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Crítica

Dream Valley Festival | Crítica

Primeira edição do evento reúne 40 mil pessoas para ouvir David Guetta, Armin van Buuren e Calvin Harris

21.11.2012, às 14H00.
Atualizada em 14.11.2016, ÀS 02H09

Aos poucos o Brasil se torna a nova Meca da música eletrônica, por isso, nada mais normal do que eventos grandiosos começarem a tomar o calendário musical do país. No último final de semana, na cidade de Penha, em Santa Catarina, foi realizado o Dream Valley Festival, um festival dedicado à e-music que trouxe ao país grandes nomes do gênero como David Guetta, Armin van Buuren e Calvin Harris.

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Fotos: Facebook Dream Valley/ Divulgação

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Além do cenário pivilegiado, já que foi realizado dentro do Beto Carrero World, o DV ainda trouxe ao país o holandês Hardwell, o alemão Zedd, as loiras australianas do Nervo, a dupla francesa Justice, além dos americanos Steve Aoki, Sharam e Dubfire. No total, as 40 mil pessoas que lotaram as arenas do parque viram cerca de 41 DJs de vários cantos do mundo.

Nós fomos ao evento, passeamos nas cidades próximas e agora contamos nos mínimos detalhes como foram os dois dias de uma das maiores festas de música eletrônica do Brasil.

A chegada ao Vale dos Sonhos

A jornada para o Dream Valley começa na pequena cidade de Penha, localizada a menos de uma hora da capital de Santa Catarina, Florianópolis. As estradas entre Floripa até a pequena cidade de menos de 30 mil habitantes são ótimas e estão em perfeito estado de preservação - além de oferecer faixas duplas para carros, motos e caminhões tanto na ida como na volta do trajeto. Conhecida como a Capital Nacional do Marisco, Penha tem como grande atração o maior parque temático da América Latina, o Beto Carrero World, que serviria de palco para o festival.

Quem queria ir para o festival na sexta-feira, mas optou por viajar na quinta, feriado nacional, pode conhecer um pouco mais da pequena cidade-sede do Beto Carrero. Apesar de vazia e com poucas opções de entretenimento e lazer, Penha tem boas praias para banhistas e surfistas, o que já é um agrado para quem está de "férias". Ainda assim, o clima de cidade desértica lembrava os velhos filmes de faroeste, com pouquíssimos habitantes andando e estabelecimentos ainda fechados. A movimentação aumentava quando se passava pelo parque. Lá era possível notar uma grande estrutura sendo levantada e um palco imenso no meio dos brinquedos, que em sua maioria ficavam ao lado do kartódromo do Beto Carrero.

O primeiro passo para o Dream Valley foi adquirir os ingressos. A entrega foi conduzida de forma normal, sem nenhum alarde. Mesmo assim, a estrutura para tal era de uma festa feita no fundo do quintal de casa. Os ingressos estavam empilhados em cima de mesas de plástico, separados por setores e nomes, com poucos atendentes. Ainda que não tenha ocorrido nenhum problema e o tempo para a entrega dos bilhetes tenha sido pequeno, não custava ter uma estrutura digna do nome e do tamanho do evento.

Na sexta-feira pela manhã, as lojas abandonadas deram lugares a pousadas e hotéis lotados, as ruas vazias viram uma grande movimentação de pessoas e carros com sons automotivos nas alturas. Penha começava a respirar o ar do Dream Valley Festival. Sem dúvida, durante aqueles dois dias a cidade se beneficiou em grande escala com o evento. Na verdade, não só a cidade-sede. Em Piçarras, reduto de muitos participantes do festival, alguns restaurantes estavam lotados, com filas de espera para ocupar uma mesa. Ao passar uma tarde na Praia de Poá, bem próxima ao centro de Penha, um vendedor de picolés parava a todo o momento para vender seus desejados picolés de fruta e brigadeiro - àquela altura, o antes gostoso e barato picolé de limão começou a custar cinco reais.

Além de Piçarras, outras cidades próximas foram importantes para o evento. Navegantes, Itajaí e Camboriú serviram como hospedagem. Por ser muito pequena e oferecer pouco serviço, Penha acabou não aguentando a demanda do festival. Para se ter uma ideia, ainda em agosto praticamente todos os hotéis e pousadas estavam com quartos reservados. Em outubro, em todas as cidades citadas, era complicado achar uma mísera vaga. A saída para alguns foi alugar vans para Florianópolis, e fazer o famoso bate e volta. Cansativo, mas seguro.

Uma festa de qualidade

Se há algo que pode ser elogiado sem ressalvas é a precisão com que os horários do Dream Valley foram cumpridos. Deixando de lado o jeitinho brasileiro de ser e até mesmo renegando o comodismo de alguns consumidores, os organizadores mostraram como é simples e eficiente tornar um evento pontual. Os portões foram abertos na hora prevista e as atrações começaram exatamente no momento estabelecido nos cartazes do evento.

Quem chegava ao Beto Carrero World e entrava pelo castelo do parque ficava maravilhado com a estrutura do local, que não deixa a desejar em nada em relação aos famosos parques de Orlando, nos Estados Unidos. O percorrido até chegar na arena permitia conhecer um pouco do lugar e de seus brinquedos - três deles abertos ao público. Uma montanha russa, uma queda na água e uma torre de 100m de queda. Uma pena que as filas fossem do tamanho das atrações da Disney, por exemplo, e ainda tivessem limite de horário de funcionamento, encerrando as atividades às 23h. Por outro lado, foi uma atitude correta da organização, que visou a segurança daqueles que, irresponsavelmente, iriam embarcar nos brinquedos cheios de bebida alcoólica.

