Música

Crítica

Liam Gallagher - As You Were | Crítica

Álbum mostra que cantor sabe se virar sozinho

06.10.2017, às 10H42.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H41

Liam Gallagher é uma das figuras mais icônicas - e polêmicas - do rock nos últimos 20 e poucos anos. Sempre disposto a arrumar uma briga e a manter vivo o espírito clichê do roqueiro rebelde, ele fez do Oasis - junto com seu irmão Noel - um dos maiores fenômenos da música pop da década de 90 e emplacou hit atrás de hit com seu jeito único de cantar e com sua atitude obstinada.

Mas de uns tempos pra cá, ele vem amansando a fera interior e tentando mostrar que agora, aos 45 anos, é uma pessoa mais tolerante e disposta a “curtir as pequenas coisas da vida”, como apreciar a paisagem de um parque (como ele mesmo contou numa entrevista recente) ou subir numa árvore.

Se por um lado isso reflete maturidade, por outro significa que quem espera o Liam de sempre pode encontrar algo um pouco diferente do que o “Rock N Roll Star” estava acostumado a fazer. Mesmo no Beady Eye ele ainda abusava de sua persona provocadora e sempre pronta a discutir. Aqui, em seu primeiro disco totalmente solo, ele mescla esse lado com outro menos agressivo, com a guarda baixa, com a vontade de mostrar ao mundo que sabe fazer muito mais. E o resultado é muito bom e interessante.

Liam vem promovendo As You Were há muito tempo e já divulgou alguns singles do álbum que mostram essas pequenas mudanças na sua direção mas que ao mesmo tempo tentam dizer que, apesar de mais calmo, ele ainda é o Liam de sempre. Às vezes isso causa um nó na cabeça porque faixas como "Greedy Soul" ou "Bold" ficam meio em cima do muro: a primeira nem é tão agressiva e a segunda nem é tão melancólica - dois lados que o Oasis sempre soube trabalhar muito bem, diga-se de passagem.

Mas quando ele acerta, é golaço!

"For What It’s Worth" é um dos singles que ele já tinha lançado e mostra que sabe fazer música tão bem quanto seu irmão. A faixa é uma das melhores baladas do disco. Como não poderia deixar de ser, influência escancarada de Beatles e uma sequência de acordes que poderia muito bem estar no disco “Imagine” do John Lennon. Inclusive, qualquer semelhança com “How?” não é mera coincidência. E isso é um elogio.

"Wall Of Glass "é excelente. Aqui sim ele se solta no lado mais roqueiro e entrega uma música empolgante do começo ao fim e cheia de pegada: os ataques agressivos da gaita, a levada constante, as guitarras distorcidas e o baixo pulsante fazem desse single uma das melhores coisas que Liam já fez. Poderia ter sido um super mega hit do Oasis se tivesse sido lançada na época da banda. Tem a marca registrada dele e um dos melhores refrões do álbum. Perfeita para grudar na sua cabeça por horas e horas a fio. E perfeita pra berrar junto no show.

"Paper Crown" é uma balada imponente. Acústica com uma pegada folk, a música traz uma melancolia densa e emocionante e é daquelas que fica cada vez melhor quando se escuta várias vezes. Já nasceu com cara de clássico.

O disco é um triunfo e mostra que ele sabe se virar muito bem sozinho. Claro, as turbulências de Liam como pessoa estão refletidas na criação de Liam, o artista, mas o disco tem ótimas composições (ainda que com a ajuda de muitos parceiros), uma produção impecável e - sim - muito carisma em seu vocal. E esses ainda são os ingredientes que ele guarda na manga pra lembrar ao mundo que Liam Gallagher ainda tem muita lenha pra queimar e não vai sossegar tão cedo.

As You Were não é o disco que vai mudar a sua vida, mas está cheio de bons momentos e referências de um tempo glorioso. É Liam sendo Liam, e isso já é muita coisa.

Ouça As You Were:

Nota do Crítico
Ótimo

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