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David Gilmour em São Paulo | Crítica

Uma noite para recordar: solos majestosos dominam a segunda noite de David Gilmour em São Paulo

13.12.2015, às 13H39.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 00H01

Mas por que não começa?” – pergunta uma senhora logo à frente.

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Francisco Cepeda/AGNews-SP

O fato é que já havia começado quando o som dos passarinhos, no início de “5 A.M.”, deslizava pelo Allianz Parque na noite de 12 de dezembro, em São Paulo. Seguindo a antiga tradição dos tempos de Pink Floyd, Rattle That Lock, de David Gilmour, começa de mansinho, dando tempo e espaço para que os demais instrumentos se manifestem até que a guitarra resolva aparecer ali, por volta dos 45 segundos de música.

E é nesse momento, quando o timbre inconfundível da guitarra do músico inglês toma de assalto os ouvidos das mais de 40 mil pessoas presentes, que o estádio vem abaixo com gritos e aplausos pela primeira vez. Logo em seguida, mantendo a ordem das faixas do novo disco, o guitarrista emenda a faixa-título, “Rattle That Lock”, com seu baixo dançante e levada de guitarra que muito se assemelha aos melhores funks dos anos 1970. É delicioso o contraste do ritmo que faz as pessoas dançarem e o clipe projetado no telão, com os anjos caídos e os círculos infernais dantescos de Gustave Doré.

Não há tempo a perder, e lá estão os primeiros acordes de “Faces of Stone”, terceira faixa de Rattle That Lock. Da pegada groovy da segunda canção para o andamento de valsa e violão folk da terceira, esse início de show mostra a impressionante versatilidade do novo trabalho do músico, que será apresentado quase na íntegra ao longo da noite, uma vez que sete das dez novas canções fazem parte de sua setlist.

A quarta canção é o hino “Wish You Were Here”, um dos momentos mais emocionantes do espetáculo, quando o refrão – com seus 40 anos de idade – é entoado em uníssono por todos, e marmanjos das mais variadas idades se derretem em lágrimas. É só aí, com o estádio inteiro na palma da mão, que Gilmour dá o seu boa-noite e o primeiro muito obrigado.

O pedal steel de “A Boat Lies Waiting” é de uma beleza magnífica, do mesmo modo que o é o coro da canção seguinte, “The Blue”, faixa de seu disco solo anterior, On An Island. Logo em seguida, o cantor propicia mais um momento nostálgico com a dobradinha “Money” e “Us and Them”, do clássico The Dark Side of the Moon – momento oportuno para o jovem saxofonista brasileiro, João Mello, mostrar o motivo de fazer parte do seleto grupo de músicos que compõem a banda de David Gilmour.

Antes do intervalo ainda há tempo para a emocionante “In Any Tongue” – com seu solo de guitarra poderoso ao ponto de, literalmente, chacoalhar o estômago de quem ali estivesse – e a muito querida do público, “High Hopes”, faixa que encerra The Division Bell, de 1994.

Segunda parte

A segunda metade do show se inicia com a primeira faixa do primeiro álbum do Pink Floyd, “Astronomy Domine”. É lindo ver a canção psicodélica composta em 1967 por Syd Barrett, o então líder da banda, sendo cantada por um Gilmour de quase 70 anos de idade. Não há um segundo sequer de hesitação no distinto senhor inglês, que pronuncia com perfeição os impossíveis trava-línguas do jovem Barrett: "winding signs flap flicker flicker flicker flam, pow pow, stairway scare Dan dare, who’s there?". A homenagem ao primeiro guitarrista da banda continua com “Shine on You Crazy Diamond”, outro momento alto da noite, onde fica patente o domínio da guitarra e a excelência musical de Gilmour (leia-se: mais lágrimas na plateia).

O espetáculo segue com as líricas “Fat Old Sun”, de Atom Heart Mother, e “On An Island”, faixa-título do disco de 2006. O guitarrista apresenta então sua banda antes de se lançar em mais duas canções do novo disco: “The Girl in the Yellow Dress” – com direito a dois solos de João Mello, com dois saxofones diferentes –, e a alegre “Today”.

Eis que o estádio é chacoalhado pelo riff matador de “Sorrow” e, logo em seguida, o show se encaminha para o fim com a infalível “Run Like Hell”. A canção do álbum The Wall é o único momento de teatralidade de uma apresentação até então austera. O atual show de Gilmour não possui explosões, figurinos ou qualquer recurso cênico, e o máximo que o músico se permite é justamente o uso de óculos-escuros pela banda nessa canção.

O bis foi composto por mais dois clássicos: “Time/Breathe Reprise”, de The Dark Side of the Moon e “Confortably Numb”, de The Wall. Na última canção, a vigésima da noite, o músico honrou o título de guitar hero em um dos solos mais inspirados do espetáculo, fechando com chave de ouro o show que justificou os inúmeros anos de espera de seus fãs brasileiros.

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