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Sem grandes revelações, Invasão Secreta deixa poucas pistas sobre futuro do MCU

Série encerra sua temporada sem colocar um ponto final na guerra entre humanos e Skrulls, e conflito pode escalar nas próximas produções

Omelete
6 min de leitura
26.07.2023, às 10H54.
Atualizada em 27.07.2023, ÀS 17H30

[Atenção: artigo contém spoilers de “Lar”, sexto e último episódio de Invasão Secreta]

Invasão Secreta nunca escondeu que o escopo do conflito que pretendia retratar era bem menor do que os quadrinhos que a inspiraram. Na verdade, desde a estreia o contraste entre as duas obras era bastante aparente. Enquanto o evento assinado por Brian Michael Bendis continha naves desembarcando em diferentes lugares do mundo, batalhas entre supers de todas as patentes, desde os líderes natos e os novatos Jovens Vingadores a vilões, a adaptação para a TV era bem mais contida. Como o próprio Nick Fury (Samuel L. Jackson) declarou em determinado momento, ele era a única barreira para a dominação Skrull. Logo, ao longo da temporada não houve grandes demonstrações de poderes ou a predominância de um clima épico. Na realidade, mais pertinente que recorrer aos quadrinhos seria comparar a série às histórias de espionagem — talvez, no máximo, colocá-la na mesma seara de um Capitão América: Soldado Invernal do que qualquer filme dos Vingadores, como bem poderia ser.

Mesmo assim, por se tratar de uma série do MCU, a expectativa era que o último episódio fizesse um pouco mais do que encerrar o arco iniciado com a volta do antigo diretor da S.H.I.E.L.D. à Terra. Considerando o padrão estabelecido pelo universo compartilhado desde o seu início, esperava-se que Invasão Secreta estabelecesse pontes significativas com os próximos lançamentos — se não durante o finale, nas também tradicionais cenas pós-créditos. Contudo, o seriado mal colocou um ponto final no conflito entre humanos e alienígenas em “Lar”. No fundo, se formos honestos, o episódio deixou a situação tão mal resolvida que é até difícil prever como a Marvel vai justificar os desdobramentos dos títulos seguintes.

Talvez o exemplo mais claro para entender a lacuna que fica entre a série e o futuro do MCU seja o desfecho do seu protagonista. Ainda que tenha impedido o avanço do plano de Gravik (Kingsley Ben-Adir) com a ajuda de G’iah (Emilia Clarke) e Sonya (Olivia Colman), Fury foi incapaz de proteger o mundo de uma guerra. Tão logo o presidente estadunidense Ritson (Dermot Mulroney) se recupera minimamente do ataque, ele decide revelar em rede nacional que os Skrulls andam entre humanos e que, sendo responsáveis por sua tentativa de assassinato, está disposto a matá-los em nome da segurança mundial. Não é preciso mais do que dois neurônios para prever o caos que se instaurou na sequência, com execuções públicas e muitas vezes equivocadas.

Ou seja, a situação não só não foi resolvida, como agora a Terra foi dominada por um pânico e uma escalada de violência até então inédita entre civis. Diante disso, o que Fury faz? Reúne os Vingadores para conter os ânimos? Chama uma coletiva de imprensa para expor os equívocos do presidente? Não, ele volta para o espaço para tentar firmar a paz com os Krees. Quer dizer, enquanto o mundo se mata, com vítimas dos dois lados, ele decide fazer o que protelou por 30 anos — uma negociação que pode durar tanto quanto o conflito armado entre os povos, mesmo que de repente, nos últimos minutos, revelem que Varra (Charlayne Woodard) seja uma ótima diplomata.

Este final deixa, portanto, um gosto amargo, porque a verdade é que ele frisa como Invasão Secreta feriu a figura de Fury: ele foi de líder turrão, inteligente e confiável a um hipócrita despreparado em questão de seis episódios. Agora, prestes a retornar em As Marvels, resgatando a faceta mais leve do personagem — aparente, sobretudo na relação divertida com Carol Danvers (Brie Larson) desde Capitã Marvel —, é difícil imaginar que o fandom vá ser tão receptivo a ele como antes.

Porém, talvez mais grave do que isso, a Casa das Ideias tem um problema grave nas mãos no nível de trama. Pelos trailers, sabe-se que Carol Danvers, Kamala Khan (Iman Vellani) e Monica Rambeau (Teyonah Parris) estarão juntas na Terra em certo momento do filme — e, vamos lembrar, Terra esta dominada pelo medo, paranoia e insegurança, já que justiceiros tentam eliminar Skrulls por conta própria. Como elas passarão a olhar Fury sabendo que ele tem responsabilidade nisso? Como a história vai justificar que o foco delas deva estar no espaço, enfrentando a revolucionária Kree Dar-Benn (Zawe Ashton), em vez de conter a autodestruição do seu planeta natal?

Não vai demorar muito para que o Marvel Studios dê alguma resposta — satisfatória ou não — para essas indagações, já que As Marvels chega aos cinemas em novembro. Mas o final de Invasão Secreta deixou ainda outras pontas soltas importantes que, com a greve dos atores e roteiristas em curso, sabe-se lá quando serão sanadas.

Por exemplo, ainda que seja um alívio assistir ao resgate do Máquina de Combate (Don Cheadle) no complexo Skrull, é preocupante ver o herói em trajes hospitalares, fragilizado, claramente sofrendo mais do que o Agente Ross (Martin Freeman) e todas as outras vítimas da invasão alienígena. Sabendo que ele será o protagonista de Armor Wars, longa que dará continuidade à história da série, a apreensão não se limita ao bem-estar do personagem. Trata-se da dúvida de como a Casa das Ideias vai explicar como e quando sua substituição aconteceu — há espaço para especular que seja desde Capitão América: Guerra Civil, o que significaria que esteve ausente nos grandes momentos do MCU e, portanto, teria muito o que entender —, qual será seu papel no atual conflito, e ainda combinar tudo isso com um clima de celebração do legado do Homem de Ferro (Robert Downey Jr.), como se promete desde a última D23.

Não se pode esquecer também que, embora Gravik tenha morrido, G’iah não só sobrevive, como agora tem o poder de uma quantidade considerável de Vingadores. Com a Terra oficialmente em guerra contra os Skrulls, não é tão absurdo duvidar da sua fidelidade no acordo estabelecido com Sonya. Ela poderia, eventualmente, se transformar em uma vilã — até porque ela não seria a primeira mocinha a fazê-lo no MCU. Mas até os objetivos da chefona da inteligência britânica com essa parceria estão longe de claros.

Em resumo, Invasão Secreta prometeu reviravoltas e revelações e, no final, entregou muito pouco — tanto enquanto uma história contida em si mesma, quanto informações sobre o que a Casa das Ideias pretende construir. O futuro do universo compartilhado já era incerto antes, com as acusações contra o ator Jonathan Majors, o intérprete da grande ameaça da vez, e as greves. Agora, é nítido que ele é realmente um mistério: não porque prometa algo que valha a pena aguardar, mas porque o esgotamento da chamada fórmula Marvel é incontestável.

A temporada completa de Invasão Secreta já está disponível no Disney+. Abaixo, confira nossa entrevista com o elenco:

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