Música

Crítica

The Kills - Ash & Ice | Crítica

Processo de reconstrução de Jamie Hince dá origem a uma nova sonoridade

13.05.2016, às 16H48.
Atualizada em 06.12.2016, ÀS 18H01

Depois de colaborar com Jack White no mais recente álbum do projeto paralelo The Dead Weather, Alison Mosshart retomou o trabalho com Jamie Hince e agora lança o novo álbum do The Kills. Ash & Ice chega cinco anos depois de Blood Pressures e foi gravado em Los Angeles e Nova York.

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Além da pausa de Alison para se dedicar ao The Dead Weather, o motivo de tanta demora para um novo trabalho do Kills foi a sequência de cirurgias às quais Hince teve que ser submetido nesse período. Ele teve um dos dedos permanentemente danificado e praticamente precisou reaprender a tocar guitarra.

O lado bom dessa história é que ele aproveitou para fazer um mochilão pela Rússia em busca de novos horizontes sonoros. E o que se ouve em Ash & Ice é nitidamente uma sucessão de boas ideias aguardando sua hora de ganhar vida. Não que você vá ouvir uma balalaica, mas existe um frescor bem-vindo ao rock do Kills, e já no primeiro single isso fica nítido.

O vídeo de "Doing It To Death" tem uma pegada visual bastante experimental e psicodélica, com pessoas sem cabeça enfileiradas num cortejo, passos coreografados e elementos multiplicados, lembrando até algumas imagens feitas antigamente pela clássica "Hipgnosis" para o Pink Floyd, e têm o mesmo espírito de algumas cenas surrealistas imaginadas pelo saudoso Storm Thorgerson. Musicalmente, Alison Mosshart continua encantadora e a música é uma das melhores sacadas do Kills até hoje.

A estrutura é indie mas o tratamento dark e o andamento mais lento deixam a faixa soturna e pop ao mesmo tempo, o que é viciante. O timbre da guitarra também é um ponto alto das ideias do arranjo: super limpo mas tocado com um ataque quase digno de um heavy metal, e uma base eletrônica que de repente entra e toma conta de tudo, explodindo num refrão delicioso e pegajoso que gruda na sua cabeça - que depois você se vê cantarolando sozinho mesmo horas depois que a música já terminou.

Hince conta que o nome do disco surgiu de uma situação até tola, mas que ele gostou da imagem: ele estava num bar tomando um drinque e fumando um cigarro. Ao terminar o drinque, ele apagou as cinzas do cigarro no gelo que sobrou dentro do copo. “É tão simples quanto isso”, disse ele numa recente entrevista.

A qualidade da história é questionável, mas sua simplicidade traduz bastante o espírito da banda. A cena inspirou Hince a ter uma ideia para a faixa título que, com seus contrastes, rege bem o clima de todo o disco. Sons opostos, ritmos opostos, eletrônico com acústico, tudo fazendo uma mistura sonora no mínimo interessante de se descobrir.

"Heart Of A Dog" é excepcional, desde a guitarra impecável - que conduz toda a música com apenas pouquíssimas notas e vai temperando o resto da faixa com alguns ataques geniais de acordes - até a melodia, onde a voz de Mosshart passeia confortavelmente mesmo quando as notas vão lá pra cima. É um rock cru e primoroso.

"Let It Drop" e "Siberian Nights" também deixam claro que aqui o The Kills está menos ansioso e muito mais melódico e emotivo. Em seu quinto disco, a banda parece ter decidido carregar mais seu som, desacelerando o tempo e aumentando a dose de sentimento. E funciona.

Se Ash & Ice vai superar Blood Pressures no gosto dos fãs, só o tempo vai dizer. E para diminuir um pouco a ansiedade de quem espera um álbum novo deles há 5 anos, a banda tuitou: “Obrigado pela paciência enquanto a gente aperfeiçoava nosso ofício, afiava nossos dentes e fazia uma viagem da primeira nota até a última.”

A viagem é boa. Das melhores.

Nota do Crítico
Bom

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