A terceira temporada de Anne With An E entrou no catálogo da Netflix no início de janeiro e veio junto com o anúncio de que a série não seria mais produzida. Apesar do final bem costurado, a tristeza foi generalizada, já que a série tem um impacto emocional em seus espectadores que acabou provocando uma onda de protestos que envolveram até mesmo celebridades. Sensível e inteligente, Anne With An E teve três anos impecáveis e se despediu deixando órfãos espalhados pelo mundo todo, fãs de sua abordagem política delicada, de seu idealismo juvenil comovente, de sua poesia deliberada e de sua protagonista carismática e poderosa.
Preparamos, então, uma lista de 10 séries que podem ocupar um pouco do vazio deixado por Anne. Tentamos citar produções de várias épocas e encontrar traços em comum entre elas e entre o que foi proposto pelo mundo da nossa ruiva sonhadora. Algumas delas são fáceis de acessar, outras precisam de mais esforço. Mas, todas valem o seu tempo e atenção. Se há uma coisa boa que o final de Anne pode trazer é o anseio de conhecer mais títulos que tenham muito o que dizer. Prepare seu coração e se divirta.
Blossom
Ainda que seja difícil encontrar Blossom disponível em plataformas de streaming (a série foi exibida nos anos 90 no SBT) ela precisa estar nessa lista por ser uma das pioneiras na iniciativa de mostrar uma protagonista adolescente numa época em que só existiam meninos nessa posição. Alguns episódios podem ser encontrados no YouTube.
Blossom ficou no ar entre 1990 e 1995 e mostrava o crescimento e a evolução emocional e intelectual da protagonista. Ela morava apenas com o pai e dois irmãos, o que tornava marcante sua perspectiva feminina sobre o mundo. O formato de sitcom obrigava os temas a carregarem certa leveza, mas Blossom (Mayin Bialik) não se acanhava e falava de maneira relevante para um público que não estava habituado a tanto. Vista pelos jovens de hoje em dia, a produção pobrinha e o formato de risadas ao fundo pode assustar. Mas, a série é uma pioneira do lugar onde Anne With An E fez seu legado.
Dawson’s Creek
Adolescentes com ótimo vocabulário usando a arte como metáfora para a vida são uma especialidade de Dawson’s Creek. A série criada por Kevin Williamson ficou no ar entre 1998 e 2002 e tinha uma atmosfera bucólica e sensível que desafiou muito o gênero das séries adolescentes (sempre com sua pressa de ter muitas viradas consecutivamente).
A história era muito simples: o menino Dawson (James Van Der Beek) sonhava em ser cineasta e seus amigos o ajudavam frequentemente na realização de seus filmes. Contudo, com a chegada de Jen (Michelle Williams) vinda da cidade grande, as ansiedades da puberdade surgem e transformam as vidas dos jovens. Além de ter um elenco que alcançou sucesso fora da atração, a série ganhou prêmios e muito reconhecimento da crítica por seu texto sagaz e sua delicadeza. Atualmente ela está disponível na Globoplay e no Prime Video.
Gilmore Girls
Se a sua saudade é de uma boa dose de relações familiares que tenham uma inteligência acima da média, Gilmore Girls é a melhor opção. Criada por Amy Sherman Palladino (a mesma de The Marvelous Mrs. Maisel), a série também se passa numa pequena cidade dos EUA e tem uma premissa simples e eficaz: Quando tinha 16 anos, Lorelai (Lauran Graham) engravidou e decidiu sair de casa para não humilhar mais ainda sua rica família. 15 anos depois a filha que ela teve, Rory (Alexis Bledel), consegue uma vaga numa importante escola do estado, mas não tem dinheiro para pagar por ela. Lorelai, então, passa por cima do próprio orgulho e pede ajuda aos pais ricos, que impõem apenas uma condição: que elas jantem em família todas as sextas do mês. Assim, a série monta sua narrativa com um texto sarcástico, rápido e com personagens peculiares que aumentam consideravelmente o charme da produção. A série foi tão marcante que recentemente ganhou um revival no Netflix. Todas as temporadas, inclusive, estão lá.
My Mad Fat Diary
Se você curte séries mais fora do eixo comercial, a produção inglesa My Mad Fat Diary pode te surpreender. Com apenas três temporadas bem curtinhas, a série tem uma protagonista que fala sobre questões de autoestima e imagem corporal de uma maneira às vezes lúdica e às vezes muito crua e direta.
Rae (Sharon Rooney) é uma adolescente gordinha que tem transtornos psicológicos que resultaram numa temporada de quatro meses num hospital psiquiátrico. Quando ela volta para a escola, sua melhor (e perfeita) amiga Chloe (Jodie Comer, que hoje vive a psicopata de Killing Eve) ignora completamente a situação e pensa que Rae estava viajando. Enquanto tenta manter seu segredo, a jovem também precisa lidar com uma imensa pressão pela aceitação dos outros e de si mesma. A série é muito inteligente e com uma trilha sonora irresistível.
Switched at Birth
Além das incríveis relações interpessoais, Anne With An E também tinha um grande compromisso com a ampliação de vozes de todos os tipos, como até mesmo os nativos indígenas da terceira temporada. Um exemplo disso também podemos encontrar em Switched At Birth (algo como Trocadas no Nascimento), que à primeira vista pode ter uma premissa novelesca, mas que tem um grande diferencial. Bay (Vanessa Marano) e Daphne (Katie Leclerc) descobrem logo no começo que foram trocadas na maternidade e criadas por famílias opostas.
