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10 anos sem Kurt Cobain: <i>Kurt & Courtney</i>

10 anos sem Kurt Cobain: <i>Kurt & Courtney</i>

08.04.2004, às 00H00.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 15H08

Fã de rock adora pirar numa conspiração envolvendo seus ídolos, principalmente os mortos. E essas conspirações sempre dão trabalho para documentaristas polêmicos. Estão aí Nick Broomfield e Kurt Cobain, cada um no seu papel, que não me deixam mentir.

Em 98, Broomfield caiu nas graças dos fãs de rock ao tentar produzir o documentário Kurt & Courtney, em que pretendia examinar o relacionamento do casal, em face à morte de Cobain - naquela época ainda meio fresca na mente do público.

Tentar, claro, não é sinônimo de sucesso, principalmente neste caso. A trajetória da produção de Kurt & Courtney, que levou dois anos, foi recheada de pedras, sendo a maior delas a própria madame Cobain. Não é para menos, já que a principal teoria levantada por Broomfield, ao investigar a morte de Cobain, pintava Courtney Love como a mandante do assassinato do próprio marido.

É notório que o tão proclamado suicídio de Cobain tenha vários pequenos mistérios ao seu redor até hoje, nunca investigados pela polícia americana. Desde o fato de que a arma utilizada não trazia impressões digitais até a misteriosa morte de pessoas envolvidas no caso. É uma história digna das maiores conspirações, e é nisso que Broomfield se afunda mais e mais, à medida que as investigações avançam.

O documentário começa quase inocente, investigando Kurt e aproveitando para deliciar os fãs de Nirvana com gravações do roqueiro cantando aos dois anos de idade. Rapidamente, porém, o formato descamba para o modelo Arquivo X e a conspiração se apresenta, quando o foco passa a ser a personalidade dúbia de Courtney Love.

Broomfield vai atrás das figuras que orbitavam ao redor do caso. Aí incluem-se o detetive particular Tom Grant, que passou anos obcecado em desvendar a morte de Kurt e Hank Harrison, pai de Courtney. A história mais recorrente é que Courtney planejou a morte do marido quando este resolveu pedir o divórcio e tirar Love do seu testamento milionário.

Como se já não bastasse a paranóia das teorias, alguns fatos só fazem aumentar as suspeitas durante as gravações. Dylan Carlson, por exemplo, melhor amigo de Kurt e a pessoa que comprou a arma que matou o músico, parece receoso em falar alguma coisa comprometedora no seu depoimento. Broomfield chega também à figura mais perturbadora do vídeo, El Duce, um roqueiro chapadíssimo do underground de Seattle que afirma categoricamente que Courtney Love lhe ofereceu 50 mil dólares para que matasse Cobain, e que sabia também o nome da pessoa que aceitou a oferta da loira, forjando o suicído do roqueiro. O mais assustador é que El Duce morreu atropelado por um trem algum tempo depois de gravar seu depoimento. Uma conexão paranóica digna de Hollywood.

A esse ponto já transformada na personagem principal do filme, Courtney - através dos seus advogados - fez de tudo para derrubar o documentarista. A estréia da obra no festival de Sundance foi cancelada por ameaças da gravadora, pois a produção não recebeu autorização para que faixas do Nirvana e Hole aparecessem na trilha. A versão que roda atualmente não traz uma música sequer das bandas. O golpe final veio com a suspensão do apoio financeiro a Broomsfield, conseguido através de pressões dos advogados de Love contra a MTV. A emissora fazia parte do conglomerado que estava financiando o documentário.

Com sua produção interrompida bruscamente, Kurt & Courtney acaba não concluindo nada de fato, se resumindo a um circo de hora e meia com investigações que atiram para todos os lados. O resultado é um documentário sobre a difícil produção de um documentário sobre Kurt Cobain, e um retrato de Courtney Love, descrita pelo pai como alguém capaz de qualquer coisa para chegar onde quer.

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