Um dos grandes problemas da construção de vilões da Marvel, elemento tão criticado no MCU, é que muitos deles só ganham espaço por um filme, quando o seu potencial para se tornar uma pedra no sapato dos heróis a longo prazo é obviamente muito maior - especialmente para o público que os conhece dos quadrinhos.
Ultron é definitivamente um desse vilões. Apesar do tamanho da encrenca que ele criou em Vingadores: Era de Ultron, o antagonista robótico criado inadvertidamente por Tony Stark em sua ânsia por conseguir "paz em nosso tempo" é uma figura megalomaníaca muito mais proeminente e assustadora nas HQs. O oitavo episódio de What If...? chega para mostrar o porquê.
Ainda que sem a performance vocal devoradora de cenários de James Spader (substituído por Ross Marquand, que faz um trabalho apto, mas insosso), o vilão ressurge como um literal exterminador de mundos nesse capítulo. A trama imagina o que teria acontecido se ele tivesse conseguido cooptar o corpo que em outras realidades foi do herói Visão para si próprio, eventualmente roubando as Joias do Infinito de Thanos, destruindo a Terra e os outros planetas e civilizações que já conhecemos do MCU.
É quando, no silêncio sepulcral do universo quase sem vida que criou, e investido do poder inimaginável das Joias, ele toma consciência da existência do Vigia (Jeffrey Wright), finalmente puxando o nosso narrador/observador para a ação da série e dando o pontapé inicial na narrativa épica de cruzamento de realidades que deve compor o finale desta primeira temporada de What If...?.
Usar Ultron como o grande vilão desta narrativa multiversal é uma escolha que agrada, ainda que apenas pelo potencial não realizado de sua aparição anterior no MCU. A possibilidade mais fascinante da premissa da animação do Disney+, no fim das contas, era a de explorar o que os filmes e séries live-action não tiveram e provavelmente nunca terão tempo, orçamento ou espaço narrativo para explorar, confinados na continuidade inclemente do universo compartilhado como estão.
O que incomoda um pouco, por outro lado, é que What If...? tenha encarado essa possibilidade e saído dela com uma história tão similar a da Saga do Infinito, nome dado à narrativa do MCU que culminou em Vingadores: Ultimato. Este oitavo episódio é como o Guerra Infinita de What If...?, no sentido em que se concentra em construir o antagonista como uma figura quase mítica e termina com uma derrota amarga dos heróis.
Como aconteceu em Guerra Infinita, no entanto, sabemos que a segunda parte vem por aí, e temos aquela certeza, no fundo da mente, de que o "lado do bem" vai encontrar uma forma de reverter a situação. Narrativas como essa se repetem sempre na cultura pop, é claro - Joseph Campbell e sua jornada do herói que o diga! -, mas é difícil reclamar de quem diz que as produções do MCU saem de uma "linha de produção" quando até a série que deveria fugir do molde acaba se conformando tão prontamente a ele.