Na semana passada, o 3º episódio de Loki se certificou de que nós, como público, nos importássemos de verdade com os seus protagonistas. O mergulho em profundidade nas subjetividades das nossas duas Variantes de Loki (Tom Hiddleston e Sophia Di Martino) colhe frutos neste 4º capítulo, mais focado na ação e nas revelações de trama - mas que também mostra o quanto a série da Marvel é bem urdida em uma dimensão temática.
"O Evento Nexus" começa nos mostrando uma jovem Sylvie sendo retirada de Asgard pela então agente da AVT Ravonna Renslayer (Gugu Mbatha-Raw), mas conseguindo fugir da sede da organização. Já nos dias atuais, Mobius (Owen Wilson) e companhia conseguem encontrar os dois Lokis no apocalipse de Lamentis por causa de uma insuspeita conexão afetiva entre eles.
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A dupla é capturada e interrogada, mas sua insistência em contar a verdade sobre AVT (que todos os agentes são Variantes sequestradas da linha do tempo) logo começa a criar uma rebelião interna na organização. O roteirista do episódio, Eric Martin, não perde de vista o conflito central da trama para os agentes: eles são, essencialmente, indivíduos experimentando um luto inexplicável, sentindo falta de uma vida inteira que eles nem sabiam que existia.
O luto, inclusive, é tema caríssimo ao MCU nos últimos tempos. Em WandaVision, a protagonista Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen) também era uma mulher lidando com a perda de uma vida inteira - ou, pelo menos, das pessoas e coisas que davam sentido a ela. Em Homem-Aranha: Longe de Casa, Peter Parker (Tom Holland) é um jovem lidando com a perda das figuras que davam sentido e apoio, literal e metafórico, para a sua jornada como super-herói.
No quarto episódio, Loki se revela mais uma variação esperta deste sentimento. Enquanto resolve a própria crise de identidade do seu protagonista, tentando elaborar o que o torna um vilão ou um herói, qual é o seu destino dentro de uma narrativa tradicional ("Você acha que o que faz de um Loki um Loki é que estamos destinados a perder?", pergunta Sylvie no começo do capítulo), a série também achou tempo para criar todo um universo orientado, narrativamente, pelo sentimento de perda, de falta... de luto.
Mesmo com esses temas densos, "O Evento Nexus" também dá passos enormes no plot de Loki - um alívio, sem dúvida, para quem reclamou da falta de desenvolvimento de trama na semana passada. Aqui, por exemplo, a charada dos Guardiões do Tempo é resolvida - em parte, claro - quando os visitamos e descobrimos que eles são na verdade androides controlados por sabe-se lá quem por trás dos panos (a teoria predominante é que seja Kang, o Conquistador).
Também aqui descobrimos que Variantes "podadas" pela AVT não morrem, mas são transportadas para um local misterioso onde o nosso protagonista é deixado na cena pós-créditos, descobrindo novas versões de si mesmo (e talvez até do irmão, Thor!). Já Sylvie termina o capítulo com Renslayer como sua refém, garantindo que vai obrigá-la a contar tudo sobre a AVT - tudo isso após uma hábil cena de ação coordenada com estilo pela diretora Kate Herron.
Os dois episódios finais da série da Marvel sem dúvida terão que desenrolar estes fios. A esperança é que Loki continue demonstrando a confiança em si mesmo que a permitiu ser, até agora, tão surpreendentemente tocante quanto é previsivelmente divertida.