Quando a trágica morte de Avicii foi revelada, em abril de 2018, muitos fãs que se mantinham conectados ao artista sueco foram surpreendidos por algo que não parecia o curso natural das coisas. Tim Berg já havia deixado a extenuante rotina de turnês para trás, amigos e familiares diziam que ele estava em ótima forma, e o artista estava focado na entrega de sua próxima obra, TIM. Um álbum que encerra a trajetória musical de um artista inventivo e que de - praticamente - qualquer perspectiva foi o responsável por levar a música eletrônica mainstream para um patamar não imaginado até então.
Com esse retrospecto sob a lupa (na arte e na vida) e uma alta carga emocional envolvida, TIM é um projeto que coloca em destaque a excelência criativa de Avicii e a vontade de seus amigos produtores de entregar um disco da forma como ele havia pensado. Objetivo alcançado graças a união de dois fatores: Avicii já estava trabalhando no projeto a bastante tempo, e tinha o disco bem adiantado no início do ano passado. Ainda, na ocasião de sua morte, também ficaram registradas diversas versões demo, notas, textos e outros elementos exemplificando exatamente como ele queria que o disco soasse.
De entrada, TIM - assim como os outros projetos criados por Avicii - tem em seu DNA uma sonoridade que deve ser constantemente ouvida nas pistas e nas rádios. Uma mistura calibrada de elementos de fácil absorção e que deve gerar interesse não só em quem já tinha algum tipo de ligação com o que ele entregava, mas também com um novo público em busca de faixas de assimilação rápida.
Um disco que reapresenta alguns dos sons que compõem a assinatura do produtor sueco, misturando elementos pop - que desaparecem como éter - e alguns pontos interessantes da música eletrônica comercial (como o Tropical House e os drops da EDM). Receita que para Avicii sempre soou natural, mas que apresenta uma carga milimetricamente desenvolvida para colocar o corpo em movimento e escalar as paradas de mais vendidos ao redor do planeta.
Com isso em destaque, mesmo com a comoção que uma obra póstuma gera no público, TIM se apresenta como uma produção para dançar e passar por alguns momentos de introspecção embanhada em música pop. Nesse caso, principalmente para quem não tem uma proximidade com a língua inglesa, colocar o álbum para rodar e deixar com que ele embale bons momentos, se torna algo realmente possível.
Porém, mesmo com a nitidez de que o projeto não foi pensado como um pedido de socorro ou como uma carta para ser publicada com a carga que tem agora, é praticamente impossível não criar pontes entre o que aconteceu e algumas composições presentes no álbum, como frases versando sobre a sociedade estar rápida demais, em “Peace of Mind”, ou sobre a necessidade de descansar e de que ouçam seu pedido de socorro em “S.O.S”.
Com esse contraste sempre em destaque, TIM tem como parte de sua aura uma mistura equilibrada entre sons dançantes (eufóricos) e letras que apresentam um artista - talvez - sendo capaz de compreender sua vida e sua forma de expressão de uma maneira mais crua e intensa.
Um projeto que em menos de 40 minutos apresenta participações que vão desde Chris Martin (Coldplay), Aloe Blacc (Conhecido por ser a voz de “Wake Me Up”) até Imagine Dragons, e consegue entregar sonoridades que fogem do básico da e-music comercial - com destaque para faixas como “Peace of Mind”, e suas notas acústicas, “Tough Love”, e seus arranjos de corda, “Excuse Me Mr. Sir”, e a aposta no violão para entregar a atmosfera principal da faixa -.
Porém, TIM não leva o legado de Avicii para um lugar muito distante do que ele vinha trabalhando, mas soa como o primeiro passo em direção a possibilidades mais complexas e que nós, infelizmente, não teremos a oportunidade de saber para onde iria.