Ed Sheeran deve estar feliz da vida. Batendo recordes atrás de recordes e colocando dois singles ao mesmo tempo na parada da Billboard em primeiro e segundo lugar (com "Shape Of You" e "Castle In The Hill") ele agora lança, ÷ (Divide), seu novo - e ambicioso - álbum, sob os holofotes do mundo inteiro.
Depois de um ano quase sabático, Ed foi juntando material e escrevendo sobre suas experiências longe dos palcos. Agora, em suas 16 músicas novas (na versão Deluxe do álbum), ele faz questão de mostrar que estava preparando para surpreender a todos com seu novo material.
"Eraser" abre o disco já despejando um extenso rap sobre o ouvinte, mesmo tendo o próprio Ed admitido que não saberia fazer rap em “Take It Back”. ÷ (Divide), ao longo de suas canções, tem a ver com isso: a tentativa de superação, o enfrentamento de medos e o desafio de se jogar em território inseguro para provar a si mesmo que é possível fazer quando se tem vontade. “I find comfort in my pain”, ele fala, como numa espécie de aviso. Sim, ele está arriscando mesmo, e daí?
Essa é a ideia. E a ambição é levada a sério. Sheeran toma uma atitude louvável de fugir da zona de conforto e consegue entregar um disco que ainda vai agradar sua base fiel de fãs enquanto mostra uma faceta mais ousada do compositor. Suas marcas registradas estão lá: as melodias que saem do chão e sobem para o céu, as baladas açucaradas e as batidas eletrônicas para tremer o fone de ouvido e fazer todo mundo pular em seu show. Mas, em ÷ (Divide), Sheeran se esforça para que não pareçam tão lugar comum assim.
E quando consegue, o resultado é sublime. A já conhecida "Castle On the Hill" é daquelas que têm tudo para virar um pequeno hino, com seu ritmo acelerado, sua letra motivacional e aquela produção capaz de promover uma mini-catarse quando o refrão explode.
O interessante é perceber que em cada música existe uma malícia maior no seu tom de voz, no seu jeito de entrar cantando, parece que a postura de Sheeran mudou e isso é notável em seu som. "Dive" é um dos melhores exemplos: é uma balada romântica, mas ele não soa como um garoto tímido ou inseguro. Aqui ele derruba seus medos com uma voadora: “Don’t call me baby”, ele berra, impondo sua presença e desafiando o ouvinte. E a música não é suave. Aqui suavidade não tem muito mais espaço. Depois de um ano parado, Ed chegou chegando. E veio cheio de ideias diferentes.
Assim, ÷ (Divide) soa como um caldeirão de influências e estilos e parece que ele quer mostrar tudo ao mesmo tempo. A versatilidade é uma virtude, mas às vezes pode parecer desespero para “acertar” pelo menos alguma coisa. Óbvio que não é o caso de Sheeran, mas às vezes o disco fica um pouco cansativo por causa disso. "Shape Of You" é frenética (e boa) mas cai como um tijolo entre "Dive" e "Perfect", outra balada lapidada para derreter os corações apaixonados com seu arranjo cinquentista. E assim o caldeirão não para de ganhar ingredientes.
"Galway Girl" é um dos pontos altos do disco e quase ficou de fora. Divertida e agora realmente inusitada, é daquelas que grudam na cabeça e faz você assobiar sem perceber. Sheeran brinca com as pessoas que se consideram irlandesas e monta um cenário perfeito onde você fecha o olho e se imagina num pub. Um grande acerto pop.
"Happier" serve de vitrine para um cantor tentando se superar em novos desafios vocais, cheios de backings e melodias épicas. Uma das mais bonitas do disco.
A montanha russa continua e o caldeirão fica mais diverso com a latinidade de "New Man", a explosiva "Barcelona" e a africana "Bibia Be Ye Ye". Sem uma espinha dorsal muito definida, o disco vai e vem em diversos estilos, mas mesmo assim agrada muito.
Sheeran voltou cheio de ambição e ÷ (Divide) é o resultado de alguém que se esforçou para impressionar. Se a força das músicas vai durar, o tempo e as posições recorde nas paradas vão dizer. 2017 promete ser um grande ano para Ed Sheeran. Ouça o novo disco na íntegra.