As rodas punk do primeiro dia do Monsters of Rock 2013 deram lugar a um desfile de solo de guitarra. E não foram somente os músicos no palco que tocaram, mas inúmeros fãs com seus instrumentos imaginários, embaixo de um sol de mais de 30ºC ao som dos sucessos de Aerosmith, Whitesnake, Ratt, Queensrych e outros.
O segundo dia do festival também mostrou uma mudança de público - as camisas pretas estavam em menor número e mais famílias frequentaram o Anhembi. Nada disso foi por acaso, afinal o rock feito pelas bandas que se apresentaram é mais abrangente. No fim, o evento conseguiu mesclar vertentes diversas dentro um mesmo estilo; e o mais importante, sem perder a qualidade nos grupos escalados.
Dokken, Queensryche e muito sol
As nuvens que por alguns momentos ameaçaram chuva no sábado não existiam no domingo. O sol escaldante do segundo dia esquentou o público e as primeiras bandas a subir no palco do Monsters of Rock. Dr. Sin e Dokken fizeram os primeiros grandes shows da tarde e mesmo com o clima intimidador, levantaram as pessoas. Até as 16 horas o número de fãs no local era bem menor que o dia anterior - fato que se estendeu até o fim do dia; Whitesnake e Aerosmith eram a atração principal.
Os mesmos problemas com o som voltaram a acontecer quando o Queenryche se apresentou. Com uma formação diferente, que trazia Geoff Tate nos vocais, o grupo lutou contra um som mal regulado e várias falhas no microfone principal. Do meio para frente, os defeitos foram solucionados e sucessos como "Silent Lucidity" e "I Don't Believe in Love" animaram a plateia.
Buckcherry e Ratt
O fim da tarde voltou a ser agitado com os americanos do Buckcherry. Comandados por um inquieto e tatuado Josh Todd, a banda surpreendeu com uma performance cheia de atitude e boas canções. "Broken Glass", "All Night Long" e a derradeira "Crazy Bitch" foram algumas das músicas apresentadas e que certamente ajudaram o grupo a angariar novos admiradores.
A antepenúltima banda do dia enfrentou os fãs de Whitesnake e Aerosmith sem preocupação. Os veteranos do Ratt subiram no palco do Monsters of Rock quando a noite caia em São Paulo - "Wanted Man" e "I'm Insane" começaram a apresentação que empolgou uma pequena e dedicada parte da plateia. A sensação era que o Anhembi esperava os últimos dois grupos.
Ainda assim, o Ratt se mostrou em boa forma e antes de "Back For More" perguntou se a plateia queria a banda de volta ao país. Prontamente atendidos com uma resposta positivia, o grupo encerrou a boa apresentação com "Round and Round".
Whitesnake e Aerosmith
Um breve passeio pelo Anhembi revelava um fato curioso: mais gente vestia camisa do Whitesnake do que do Aerosmith. Com inúmeras passagens pelo país, a banda de David Coverdale continua a ter um lugar especial no coração dos brasileiros. Com poucos minutos de atraso, o show começou com uma trinca de sucessos: "Give Me All Your Loving", "Ready an Willing" e "Love Ain't No Stranger". Para completar o início avassalador, "Is This Love" embalou os casais do Monsters of Rock e deu um ar romântico ao festival.
O ótimo backing vocal do grupo dá todo o poder necessário para as baladas funcionarem - assim como a presença e carisma de um desfigurado Coverdale. Aos 62 anos, o vocalista continua insinuante e com seus gritos característicos. Os tradicionais solos de guitarra também marcaram presença com duas seções de quase oito minutos de Doug Aldrich. "Steel Your Heart Away", "Here I Go Again" e "Bad Boys" também formaram o set list, que foi encerrado com "Soldier of Fortune" (iniciada a capella) e "Burn". Bom moços como o são, o Whitesnake se despediu do palco com um playblack de "Wish You Well" nos alto falantes.
Finalmente lotada, a Arena Anhembi esperou até às 23 horas para ver o Aerosmith - e não há quem se arrependa. Assim como o Slipknot no primeiro dia, o grupo mostrou uma diferença de produção e performance avassaladora dos seus antecessores. Mesmo com músicas do seu último disco, Music From Another Dimension, a banda demonstra um domínio completo do palco e da plateia, que mesmo quando não conhecia a música, dificilmente desgrudava o olho dos músicos.
A escolha do setlist conseguiu agradar aos fãs mais ardorosos e as famílias que foram ao show para escutar os sucessos de rádio. "Jaded", "Toys in The Attic", "Love in The Elevator", "Cryin", "Living On The Edge" e "I Don't Wanna Miss A Thing" foram algumas das mais empolgantes do show. Houve tempo para um covers de "Whole Lotta Love", do Led Zeppelin, e "Come Together", do Beatles - todos devidamente coreografados com as guitarras imaginárias do público.
A presença de Steven Tyler evidencia a alcunha de rockstar que carrega. Do início ao fim, o vocalista passeia pelo palco, conversa com o público e interpreta canções de 30 anos como se fosse o seu novo single. Ao lado de Joe Perry, tão talentoso quanto, o cantor se apoia nas vestes excêntricas e gestos marcantes para não perder atenção da plateia - sem contar nos vocais ainda em dia. Ele recebeu uma fã no palco, brincou com as câmeras de transmissão e acariciou o ego dos brasileiros. "Sentiram nossa falta, como sentimos de vocês?", disse. "Sweet Emotion" e "Dream On" terminaram de forma épica a apresentação do grupo, que se mostra tão atemporal quanto os próprios hits. Não que eles precisassem, mas esta foi mais uma prova do porque o Aerosmith é considerado uma das maiores bandas de rock da história.
Monsters of Rock: uma volta promissora
Entre ótimos shows e um forte calor, o festival Monsters of Rock voltou à São Paulo com um saldo positivo. Os horários das apresentações foi, na medida do possível, cumprido a risca - o segundo dia contou com um atraso de 15 minutos por banda, nada que atrapalhasse a experiência. No meio do show do Aerosmith muita gente deixou o Anhembi, mas o fato de ter sido marcado para 22h35 e ser realizado em um domingo - que iniciou o horário de verão - parece ter ajudado mais do que o atraso.
A escalação das bandas, a princípio muito nichada, se mostrou equivalente à proposta oferecida. Um primeiro dia dedicado à devoção ao metal; enquanto o segundo mescla fãs de longa data e um rock mais família. A escolha dos headliners foram o pronto alto. Slipknot e Aerosmith não só têm dois dos melhores shows da atualidade, como extrapolam o próprio estilo, servindo como base para um ótimo evento de entretenimento geral.
A estrutura do Anhembi não é das mais afeitas à um festival que dure o dia inteiro. Toda a armação de concreto e a falta de área de sombras dificultou o conforto do público e aumentou o clima de mal estar - em alguns momentos a temperatura chegou a 35º. E como quase todo evento dessa escala, pouquíssimos recipientes de lixo estavam espalhados pela arena; anoitece e o chão vira um mar de plástico e embalagens. Na parte técnica, o som foi de boa qualidade na maior parte dos shows; por outro lado, os dois telões que exibiam imagens das bandas estavam quase sempre fora de sincronia com o áudio.
Longe do palco principal, a organização montou uma pequena mas efetiva área de convivência, que trazia atividades extras como pocket shows, games, lanches e lojas especiais. Apesar de tímido, o local demonstra o engajamento do público com tais possibilidades, que podem ser melhor exploradas no futuro. A volta do Monsters of Rock, se depender do público e da execução da edição 2013, não deve demorar 15 anos novamente.