Madonna – Madame X

Música

Crítica

Madonna – Madame X

Madonna lança álbum moderno e esquisito, que só ela poderia fazer

14.06.2019, às 12H38.

Já faz muitos anos que Madonna não precisa provar nada para ninguém. Isto permitiu que a Rainha da Pop não tenha que se preocupar de verdade com seu sucesso nas paradas há tempos, mas talvez isso nunca tenha ficado tão claro quanto em seu 14º álbum, Madame X. Nele, Madonna depositou todas as suas esquisitices e, em 15 faixas que misturam política, sexo e ponderações de auto-conhecimento, flutuou entre o mais puro disco dos anos 80 até o moderno reggaeton. O que une as músicas em Madame X é o trabalho de uma compositora livre de pressão comercial, exibindo uma autonomia artística que nenhuma outra popstar tem.

Não há nada de convencional em Madame X, o que faz com que diversas vezes o sentimento de desconforto predomine no ouvinte, mas se tem algo que não desliza é a produção. As batidas e arranjos do álbum, recheado de coros inesperados, não decepcionam nunca, e chamam atenção principalmente em “Batuka”, possivelmente o trabalho mais completo do álbum. Junto com seu frequente colaborador de produção Mirwais, além de Mike Dean, Billboard e Diplo, o trabalho é um exemplo de uma das melhores sonoridades da Madonna, que mais uma vez comprova sua habilidade de evoluir com o som atual. Mesmo quando pesa a mão no auto tune, Madame X não usa suas técnicas de modo gratuito.

O que vacila no álbum é resultado dos riscos de letra e das experimentações pseudo-grandiosas que Madonna constrói. Isso não é novidade na carreira da compositora, e quando ela acerta ela faz muito bem, como é o caso de “Dark Ballet”. Mas quando Madonna erra, como em “God Control” ou “Killers Who Are Partying”, a falha é difícil de ouvir. A última traz a cantora na posição de heroína dos indefesos – nada inédita em sua carreira, afinal, estamos falando da Madonna - mas na faixa ela acaba atirando para todos os lados com frases pobres, e não se encontrando em lugar nenhum. Mesmo assim, de modo geral, Madame X chama muito mais atenção pelos riscos bem-sucedidos do que nos seus erros.

Madonna acerta em todos os gêneros que mira, e usa suas parcerias muito bem, trazendo o melhor de Maluma, Swae Lee e Quavo em suas respectivas colaborações. A esperada parceria com Anitta, “Faz Gostoso”, aliás, faz perfeito sentido. Madonna sempre fez questão de se unir com os maiores nomes do pop, de Britney Spears a Nicki Minaj, e em “Faz Gostoso” ela tirou proveito do chiclete da carioca e encaixou com uma produção certeira. A faixa, aliás, é apenas uma de diversas em português de Madame X. Pode ser esquisito, mas ouvir a voz de Madonna em frases como “eu te amo mas não deixo você me destruir” é irresistivelmente carismático. Ainda, apesar de Madame X focar muito mais no pop selvagem, a cantora brilha também quando mostra sua vulnerabilidade, o que acontece perto do final do álbum, em “Extreme Occident” ou “I Rise”.

Madame X fecha como um trabalho vacilante mas decididamente notável. É mais um passo na carreira de uma compositora que sempre chamou atenção por sua evolução, e tem seu maior mérito por ser absolutamente único. Não há ninguém no pop fazendo o que Madonna faz. Isso acontece, simplesmente, porque só Madonna é Madonna.

Nota do Crítico
Bom

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