O designer de produção Paul Lasaine garante: quando os fãs da Marvel chegarem ao último episódio de What If…?, vão “perder a cabeça”. “É muito intenso”, comentou ele em entrevista ao Omelete. “Mas todo episódio é interessante de sua própria forma. Essa é uma das coisas mais divertidas do meu trabalho na série - ao contrário da maior parte das animações, e da TV como um todo, é uma antologia”.
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A produção, que lança novos episódios todas as quartas-feiras pelo Disney+, imagina realidades em que uma única decisão ou incidente criaram um mundo totalmente diferente do que conhecemos no MCU. Os capítulos (ao menos até agora) são independentes, conectados apenas pela narração do Vigia (voz de Jeffrey Wright), o que significa que a equipe que criou o visual da série precisou trabalhar muito mais do que o normal.
“Não estamos repetindo cenários, voltando a esse ou aquele ambiente que já desenhamos, o que é uma forma muito eficiente de economizar tempo e dinheiro em outras produções de animação. Isso significa mais trabalho para nós, mas também tornou tudo mais divertido e criativo”, explicou Lasaine.
As inspirações
Tanto o designer de produção quanto a dupla de editores da série, formada pelos irmãos Joel Fisher e Graham Fisher, afirmaram que o Marvel Studios acompanhou de perto, em todos os detalhes, o desenvolvimento de What If…?. De fato, foi o estúdio que trouxe a principal inspiração para o visual dos episódios: os trabalhos do ilustrador J.C. Leyendecker, famoso pelas capas do Saturday Evening Post no início do século XX.
“Eu sempre fui fã do trabalho de Leyendecker, e muitos de meus colegas também são. Fazer uma animação com o estilo visual dele sempre foi como o Santo Graal da nossa área, e essa foi a primeira coisa que a Marvel propôs quando conversamos sobre o projeto. Eu respondi: ‘Contem comigo se quiserem, mas boa sorte com isso, porque não é fácil! Especialmente com uma agenda e um orçamento de televisão. Eu posso tentar’”, disse Lasaine.
O designer define o estilo de Leyendecker como “cool, lustroso e sexy”. Ele chama a atenção para detalhes específicos do visual da série que foram inspirados no trabalho do ilustrador: “[A influência] pode ser vista nos nossos prédios, na nossa arquitetura - quando temos uma porta, ela provavelmente é um pouco mais alta do que deveria; quando temos um prédio baixo, ele provavelmente é mais fino do que deveria no horizonte. Estamos esticando as proporções um pouco”.
“Tudo na nossa ambientação segue um visual limpo, com linhas retas. É um mundo visual muito masculino, de algumas maneiras, embora também haja formas mais elegantes e femininas, inspiradas na art nouveau e na art déco”, completou, citando dois movimentos artísticos franceses, também datados do século XX - confira abaixo algumas imagens para referência.
Lasaine ainda explicou que, apesar de se passar em um “mundo 3D”, inicialmente renderizado no computador, todas as cenas de What If…? são depois disso traduzidas em layouts e pinturas 2D, finalizadas à mão por sua equipe. É um processo muito parecido com o da maioria das animações 2D produzidas hoje em dia.
“Nosso estilo de pintura é muito específico, muito gráfico. Eu o chamo de ‘impressionismo gráfico’ - não é algo renderizado à exaustão, detalhado demais. Na verdade, é bem mais relaxado do que isso”, comentou ele, apontando que espectadores podem prestar atenção em objetos que aparecem em primeiro plano, como armas ou máquinas, para localizar as pinceladas “desordenadas” que ajudam a criar o visual único da série.
“Se você tirar print de algumas de nossas cenas, vai notar isso, se tornou a impressão digital do nosso estilo. [...] São coisas como essas, que parecem só pequenos detalhes, mas não são. Agora que começamos a fazer isso, as cenas parecem meio vazias quando não fazemos”, brincou.
A ação
O outro lado importante de What If…?, é claro, é a ação. Como editores da série, os irmãos Graham e Joel Fisher são responsáveis por manter os momentos de adrenalina dinâmicos e empolgar os fãs do MCU, acostumados com efeitos épicos em live-action - missão que fica mais fácil com a ajuda de um diretor, Bryan Andrews, bem versado no gênero.
“Ele tem uma mente insana para isso. Quando era mais jovem, Bryan treinou artes marciais com alguns dos melhores dessa área. Então, quando virou diretor, trouxe toda essa experiência. A habilidade que ele tem para coreografar uma cena de ação é incomparável dentro da indústria”, elogiou Joel, que ainda apontou para o currículo de Andrews como artista de storyboard no próprio MCU.
Para quem não sabe, o storyboard é um recurso usado por equipes de produção, especialmente de grandes blockbusters, a fim de visualizar como uma cena será antes das filmagens. Os desenhos de artistas como Andrews, que trabalha com a Marvel desde Homem de Ferro 2, servem para diretores, cinematógrafos e outros profissionais se guiarem no set. A filmografia do diretor de What If…? ainda inclui títulos como Samurai Jack, Star Wars: Clone Wars e As Aventuras de Jackie Chan.
Escolha difícil
Por causa da natureza antológica da série da Marvel, mesmo os membros da equipe sentem dificuldade de escolher seus episódios favoritos. Graham Fisher cita o segundo, focado em T’Challa (Chadwick Boseman): “Ele tem um lugar especial no meu coração. Quando recebi o roteiro, me surpreendi, porque é um episódio alegre, engraçado”. Paul Lasaine escolhe o terceiro, em que os Vingadores são mortos por um vilão misterioso, por seu estilo “mais noir e simplificado, cinematográfico”.
Já Joel Fisher parece ser do tipo que só quer ver o circo pegar fogo: “What If…? é como uma caixa de chocolates, certo? Você tem vários sabores diferentes, chocolates mais amargos ou mais doces, e todo mundo vai ter o seu favorito. [...] Conforme a série for lançada, vai ser divertido ver como os fãs reagem, quero ver as pessoas brigando: ‘Esse aqui não foi tão bom, mas aquele lá é incrível!’”.
Os cinco primeiros episódios de What If…? já estão disponíveis no Disney+. A primeira temporada contará com nove capítulos ao todo.