Você já deve ter notado o nome de Victoria Alonso nos créditos dos filmes e séries do Marvel Studios. Afinal de contas, a executiva estava na companhia desde de 2006, primeiro como chefe de efeitos visuais e pós-produção, e depois como produtora-executiva de todas as produções da Casa das Ideias desde Os Vingadores, de 2012. Quer dizer, ela foi parte essencial na consolidação do universo cinematográfico como o conhecemos hoje. Por isso, a notícia da sua demissão, depois de 17 anos na empresa, pegou todos de surpresa. E, conforme mais informações sobre o caso chegam a público, percebe-se que a cisão realmente não foi nada amigável: enquanto um lado alega quebra de contrato, Alonso diz que foi silenciada.
Ao menos três fontes da Variety confirmaram que a saída da executiva se deu por causa do seu envolvimento com o longa Argentina, 1985, indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional. Elas dizem que o contrato de Alonso desde 2018 proibia que ela trabalhasse em projetos de qualquer estúdio rival da Disney, empresa-mãe do Marvel Studios. No caso, o filme estrelado por Ricardo Darín é uma coprodução do Amazon Studios e, portanto, seu envolvimento implicaria numa quebra deste acordo.
Mesmo sem que “pedisse a benção” da empresa para trabalhar em Argentina, 1985, a Marvel inicialmente teria dado o benefício da dúvida para Alonso por seu tempo de casa. A gota d’água, porém, teria sido quando ela começou a participar da campanha do filme para conseguir uma indicação ao prêmio mais famoso do cinema americano.
As fontes dizem que Alonso foi lembrada repetidas vezes de que, fazendo isso, estaria violando seu contrato, mas ela teria ignorado os avisos. E, para piorar o clima, a escolha da executiva de acompanhar o diretor argentino Santiago Mitre no press line da cerimônia do Oscar em vez de estar com os demais membros da comitiva do também indicado Pantera Negra: Wakanda Para Sempre teria pegado muito mal.
Oito dias depois de desfilar no tapete vermelho, Alonso foi demitida, uma decisão que teria envolvido os departamentos jurídico e de recursos humanos e vários executivos da Disney, inclusive o co-presidente Alan Bergman. O chefão do Marvel Studios Kevin Feige, porém, teria ficado de fora, por se sentir diante de uma "situação impossível" — afinal de contas, ele e Alonso trabalham juntos durante anos.
Entretanto, segundo a advogado da executiva, Patty Glaser, essa justificativa seria “absolutamente ridícula”. Isso porque a Disney não só a teria liberado para trabalhar no projeto — Alonso nasceu na Argentina e, portanto, contar essa história era muito importante para ela —, como a decisão seria motivada por seu posicionamento crítico à empresa; leia o comunicado:
"A ideia de que Victoria foi demitida por algumas entrevistas relacionadas ao projeto com valor pessoal sobre direitos humanos e democracia, que foi indicado ao Oscar e o qual a Disney aprovou, é absolutamente ridículo. Victoria, uma latina gay que teve a coragem de criticar a Disney, foi silenciada. E, então, demitida quando ela se recusou a fazer uma coisa que julgou ser repreensível. A Disney e a Marvel tomaram uma decisão infeliz que terá consequências sérias. Há muito mais nessa história, e Victoria revelará isso em breve".
Aqui, vale lembrar que, durante o GLAAD Awards, Alonso criticou publicamente o então CEO da Disney Bob Chapek por sua reação ao projeto de lei homofóbico “Don’t Say Gay”. Na época, foi revelado que o estúdio apoiou financeiramente políticos favoráveis ao PL, notícia que foi recebida com protestos de funcionários de todas as áreas da Casa do Mickey. Trabalhadores da Pixar, por exemplo, escreveram uma carta aberta, alegando que a Disney censuraria cenas LGBTQIA+ nos seus filmes. Embora não tenha sido a única a fazer comentários dessa natureza, uma fonte da Variety diz que isso motivou a Marvel a não deixá-la mais promover filmes e séries da Casa das Ideias.
Não se pode perder de vista também outra polêmica que tem permeado os lançamentos da Marvel: as denúncias de artistas visuais sobre práticas abusivas da empresa. Isso porque, nos últimos dois anos, a produção de conteúdo do Marvel Studios foi acelerada consideravelmente: a empresa que antes lançava três filmes em um ano, lançou 17 títulos em 23 meses, ou seja, o volume de estreias mais que dobrou. Embora essa decisão não tenha partido de Alonso, ela era a responsável por supervisionar o departamento de efeitos visuais e, por isso, muito dos problemas do estúdio respingaram também nela. Alguns artistas a apontaram como parte do problema, dizendo que ela colocava em uma lista proibida "quem a irritasse de alguma maneira".
Um veterano na área disse achar isso improvável. Outros três atores em ascensão concordaram que Alonso seria a única força de apoio no set, visão corroborada por um antigo executivo da Disney que, prezando por uma anonimidade, afirmou: "ela era a epítome do profissionalismo e sabia das coisas".
Em resumo, a história está longe de esclarecida. Fique de olho no Omelete para ficar por dentro dos desdobramentos.
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