Já se passaram quase vinte anos da estreia de Christina Aguilera, feita em seu auto-intitulado álbum de 99. Se o tempo parece muito, parece ainda mais quando se ouve o mais recente disco da vocalista, Liberation, uma declaração clara de seu crescimento. Foram-se os tempos de “Genie In a Bottle” e “What a Girl Wants”; em 2018, a cantora nunca esteve tão forte e segura de si, e seu último álbum é uma prova disso.
Claro que Christina foi uma das criadoras do som dos anos 2000, e sua evolução não é de modo algum um testamento contra seu trabalho de início de carreira. O que mudou na realidade é, principalmente, a representação de sua figura. Enquanto em Christina Aguilera a popstar era um dos símbolos do mercado da música pop, Christina agora aparece como dona de si mesma e sobressai, principalmente, por sua própria arte. Casado com o fato de que tem uma das maiores vozes de sua geração, Liberation é muito bem recebido.
Passaram-se seis anos de seu último álbum, Lotus, o disco menos vendido de sua discografia. Na pausa, Christina cuidou de sua família e passou temporadas em The Voice e fez participação em Nashville, mas nunca se afastou realmente dos lançamentos; mesmo no intervalo entre o último álbum e Liberation, a cantora acumulou sucessos na parada e nas premiações, através de parcerias muito bem sucedidas, como “Fell This Moment”, com Pitbull e “Say Something”, com A Great Big World. Mas o novo lançamento marcou seu retorno real e pode ser até chamado de comeback, já que disco acompanha, também, a primeira turnê de Christina em uma década.
Liberation traz duas faixas antes de sua primeira música de verdade. “Liberation” e “Searching For Maria” são escolhas intrigantes para o começo do álbum, e soam claramente como um renascimento. Enquanto a primeira é um instrumental crescente e belo, a segunda faixa é apenas um trecho vocal de “Maria”, de A Noviça Rebelde, como uma interpretação melancólica do musical, descrita pela própria Christina como uma busca pela versão mais infantil de si mesma. Seguindo com “Maria”, a cantora quase que aperta um reset em si mesma, e descreve o sentimento real de se encarar no espelho ir atrás de seus sentimentos mais primitivos: “como eu me rebaixei tanto, quando eu fiquei tão fria? Dentro de minha mente, eu acreditei em minhas próprias mentiras”. O álbum parece pretender trilhar este caminho, mas nunca tão fortemente quanto em sua terceira faixa, um definitivo destaque de Liberation.
Seguindo com “Sick Of Sittin’”, Christina experimenta com um som muito mais pesado em guitarras, e exemplifica como o poder de sua voz combina com a tensão criada. A partir de então, ela trata de auto-afirmação e brilha quando entrega o dueto com Demi Lovato, “Fall In Line”. Quando duas das maiores vozes do pop cantam juntas a balada empoderadora, o álbum atinge seu auge e exemplifica um de seus maiores valores; Liberation consegue falar de temas relevantes a partir de uma voz pessoal, sem soar egocêntrico, panfletário ou gratuito.
Ao mesmo tempo, ele equilibra as questões mais intensas com faixas leves e despretensiosas e, talvez, menos chamativas, como “Right Moves” e “Like I Do”, motivo pelo qual o disco, infelizmente, perde o fôlego em sua segunda metade. Mesmo assim, ele ainda atinge belos momentos em “Twice” e “Masochist” e surpreendentemente fecha em uma balada romântica e doce, “Unless It’s With You”. Com um piano melancólico ao fundo, o disco encerra com uma performance fortíssima de Christina, que em um contexto suave, traz um de seus melhores momentos vocais.
Com bons altos e alguns baixos, Liberation se sustenta no poder de sua autora, que batalha contra suas próprias falhas na auto-afirmação de seu talento. Em 2018, a estrela do pop deixa o seu álbum mais maduro e abre portas para caminhos que explorem mais profundamente o seu potencial de diva.