Passada a primeira impressão do parque, chega a hora de entrar no Vale. À esquerda ficava o palco Mystic Stage, que tinha no line-up DJs consagrados da cena underground nacional e internacional. Modesto, escuro e com um ar sombrio, o local recebeu pouca atenção dos cenógrafos, que colocaram apenas uma fechadura de porta, símbolo do evento, atrás da cabine do DJ. O espaço para o público era grande, menor que o do palco principal, mas o suficiente para quem quisesse ver de perto o trabalho de músicos como Gui Boratto, o alemão Dubfire e o DJ canadense Sneak. Talvez o Mystic tenha sido tratado com certo desdém, já que o estilo alternativo não é o alvo principal da Green Valley. Uma pena, pois acabou ficando com ar de mero coadjuvante, quando poderia ser uma opção tão válida quanto à principal, devido aos nomes que tocaram ali.

Para quem entrava e preferia ir direto ao Dream Stage, o principal da festa, precisava pegar outra direção. O clima de mistério permanecia no primeiro dia de evento, já que o público só podia ver o palco por trás. Quando revelado, o público podia ver um imenso palco, com dois grandes telões que mostravam a imagens do evento ao vivo; além de um grande painel de led ao fundo e uma fachada de mais de mil metros quadrados assinada pelo cenógrafo da Beija-Flor, Antonio Carlos da Costa. A grandiloquência das estruturas tecnológicas foram a preferência da organização do DV, que podiam tem caprichado mais na decoração do ambiente. Não bastaram a fechadura gigante ou os cogumelos e flores espalhados ao pé do palco, remetendo ao Tomorrowland, festival mundialmente conhecido e sediado em Boom, na Bélgica.

Nem tudo são flores

Escolhido para ser a casa do Dream Valley, o Beto Carrero, foi o maior problema do festival. A começar pelo alvará. Segundo o Ibama, a festa poderia acarretar problemas para os animais que vivem no zoológico do parque. Estudos mostraram que o impacto causado pelo alto nível do som poderia adoecer e até matar alguns bichos. Foram preciso três tentativas na justiça para garantir a realização do evento. Mas o festival não saiu impune. Para entrar em acordo com o Ibama, o local precisou ser alterado. Previsto para acontecer dentro do Beto Carrero, a estrutura precisou ser montada no estacionamento ao lado do kartódromo, com os palcos de costas para o parque e com a altura do volume usado sendo mais baixa do que o normal. Isso afetou a qualidade do evento, já que o solo era revestido de brita, desde pequenas pedras até algumas de tamanho grandes, que incomodavam e machucavam algumas pessoas. Além disso, muita gente reclamou do volume baixo vindo dos palcos - ainda que a altura usada conseguisse incomodar os habitantes de Penha, como relataram alguns funcionários de restaurantes da cidade.

Outro grave problema do Dream Valley foram os banheiros. As filas para os masculinos e femininos eram enormes, devido a pouca quantidade de estabelecimentos oferecidos. Outra questão que desagradou foram os preços praticados. Uma água, por exemplo, custava cinco reais nos bares - os ambulantes cobravam oito, o mesmo preço de uma fatia de pizza. Além disso, quem não tinha dinheiro em notas, não podia comer, a praça de alimentação não aceitava cartões. Existia também o problema com o estacionamento. Por ser muito amplo, a chance de ficar perdido, sem saber onde parou o carro, era muito grande. Não existiam sinalizações para referências e nem muita iluminação. Sem contar que para estacionar era preciso desembolsar R$ 40. De todos estes aspectos citados, de bom mesmo somente o ótimo atendimento dos bares, feito com rapidez e alegria rara de se ver, até a manhã dos dias seguintes.

O Som do Vale

Algumas expectativas quanto ao line-up não foram atendidas, mas isso não pode ser considerado uma falha do evento. Com certeza, os organizadores tentaram de tudo para trazer as melhores atrações possíveis. Porém, algumas coisas deram errado durante o evento. O duo francês Justice chegou a ser vaiado pelo público. Por mais que o DJ set estivesse dando errado, ficou nítido que eles estavam ali com um baita mau humor. As vaias foram a reação natural do público ao péssimo show do franceses. O que ajudou para tal decepção também foi o fato de eles terem tocado depois de Zedd e antes do aclamado astro pop David Guetta.

Muitos também criticaram a colocação de Sharam no palco principal do evento. Para alguns, o americano teria um som mais compatível com o público underground. Simples questão de gosto e opinião, nada que alterasse o andar do evento, já que o DJ entregou um ótimo set enquanto comandava a festa. Algo negativo e inesperado foi a ausência de apresentações para as atrações. Na transição de um DJ para outro, o silêncio imperava, em alguns momentos a produção chegou a colocar algumas músicas mas nada com a pompa que os artistas mereciam.

Mesmo com alguns erros e defeitos, os acertos foram maiores e suficientes para fazer a alegria de quase 40 mil pessoas. Essa foi a primeira edição, então a qualidade do evento só promete ser melhor nos próximos anos. A organização não economizou em estrutura, seja para quem estivesse curtindo a festa, ou para as pessoas que estivessem nos bastidores. Os funcionários estavam sempre de bom humor, preparados para atender e os seguranças eram bem instruídos. O humor do público foi extremamente cativante, com uma boa energia e sem brigas. Além de ser algo excelente para a produção, a não ocorrência de crimes durante o evento, obviamente tornou o festival ainda mais agradável para a plateia.

A concorrência gringa e nacional é cada vez mais acirrada e o Dream Valley Festival começou bem. Há o que arrumar, novas ideias devem ser implantadas e muitos percalços desta edição precisam ser corrigidos. No entanto, o brasileiro fã de música eletrônica tem agora mais um evento de primeira grandeza e que pode se tornar um dos melhores do país em pouco tempo.

Nota do Crítico
Bom

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