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Crítica

Coldplay - A Head Full of Dreams | Crítica

Com ideias renovadas, banda traz um pouco de todas as suas fases em novo disco

04.12.2015, às 08H03.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Há 15 anos, o Coldplay começava a conquistar o mundo com o lançamento de uma pequena obra-prima do britpop chamada Parachutes. Os dois álbuns seguintes foram igualmente aclamados e desde 2011, com Mylo Xyloto, a banda resolveu mudar sua sonoridade para uma abordagem mais pop, mais alegre e divertida, cheia de glitters e lasers, palminhas e woo-hoos.

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Se a mudança foi boa ou não, vai de cada um. Fãs mais antigos podem torcer o nariz quando ouvem “Para-para-paradise” e novos entrantes podem se assustar com a melancolia exacerbada de X&Y, mas a boa notícia é que A Head Full Of Dreams tem um pouco de tudo para todo mundo.

E o mais importante: com idéias renovadas. Ghost Stories, o disco lamento do ano passado, era um tanto quanto raso e preguiçoso. Apesar do sucesso estrondoso, as músicas tinham a profundidade de um pires, e quase nenhuma grande ideia para sustentá-las. Felizmente, o caso é outro em A Head Full Of Dreams.

Mesmo sem trazer uma nova "Trouble" ou uma nova "Clocks", o Coldplay deixou a preguiça de lado e produziu um disco delicioso de ouvir, cheio de sacadas boas e resgatou a maior graça da banda: a entrega. Chris Martin está cantando com prazer, empolgado, a banda está pulsante como nos primeiros dias. 

Seja num segundo mais empolgado e dançante ou num momento mais melancólico e contemplativo, aqui a banda mergulha de cabeça em tudo novamente. E isso sempre foi o mais legal do Coldplay. 

Uma passada rápida pelas faixas do Coldplay novo:

"A Head Full Of Dreams" – O disco abre com uma pedrada pop, dois pés no peito cheios de empolgação e um instrumental super carregado, eletrônico, por vezes até embolado. Dita o tom da primeira metade do álbum, que poderia se chamar Mylo Xyloto II, dada a similaridade sonora com o trabalho de 2011. Tem ôôôôs e wooo hooos para ninguém botar defeito. É a “Maroon Fivenização” do Coldplay.

"Birds" – Uma das mais interessantes do disco – e ouso dizer, dos últimos 4 anos de Coldplay -, com uma batida bem indie à la Phoenix ou Two Door Cinema Club, e uma libertação temática para Martin. Se Ghost Stories era totalmente focado em sua intimidade pós-divorcio e em como isso o afetou, aqui ele está em outra, cantando a plenos pulmões sobre a beleza de estar livre. Que bom, isso se reflete no disco de uma forma positiva e bem-vinda.

"Hymn For The Weekend" – Aqui temos a participação de Beyoncé, fazendo deste um dos momentos mais pop do disco, assim como "Princess Of China" era em Mylo Xyloto. Musicalmente falando, não é a coisa mais inovadora do mundo, mas funciona e empolga em altos volumes.

"Everglow" – Faixa que ficou meio fora de contexto aqui, poderia muito bem ter feito parte de Ghost Stories. Afinal, é o último lamento de Martin sobre sua separação com Gwyneth Paltrow. A musica é melancólica e se esforça para ficar bonita, mas não chega a muitos lugares. Dá até pra ouvir a própria Paltrow ao fundo. "Everglow" não chega a ser uma faixa ruim, mas não tem nada a ver com o resto do disco, que transborda empolgação e otimismo.

"Adventure Of A Lifetime" – Primeiro single oficialmente divulgado do álbum, essa música desce quadrado no começo mas depois fica deliciosa. A guitarra límpida com um toque de Daft Punk faz o tapete sonoro perfeito pra melodia simples e empolgante. Só não precisavam ter feito um clipe com macacos cantantes. Em tempo: no final, também cheio de woo hoos, você se pergunta se é mesmo Chris Martin quem está nos vocais ou se Adam Levine apareceu para roubar o microfone.

"Fun" (com Tove Lo) – Uma pena o arranjo ser tãããão pop. Uma bateria acústica teria caído como uma luva e deixaria tudo mais grandioso, principalmente o refrão, onde Martin e Tove Lo brilham. 

"Kaleidoscope" – Um momento de reflexão no qual Martin cita trechos de um poema do século XII com ninguém mais, ninguém menos do que Barack Obama cantarolando "Amazing Grace" ao fundo.

"Army Of One" – Outro exemplo de como um outro arranjo poderia ter valorizado mais a música. Will Champion tem umas sacadas bacanas em relação ao tempo, mas mesmo assim a música demora para acontecer. É boa, mas dá uma sensação de que poderia ser incrível.

"X Marks The Spot" – Com vocais robóticos (eles gostaram disso desde a "Midnight") e uma batida forte que lembra "Another’s Arms", Martin até entrega uma melodia bonita, mas a musica não empolga ao tentar ser alegre e dark ao mesmo tempo. E quando você está começando a se acostumar, ela acaba num fade-out repentino.

"Amazing Day" – Linda música! A mais bonita do disco, talvez por trazer de volta alguns elementos clássicos do Coldplay e ser menos eletrônica. Piano, bateria e uma guitarra bem utilizados provam que ainda são o melhor arsenal do Coldplay. E quando Martin deflagra seus berros emocionantes, volta a provocar os bons e velhos arrepios na espinha. Bola dentro! Já nasceu grandiosa!

"Up & Up" – Outra excelente amostra da versatilidade de Martin & cia. quando resolvem se esforçar e não se entregar às facilidades do pop preguiçoso. Musica deliciosa de ouvir, melodia pegajosa e inteligente, cheia de pausas e semínimas que a deixam super gostosa de cantar junto. E um refrão matador, daqueles que grudam e ficam repetindo na nossa cabeça o dia todo. Um lindo solo de guitarra – cortesia de Mr. Noel Gallagher – encerra a faixa com chave de ouro.

"Miracles" – Uma bela guitarra faz o papel de espinha dorsal dessa faixa (bônus na edição em CD de alguns países). Estruturalmente, é bem rica, com uma progressão que desemboca uma emocionante explosão vocal de Martin no final. Depois das lamentações de Ghost Stories, é bom ouvi-lo cantar com empolgação novamente. Ótima música!

Se este for realmente o útimo disco da banda – como eles já sugeriram – será um belo encerramento. A Head Full Of Dreams é uma grata surpresa. Ponto pro Coldplay.

Nota do Crítico
Ótimo

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