e comanda a aventura indiana-jonesca, o astro de Antes da Meia-Noite aparece ameaçador e imprevisível, causando medo sempre que se aproxima de forma ameaçadora de outros personagens, sejam eles ou não contrários à sua seita. Mesmo que não seja o suspense esperado, Cavaleiro da Lua usa Hawke de forma incrível, tornando-o uma âncora para todo o medo e a tensão que permeiam a trama mística da minissérie.
Embora passe longe do suspense psicológico à la Fragmentado que fingiu ser em seus trailers, Cavaleiro da Lua ainda consegue conquistar, até com certa facilidade, com sua atmosfera aventuresca e elenco carismático. Seu CGI problemático com certeza levantará sobrancelhas, mas, pelo menos, ele faz parte de uma produção agradável e que resgata a emoção de quando a “fórmula Marvel” ainda era sinônimo de novidade.