O segundo episódio de What If...?, lançado hoje (18) através do Disney+, começa nos perguntando o que define um indivíduo: a sua natureza ou o mundo que o cerca. É uma daquelas questões eternas da humanidade, e a Marvel parece ter uma resposta bem definitiva em mente - na mitologia do MCU, ao menos, a retidão moral e o senso de justiça de um único indivíduo pode mudar o universo, e não o contrário.
Enquanto contemplamos o que poderia acontecer se os Ravagers abduzissem T'Challa (Chadwick Boseman), por engano, no lugar de Peter Quill, o roteirista Matthew Chauncey (Os 3 Lá Embaixo) aproveita a liberdade narrativa da premissa da série e mexe com a própria concepção dessa fatia especial/cósmica do universo Marvel. Em outras palavras: o episódio, ao contrário do da semana passada, realmente mostra como um único evento diferente é capaz de reestruturar a mecânica de todo um universo.
O mais bacana é que os rápidos 29 minutos do capítulo (descontando os créditos) quase nunca parecem apressados. Isso porque, ao invés de tentar recapitular os eventos de um dos Guardiões da Galáxia com pequenas mudanças, Chauncey cria uma história totalmente original, fiel ao espírito "filme de assalto no espaço" da franquia conduzida por James Gunn, mas pensada especificamente para mostrar essa versão transformada dos personagens, o que causou a sua transformação, e para onde essas mudanças levam todos eles.
Daí a aparição de um Thanos (Josh Brolin) redimido e integrado aos Ravagers, que tenta reconquistar a confiança da filha adotiva Nebula (Karen Gillan) apesar dos horrores aos quais a submeteu na infância; ou a rápida cena envolvendo Drax, que agradece T'Challa por salvar o seu planeta (e sua família) da destruição. São dois de muitos personagens que Chauncey reinventa completamente - ele não perde nunca a oportunidade de mostrar como o talento diplomático e a inteligência emocional do seu protagonista fez uma revolução na galáxia do MCU.
Essa concepção do episódio, é claro, serve também como homenagem a Chadwick Boseman, entregando aqui uma de suas últimas performances como T'Challa (o personagem ainda deve ressurgir em outros capítulos de What If...?). O ator, que morreu no ano passado, aos 43, colore o personagem com as mesmas tintas aspiracionais que usou em suas aparições live-action, realçando sempre como a humanidade e a clareza de visão do soberano de Wakanda é sua maior arma diante de qualquer inimigo, esteja ele na Terra ou no espaço.
O segundo episódio de What If...? cumpre a promessa de criatividade narrativa da premissa da série ao entender o essencial dela: personagens, assim como pessoas, dificilmente mudam de essência - é o mundo ao redor delas que se transforma, de maneiras radicais e imprevisíveis, a depender do caminho que elas tomam.