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Da gema

Da gema

28.11.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.01.2017, ÀS 07H03

O que é ser "da gema"?

Antes de mais nada, quero esclarecer uma coisa que a meu ver é muito importante e fundamental para o sucesso do nosso relacionamento: não tenho absolutamente nada contra os paulistanos, ok? Dito isso e esquecido qualquer tipo de bairrismo ou rixa, vamos ao que interessa.

Quero começar lançando uma pergunta: Quem é o carioca para o resto do país, principalmente para quem vive em São Paulo? Calma aí. Não estou falando daquela imagem bacana, do turista hospitaleiro, bem-humorado e sorridente.

Fernanda Abreu, Marcelo D2, Frejat, Evandro Mesquita ou Gabriel Pensador seriam representantes típicos da cidade maravilhosa, certo? Todos cheios de ginga, malandragem e sotaque carregado - apesar de que carioca que é da gema mesmo, acredita não ter sotaque. Letras de músicas como "Bebel", do Farofa Carioca, "Qual É?", de D2 ou "Zero Vinte e Um", do Planet Hemp, reforçam essa máxima de que o morador do Rio de Janeiro é aquele cara gente boa, que leva a vida na flauta e que só quer saber de sol, futebol, azaração e uma cervejinha no final do dia de preferência, acompanhada por um bom pagodinho ou funk.

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"Bebel/o meu pneu furou/Bebel/o rio inundou/Que desculpas eu vou dar quando chegar?" (Farofa Carioca)

"Solteiro no Rio de Janeiro/parado em qualquer praia/só solto em qualquer lugar/.../tira a camisa/esse clima tá de abafar/liberem suas delícias/parado não dá pra ficar" (Toni Garrido)

"Cariocas são bonitos/cariocas são bacanas/cariocas são espertos/Cariocas são tão raros/Cariocas não gostam de dias nublados" (Adriana Calcanhoto)

Há mais ou menos dois anos, vem até se tentando criar um novo rótulo por aqui, a tal MPC (Música Popular Carioca), nominho boboca que não significa nada, mas que a mídia tentou nos empurrar goela abaixo. Fernanda Abreu, Pedro Luis e a Parede e o grupo Boato foram eleitos como alguns de seus representantes. Mais recentemente, com o lançamento do segundo álbum de Moreno Veloso, a coisa extrapolou quando o Segundo Caderno do jornal O Globo apareceu com uma tal de MPBG (Música Popular do Baixo Gávea), antro dos aspirantes a intelectuais e militantes intelectualóides em geral. Seu Jorge, o já citado Moreno Veloso e Cassin, foram alguns dos eleitos para estar neste seleto e irrelevante grupo.

E não é só na música que a imagem é essa. Até as telenovelas estão impregnadas pelo estereótipo. Em Mulheres Apaixonadas, por exemplo, isso era gritante. Antes de sair para o trabalho, boa parte dos personagens (entre eles empresários e médicos de sucesso) ia até a praia, dar sua caminhada ou jogar um voleizinho básico, só para relaxar. Falando sério, dá para contar nos dedos quem tem tempo disponível para este tipo de atividade. São as mesmas pessoas que, se morassem em São Paulo, Porto Alegre ou qualquer outro lugar, se adaptariam à falta da praia e provavelmente fariam o mesmo em um parque.

Mas por que as novelas e às vezes até os filmes (vide Como Ser Solteiro), insistem em retratar o carioca de forma tão caricata? Tudo bem, a caricatura faz parte do jogo para este tipo de veículo. Também não da para acreditar que o paulistano seja o tempo todo aquele ser neurótico, estressado e que trabalha 25 horas por dia. Mas pense bem: é bem mais interessante ser associado ao bom trabalhador do que ao malandro.

Além da praia e da cervejinha

"A violência é tão fascinante...", já dizia Renato Russo. Esta é a outra faceta do Rio de Janeiro visto através da música pop. E no que depender dos funkeiros e MCs em geral, vai continuar sendo assim. Letras glamourizando a violência nos bailes, endeusando traficantes e detonando a polícia estão aí para não me deixar mentir. O fenômeno do "Proibidão", CDs que vinham com essa inscrição na capa e que traziam músicas com letras explícitas sobre armas, propinas para a polícia e descrição de assassinatos, eram vendidos sem problemas nos camelôs do centro e acabaram se tornando destaque nos jornais fora do Rio também, tamanho seu sucesso.

E nem é preciso ter um desses na mão para ouvir sobre a violência glamourosa carioca. "Cidade maravilha/purgatório da beleza e do caos" ("Rio 40 graus") de Fernanda Abreu, assim como quase todas as letras de MV Bill estão aí, nas pistas de dança das boates e dos bailes nas favelas, banalizando o crime organizado, o tráfico e a ação policial.

É claro que há um pouco - se não muito - de verdade em todos estes estereótipos. Mas é importante lembrar que a idéia de "Cidade maravilhosa/cheia de encantos mil" ainda pode valer, apesar de tudo.

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