O ano de 2018 foi marcado por alguns acontecimentos gigantes na música; a explosão do k-pop, os aniversários do álbuns de 1968, o primeiro álbum de Jay-Z e Beyoncé, o estrondo de Childish Gambino. Mas o final do ano ficou marcado por um nome só, que teve um ano mais do que conturbado: Ariana Grande.
Este ano Ariana Grande lançou o seu quarto álbum de estúdio, Sweetener, recebido de forma positiva pela crítica, mas rapidamente deixado para trás. O primeiro disco da cantora desde o atentado terrorista de Manchester revelou seus maiores hits antes do lançamento – “God Is a Woman” e “No Tears Left to Cry”- e Ariana Grande passou o segundo semestre marcando as manchetes mais pelos seus relacionamentos amorosos do que pelo trabalho: um término triste com o rapper Mac Miller – do qual foi vítima de um sério “efeito Yoko”, culpada pelos abusos das drogas do ex-namorado – e depois um relacionamento chamativo com o comediante Pete Davidson. Quando Miller morreu de overdose em setembro, Grande se reclusou e chamou um hiato em sua carreira musical. Pouco tempo depois, o noivado com Davidson havia acabado.
Ariana Grande recebeu o apoio de todos os lados. Principalmente por ter passado pelo atentado em Manchester, o falecimento de seu ex e a ruptura do noivado fizeram da cantora o direcionamento de mensagens de apoio e o mundo musical se colocou ao seu lado para o que acontecesse. O que se seguiu, para surpresa de todos, foi um retorno mais que bem-vindo e bem recebido, que parece ter sido resultado de um movimento genuíno.
Menos de um mês depois do término com Davidson, Ariana falou sobre o fim nas redes sociais, e pela primeira vez publicou a mensagem “Thank u, Next”. A postura tradicional de fãs foi ao seu apoio, mas reagiu de um jeito que mais tarde viria a se provar equivocado. A mensagem – que se traduz para algo como ‘Obrigada, próximo’ – foi entendida como uma afronta ao ex-namorado, como uma mensagem de desprezo e de quem saiu por cima.
and for that i say ....... thank u, next
— Ariana Grande (@ArianaGrande) 2 de novembro de 2018
Quando “Thank U, Next” saiu, em 3 de novembro, toda a mensagem foi entendida. Com seu último single, ao invés de desprezar seu ex-namorado ou criar uma faixa só para se colocar por cima de quem foi deixado para trás, Ariana se provou uma mulher madura e entregou um pop chiclete de primeira com uma mensagem muito mais positiva do que ofensiva. “Thank U, Next” é uma carta de amor a todos os amores passados, citando alguns por nome e listando o que aprendeu com eles. A cantora fez um movimento muito admirável que vai ao contrário do que muitos fãs esperavam, e entregou um outro jeito de encarar o passado, raramente visto na música pop. Vindo de quem já passou por muita coisa ruim, principalmente no último ano, Ariana se fez um modelo perfeito de como superar dores e traumas.
Ainda, “Thank U, Next” é uma mensagem de auto-afirmação precisa. Na letra, Ariana diz ter aprendido a lidar com dor e que agora ela está em um relacionamento com ela mesma: “Eu conheci outra pessoa, estamos tendo discussões melhores. Eu sei que dizem que eu vou muito rápido, mas este vai durar. Porque seu nome é Ari, e eu estou muito bem com isso”. A mensagem de que ela está bem sozinha é mais um exemplo ideal de uma postura de orgulho sem precisar ofender ninguém no processo.
O movimento de Ariana, ainda, soou genuíno por sua espontaneidade. Ao invés de passar um ano tirando proveito de seu último disco, duração natural para a maioria dos trabalhos na música atual, Ariana revelou estar gravando músicas pouco tempo depois de Sweetener. Até por isso, ela passou uma mensagem de que seu trabalho é sua cura, e que “Thank U, Next” nasceu de sentimentos atuais que precisavam ser colocados para fora.
“Thank U, Next” veio para terminar 2018 como uma bomba. O single foi responsável pelo primeiro nº 1 de Ariana – posição onde passa hoje a sua terceira semana – e o seu clipe quebrou o recorde no YouTube como o mais assistido em suas primeiras 24 horas. Ainda, o vídeo trouxe referências de diversos filmes de protagonistas femininas do início dos anos 2000: Legalmente Loira, Meninas Malvadas, De Repente 30 e As Apimentadas. Usando os filmes como mais um apelo à afirmação do poder feminino, Ariana deixou uma última e perfeita mensagem para 2018, de como o feminismo pode vir de diversas formas.