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Crítica

Shawn Mendes - The Album | Crítica

Shawn Mendes entrega canções mais grandiosas e coerentes com a ambição do título

25.05.2018, às 09H24.
Atualizada em 25.05.2018, ÀS 14H01

A maioria dos artistas não precisa explicar os significados por trás de suas obras. Fica a cargo dos fãs perceberem as intenções e novos caminhos que o seu ídolo está tomando. E, na maioria das vezes, essa é a graça de acompanhar um artista ou uma banda que se gosta. Nossos ídolos nos presenteiam com surpresas e novidades que podem surpreender ou decepcionar, mas não importa. O legal é não saber o que vem pela frente, curtir aquela ansiedade pela chegada do disco novo, do single novo, do novo clipe, e ver o que é que vem por aí.

Alguns artistas, por outro lado, gostam de deixar bem claras suas mudanças de direção na carreira quando atingem um grande nível de popularidade ou quando seus egos atingem um grande nível de tamanho. Felizmente não é o caso de Shawn Mendes, até porque por mais popular que ele já seja - e com muito merecimento - ainda não acredito que seu ego tenha ultrapassado seu talento nem suas boas intenções. Mas ao lançar um terceiro disco auto-intitulado, o artista pode ter revelado um desejo de mudança.  

Em 2007 a Joss Stone lançou mão da mesma estratégia. Depois de ter surgido em 2003 com o Soul Sessions e de ter lançado outro disco em 2005, ela chamou seu terceiro álbum de INTRODUCING JOSS STONE, numa clara mensagem de redefinição de carreira e de direção musical, como se o mundo precisasse conhecê-la de novo. No caso de Shawn, a mensagem é similar, mas mais no sentido de que seus trabalhos anteriores, então, podem ter sido apenas meras compilações de singles sem um grande conceito que os segurasse, e agora finalmente ele fez um álbum no sentido literal da palavra, com músicas que contam uma história e que, principalmente, contam quem ele é agora.

Seja como for, a mudança é clara. E é aí que fica interessante a estratégia de Shawn. As músicas de Shawn Mendes são realmente mais grandiosas, coerentes com a ambição do título. Como se ele quisesse representar a soberania millenial, vem com tudo em grandes funks executados à perfeição e melodias memoráveis, cheias de viradas perfeitas para você decorar rapidinho e cantar junto o dia inteiro. É a geração dele dominando o mundo da música. Não nos deixemos esquecer que ele ficou famoso aos 14 anos postando seus vídeos no Vine e ganhou milhões de fãs praticamente da noite para o dia. Agora, aos 19, ele ainda é um adolescente, mas agora cheio de fama e poder, e é isso que Shawn Mendes representa. É Shawn mais maduro, mais coerente, mais certo do que faz. E o principal: com músicas que traduzem esse momento.

Esqueça a sacarina. Aqui tem um artista cheio de si, querendo mostrar que também sabe encher estádios com muita malícia, groove, batidas e produção impecável. Tem um pouco de tudo nas referências, desde John Mayer, Bruno Mars até Kings Of Leon e Michael Jackson. Shawn mistura tudo e aproveita os melhores ingredientes dessas influências para brilhar em vocais perfeitos como em "Nervous", o mais recente single que depois de ouvir duas vezes você já quer ouvir a terceira, e em "Lost In Japan": um funk de respeito, com a linha de baixo mais interessante do disco e uma música pra deixar qualquer banda grande morrendo de inveja.

"Particular Taste" e "Like To Be You" esbanjam guitarras e violões de gente grande e já trazem um pouco da melancolia dos discos anteriores, mas "In My Blood" é abertura que já esbofeteia o ouvinte de cara quando abre o disco. Apesar de toda a confiança, a letra trata de depressão e mostra que a insegurança não escolhe conta bancária nem sucesso profissional.

Ironicamente, os momentos menos inspirados do disco são os que remetem aos trabalhos passados. "Falling All In You" tem tudo pra ser uma grande balada e um grande hit - feita em parceria com Ed Sheeran e Johnny McDaid (do Snow Patrol) - mas infelizmente a música não deslancha. O mesmo acontece com "Mutual" e "Why", onde o "velho" Mendes aparece a todo vapor com seu romance característico mas sua voz parece já estar em outro lugar.

E esse outro lugar certamente é "Youth", uma das mais surpreendentes do álbum. Poderosa e provocativa, é onde Mendes certamente se vê agora: um dos mais influentes artistas pop do mundo, ativo politicamente e dono de um poder único que conecta suas ideias a milhares de jovens. Por isso, a urgente mensagem da música funciona. "Não vão tirar minha juventude", protesta ele num petardo sonoro contra os ataques terroristas que assustam o mundo.

Desta forma, Shawn Mendes traduz um momento interessante da vida e da carreira de Mendes, e acerta musicalmente. É gratificante acompanhar o crescimento de um artista como ele, que vem se expondo há tanto tempo e não tem medo de arriscar. O álbum é definitivamente uma mudança. E é de artistas dispostos a fazer diferente que a música precisa.

Nota do Crítico
Ótimo

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