Depois de levar derrotas mensais da DC Comics no levantamento das HQs mais vendidas da distribuidora Diamond Comics desde metade do ano passado, a Marvel Comics chegou a um encontro com revendedores americanos na semana passada sob um clima de discussão de relacionamento. Como o site ICv2, especializado em coletar os números do mercado, foi convidado a assistir ao evento, boa parte dessa discussão se tornou uma controvérsia na mídia.
Ao ICv2, o vice-presidente sênior de vendas e marketing da Marvel, David Gabriel, disse que os revendedores atribuem a queda nas vendas, entre outros motivos, à diversificação étnica dos super-heróis da casa. "O que nós escutamos [dos revendedores] foi que as pessoas não queriam mais diversidade. Não queriam heroínas femininas. Foi isso que escutamos, acreditemos ou não. Não sei se isso é a verdade, mas foi o que identificamos nas vendas", diz Gabriel, em referência à queda gradual que a Marvel tem sentido desde outubro, enquanto o projeto editorial Rebirth da DC faz sucesso com a retomada do "feijão com arroz" em suas HQs, como a volta do Superman pré-Novos 52.
A declaração - assim como outras, em que os executivos falam dos bastidores da Marvel e de estratégias envolvendo sagas e a distribuição de trabalho a desenhistas - caiu mal junto aos profissionais da indústria e na imprensa americana, no mesmo dia em que a revista Forbes publicou um perfil do editor-chefe Axel Alonso exaltando justamente a busca da Marvel por mais personagens de minorias étnicas. Em seguida, também ao ICv2, Gabriel voltou atrás: "Nós também estivemos ouvindo de lojistas que recebem bem e celebram nossos novos personagens e títulos, e querem mais! Isso revigorou sua base de consumidores e ajudou-lhes a crescer. Então temos dois lados dessa história, e a única mudança que faremos é garantir que não percamos o foco no nossos heróis centrais".
Enquanto parte da indústria questiona os números da Diamond Comics - que detém o monopólio da distribuição a comic shops e livrarias mas não interfere no mercado de HQs digitais, onde frequentemente se nota mais diversidade demográfica entre os leitores - a Marvel já esboça uma volta a histórias mais tradicionais. A recém-anunciada minissérie Generations vai colocar heróis tradicionais como Steve Rogers, Tony Stark e mesmo personagens falecidos como Wolverine e Capitão Marvel lado a lado com seus recentes substitutos - no caso, Sam Wilson como Capitão América, Riri Williams como titular da série do Homem de Ferro, X-23 como Wolverine e Carol Danvers como Capitã Marvel.
Hoje, algumas séries de personagens "de minoria", como a Ms. Marvel com Kamala Khan e a HQ da Garota Esquilo, representam sucessos pontuais na Marvel junto ao público que frequenta convenções e gera discussões sobre suas séries. É provável que Secret Empire, saga sobre a transformação do Capitão América em um agente da HYDRA, com forte carga política (Steve Rogers toma o poder e institui um regime fascista com a HYDRA nos EUA), seja ums das últimas jogadas da atual Marvel no sentido de tornar seu universo de heróis mais engajado e politizado como um todo. Vamos ver como o mercado responde à minissérie, que começa a sair com um número zero em abril.