Música

Artigo

Da gema

Da gema

28.06.2004, às 00H00.
Atualizada em 08.11.2017, ÀS 21H00

O rock não seria o mesmo

Outro dia presenciei uma discussão de mesa de bar que tentava definir quem havia sido mais importante para o rock nacional: Cazuza ou Renato Russo. O grupo era formado por meia dúzia de meninos e meninas entre seus 14 e 18 anos e que, por isso mesmo, nem viveram os primórdios do rock made in Brazil. Eles conhecem a tal geração 80 apenas pelo que toca no rádio hoje ou pelas bandas que sobreviveram ou voltaram à ativa.

A dúvida que, para falar a verdade, é bem difícil de ser esclarecida, surgiu a partir do novo longa de Sandra Werneck e Walter Carvalho, Cazuza - O tempo não pára. Filme bacana que, além de matar as saudades de quem sente falta da poesia do compositor, também soa um tanto nostálgico para quem viveu a adolescência no Baixo Leblon - ponto de azaração da década de 80, mas que atualmente perdeu muito de seu glamour.

Mas voltando à questão inicial, pode-se dizer algumas coisas e a principal delas é que existiam algumas diferenças básicas entre os dois. Cazuza era expansivo, baderneiro e gostava de ser visto dessa forma. Queria falar o que pensava, passar suas mensagens, mas não estava lá muito preocupado com a maneira de fazer isso. Rebelde, rude e, às vezes, até violento em seu discurso A burguesia fede.... E logo ele, tão burguês.

Este era o maior problema do compositor carioca. Era a partir desse seu estilo desbocado, debochado e exagerado que abria espaço para as críticas que o viam simplesmente como um garoto mimado, filhinho de papai - afinal seu pai era dono de gravadora - que só queria mesmo era chamar atenção.

Renato Russo, por sua vez, era mais maduro, mais preocupado não apenas com o conteúdo do que dizia mas também com a forma e com quem estava falando. Tinha lá seus momentos de agressividade também, mas em geral, apesar de sempre ter tentado negar isso, estava ali posando de irmão mais velho da galera, com letras que, muitas vezes veladamente, traziam conselhos e principalmente, diziam o que os jovens queriam ouvir da boca de alguém que parecia fazer parte do mundo deles.

E esta talvez seja a única grande diferença entre eles. E a partir dessa diferença, não é difícil entender porque Renato está tão vivo hoje para uma garotada que nem tinha nascido quando a Legião Urbana ainda se chamava Aborto Elétrico, ou mesmo quando a banda subiu pela primeira vez ao palco do Circo Voador.

Cazuza também sobreviveu ao tempo. Mas a própria diretora do filme já admitiu que o longa funciona quase como uma apresentação do ex-Barão Vermelho às novas gerações. A obra deixada por Cazuza está mais presente e mais próxima de quem viveu efetivamente aquela época áurea do rock nacional, para quem, de alguma forma, fazia parte daquele universo, da noite carioca, da Tribo do abraço.

E a pergunta continuará sem resposta. Cada um de sua maneira, certamente teve papel fundamental para a solidificação do rock brazuca, junto com outros nomes bem menos lembrados, como Júlio Barroso - ex-líder da Gang 90.

Mas isso, já é uma outra história.

Quantidade nunca foi qualidade

Uma coisa é engraçada nessas nossas colunas pop que, aliás, cada vez mais se espalham pela Rede, quase como uma praga mesmo: perde-se tempo demais endeusando tanta gente para, na semana seguinte, descobrir que aquela bola da vez, na verdade, nem era tão boa assim e então, substituí-la por outra e assim sucessivamente. O resultado disso é que, às vezes, não se dá o devido valor a quem realmente tem alguma coisa para dizer.

Talvez a culpa seja do excesso de informação. É preciso estar sempre ligado em TUDO o que está acontecendo em TODO o mundo e, sinceramente, ninguém dá conta. Mas uma maneira de mostrar que se está antenado é optar pela quantidade, não pela qualidade. O que importa é o número de bandas de que se fala, estar sempre atrás de ouvir e falar sobre o que ninguém disse ainda. O que vale é conhecer o que há de novo e julgar de acordo com o momento. Não há mais tempo para se aprofundar em coisa alguma.

É verdade que ninguém mais tem paciência para discutir um tema por mais de cinco minutos? Por favor, discordem. Mandem e-mails para a coluna.

Tudo isso veio à tona para mim quando ouvi o CD de estréia do Franz Ferdinand. Bom? Maravilhoso! E o mais legal: não tenta imitar ou se inspira claramente em ninguém. No entanto, pouco se falou dos caras. E por quê? Será exatamente que, por não se parecerem demais com outra banda, ficou difícil analisar sem poder fazer comparações? É bem mais fácil comparar. Economiza tempo para quem escreve poder correr atrás de outra nova melhor banda do ano.

Acredito que minha caixa de e-mails possa lotar por causa disso mas vou perguntar assim mesmo: o que há de tão especial em Keane? A banda que queria ser o Coldplay, que por sua vez, queria ser o Radiohead (tudo bem. Chris Martin já descobriu que tem um super carisma e tal), lançou um disquinho de estréia chorumela que se tornou a sensação do pop e por quê? Se alguém tiver boas razões, estou disposta a ouvir.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.