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Crítica

Lana Del Rey - Honeymoon | Crítica

No auge de seu fervor criativo, musa refina sua personalidade complexa em disco reflexivo

15.10.2015, às 15H42.
Atualizada em 15.10.2015, ÀS 16H11

Que Lana Del Rey é uma mulher ambiciosa ninguém duvida. Esperta, aproveitou o hype que se criou ao seu redor quando estourou na internet e fez um dos discos de estreia mais esperados de 2012. Sua receita de melancolia e acidez gerou frutos e, na época, muitas críticas. Mas os fãs nunca desistiram dela e compraram seus discos aos milhões, transformando-a numa das artistas mais cultuadas dos últimos anos.

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Menos de um ano depois de Ultraviolence, Lana apresenta seu mais novo álbum, Honeymoon, sem mostrar sinais de cansaço ou falta de inspiração. Pelo contrário: ao que tudo indica, ela está no auge de seu fervor criativo.

Claramente mais madura, ela aguça seus desafios a seus desafetos: “Now you're just another one of my problems”, ela dispara em "High By The Beach", deixando claro que qualquer tipo de decepção não a devasta mais, que certas desilusões deixaram de ser a prioridade de seu sofrimento e foram rebaixadas a um perrengue qualquer, como uma conta pra pagar ou uma pilha de roupas para passar. E não há nada pior do que deixar de ser a principal preocupação de alguém, ou mesmo a principal raiva de alguém. A indiferença é pior do que a raiva, o ódio ou a tristeza, e quando o sentimento deixa de ser a maior dor do mundo para virar indiferença, isso significa superação por parte de quem o sente. A fila de Lana andou.

As músicas novas aprofundam ainda mais as texturas e densas camadas sonoras de Paradise e Ultraviolence, fazendo de Honeymoon uma mega-produção que é um exercício para os ouvidos, porque revela nuances que passam batidas se você não presta atenção. “Art Deco” e “The Blackest Day” são dois destaques que refletem a evolução de Lana como intérprete e compositora. É um disco absolutamente reflexivo, com arranjos aéreos e melodias melancólicas mais intensas do que (quase) qualquer coisa de "Born To Die".

É como se Lana estivesse descobrindo a si própria a cada novo álbum e lapidando sua marca registrada “dark”, se arriscando um pouco mais, perdendo o medo de mergulhar mais fundo. Momentos como “Freak”, “Salvatore” – uma arrebatadora performance vocal – e a própria faixa-título, que parece trilha de um filme noir dos anos 40, mostram que o plano ambicioso de Lana está em curso.

E para os ouvidos desavisados que achavam que ela não passava de mais uma diva melodramática passeando por cenários plásticos numa Los Angeles ensolarada, ela dá um recado bem claro aqui. Ao invés de mais uma na multidão, está se tornando a porta-voz trágica e romântica de sua geração. Seu sentimento e sua ambição alteraram a forma de sua música profundamente, ajudando a amadurecer e refinar ainda mais sua persona complexa e tão calculadamente construída desde os dias de "Video Games".

Honeymoon é um triunfo de uma artista jovem que planejou cada passo de sua rota até agora, e que não pretende parar de surpreender tão cedo.

Nota do Crítico
Ótimo

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