[Spoilers de Falcão e o Soldado Invernal abaixo]
Não é segredo para ninguém que a Marvel nunca acertou muito no desenvolvimento de suas personagens femininas. Prova disso é que a Viúva Negra, parte importante dos Vingadores,ganhou mais camadas apenas em Ultimato e o filme solo da personagem só foi feito depois de muito apelo dos fãs - e ainda não foi lançado. A empresa teve alguns pontos altos nessa jornada, como em Capitã Marvel e, mais recentemente, em WandaVision, que acertou bastante na construção de Wanda, mostrando suas qualidades e defeitos. Porém, logo quando imaginamos que o estúdio ia realmente evoluir nessa questão, surge um “arco” como o de Sharon Carter em Falcão e o Soldado Invernal.
Presente desde os primeiros materiais de divulgação da série, a personagem era um dos retornos mais aguardados do MCU, já que não aparecia em filmes desde Capitão América: Guerra Civil (2016) e pouco se sabia sobre o que tinha acontecido à ela. Em suas primeiras aparições no seriado, Sharon mostrou que precisou começar uma nova vida em Madripoor, já que o governo dos EUA ainda estava procurando por ela. E foi isso. Embora a série não se chame Falcão, Sharon e o Soldado Invernal, era esperado que a produção desenvolvesse mais a personagem em paralelo, até para justificar sua presença na trama.
Só que não foi isso o que aconteceu. A personagem de Emily VanCamp teve aparições bem pontuais nos capítulos - vale dizer, várias vezes apenas para ajudar Sam e Bucky em suas jornadas. Isso por si só já seria um problema narrativo (ter uma personagem importante utilizada apenas como escada para outras narrativas), mas tudo ficou ainda pior com o encerramento da primeira temporada, que revela Sharon como a Mercadora do Poder, que faz um jogo duplo e agora vai utilizar o perdão que recebeu dos EUA para ter acesso a projetos e armas do governo.
O problema em si não está em transformar Sharon Carter em uma vilã. Aliás, a cena final da personagem no seriado é bem badass. A questão é fazer isso sem um desenvolvimento apropriado, especialmente de uma personagem que não aparecia há muito tempo dentro desse universo. Embora tenha apenas seis episódios, Falcão e o Soldado Invernal teve várias “barrigas” entre os capítulos, com cenas que pouco levaram a história para frente. Será que parte desse tempo não poderia ter sido destinado para a história de Sharon, mostrando o quanto ela mudou durante o exílio e, assim como outros nomes do MCU, não acredita mais no governo dos EUA? Se tivesse optado por seguir esse caminho, a série com certeza teria criado um impacto ainda maior com a revelação final e deixaria os fãs ainda mais investidos em saber qual será o próximo passo de Sharon, seja no cinema ou na TV.
Se tratando da Marvel, também não dá para descartar a teoria de que esta Sharon Carter seja, na verdade, uma Skrull querendo se infiltrar no governo americano, o que justificaria parte de suas ações e seria um gancho para Invasão Secreta. A trama funciona, mas ainda assim ganharia mais força com mais tempo de tela da personagem, que poderia até dar mais indícios de que não era a Sharon de verdade, gerando uma dúvida para ser respondida pelo estúdio no futuro.
A escolha de tornar Sharon uma vilã sem mostrar o seu desenvolvimento para isso só demonstra como a Marvel ainda erra ao criar personagens femininas e escolhe o caminho fácil de dar à elas tramas rasas. E antes que seja questionado que isso também acontece com os personagens masculinos, vale lembrar que o próprio John Walker ganha quase uma “redenção” no finale do seriado, em um caminho construído ao longo de episódios que mostram seus traumas com a guerra e como ele era um bom amigo para Lemar e sua família. Assim, mesmo discordando de suas ações, se torna muito mais fácil “entender” as ações de Walker do que ter a mesma relação com Sharon. Agora resta esperar que, qualquer que seja o futuro da Agente Carter no MCU, ela ganhe o tempo de tela que merece e que seu lado da história também seja mostrado.
Todos os episódios de Falcão e o Soldado Invernal estão disponíveis no Disney+.