Bay era filha de uma família latina e pobre. Daphne era filha de uma família rica e acabou crescendo com muitas dificuldades, inclusive tendo ficado surda depois de uma infecção mal curada na infância. Por causa disso, mais da metade do elenco passa os episódios fazendo linguagem de sinais e a série também foi a primeira a produzir um episódio inteiro sem que nenhum dos atores dissesse uma só palavra. Ela foi encerrada no quinto ano e saiu do catálogo do Netflix há muito pouco tempo.
Chewing Gum
Outra grande protagonista feminina está esperando por vocês na série Chewing Gum; e uma protagonista que depois de anos de reclusão, sabe o que quer. Tracey Gordon (Michaela Coel) é uma jovem criada por uma família extremamente religiosa. Aos 24 anos ela decide desafiar essa educação rígida e perder a virgindade. O problema é que ela não sabe como fazer isso. Essa aventura da contestação torna a série uma representante cabal do que Anne With An E também se propunha a fazer, que é discutir machismo, racismo, intolerância e tantos outros males socioculturais que assolam a organização vigente. Infelizmente a série tem apenas duas temporadas, mas está lá no Netflix esperando você para tirar suas próprias conclusões.
Merlí
Seguindo a nossa trilha de diversidade e bons exemplos de séries feitas por adolescentes, Merlí é um título falado em catalão que surpreendeu o mundo com sua qualidade e sensibilidade, poucas vezes vistas em séries do gênero.
Merlí (Francesc Orella) é um professor de filosofia que, ao mesmo tempo em que se vê obrigado a lidar com o filho adolescente que acaba de chegar para morar consigo, consegue um emprego novo numa escola pública da região. Seus métodos não-convencionais acabam levando os alunos a lidarem com a filosofia de uma maneira que nunca tinham feito antes. Cada episódio é centrado em um filósofo e as histórias vão sendo lindamente costuradas entre os personagens. Para quem sente falta do núcleo escolar de Anne With An E, essa pode ser uma boa pedida. Os episódios são muito bem escritos e você verá questões existenciais sendo tratadas com muita eficiência e positividade. A série também está disponível na Netflix.
Glee
Se você passou por Anne With An E e se apaixonou, mas achou que ela podia ter umas doses extras de maldade, talvez Glee seja a opção para ti. A série musical de Ryan Murphy teve seis temporadas na Fox e foi um verdadeiro fenômeno no mundo todo. Ela entra nessa lista por conta de sua grande cota de diversidade e da discussão de temas relevantes como homofobia, transfobia, imagem corporal e religiosidade. Isso só para citar alguns.
A história acompanha um grupo de alunos nada popular de uma escola de Ohio, nos EUA, que se unem num coral para tentarem encontrar seu lugar na organização social do meio em que estão inseridos. A cada episódio eles cantam sucessos de todo tipo de gênero musical e vivem seus dramas com um humor provocativo e severas doses de transgressão. A série voltou há pouco tempo para o catálogo da Netflix e pode ser vista na íntegra por aqueles que querem assistir e cantar as transformações juvenis.
Atypical
Uma das grandes qualidades de Anne With An E era a maneira como conseguíamos ver o mundo através dos olhos líricos da protagonista. Uma das maiores qualidades de Atypical é conseguir fazer a mesma coisa, só que esse filtro é especial.
Ele vem de um rapaz autista. Sam (Keir Gilchrist) passou a vida toda sendo extremamente protegido pela família, que restringia seu contato a pessoas e situações que eles pudessem controlar. Sam, ao chegar aos 18 anos, decide que é hora de se relacionar de forma independente com as pessoas, arrumando uma namorada, inclusive. A série, então, atravessa seus acontecimentos e pontos de tensão pela perspectiva inusitada de Sam, que tem uma forma prática, mas muito honesta de ver o mundo. Quanto mais ele se expressa corajosamente, mais vai afetando os outros personagens e a narrativa da série cresce e passa de uma comédia despretensiosa a uma obra forte e comovente. As três temporadas estão disponíveis na Netflix.
Sex Education
Anne With An E era uma série que tinha a sabedoria de ser muito franca, mas com pureza, ainda que discutisse os temas mais importantes. Anne conseguia ir transformando e afetando todos que cruzaram seu caminho e promovia uma revolução contida na sociedade de sua época. Atualmente, a série adolescente mais revolucionária da TV é Sex Education. E o protagonista Otis (Asa Butterfield) faz a mesma coisa que Anne, só que em seu tempo e num ritmo cinco vezes mais agitado.
Ele é filho de uma sexóloga e passa a dar consultas informais na escola para colegas que têm dúvidas e medos acerca da própria sexualidade. Quanto mais convivem com a maneira atrapalhada de Otis ao aconselhar e interferir, mais todos são dominados por novos impulsos e percepções. Apesar da linguagem direta da produção, quase escrachada, Sex Education se revela sensível e delicada conforme avança em suas duas temporadas. É, sem dúvida nenhuma, uma das melhores coisas que o Netflix já produziu.
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