Música

Entrevista

Sepultura Endurance | Integrantes falam sobre detalhes do projeto que conta a história da banda

Documentário levou oito anos para ser finalizado e chega aos cinemas no dia 14 de junho

13.06.2017, às 13H45.
Atualizada em 13.06.2017, ÀS 14H00

O documentário Sepultura Endurance nasceu como projeto para comemorar os 25 anos de carreira do Sepultura. Mas, como na arte nem tudo acontece conforme o planejado, o filme levou quase oito anos para ser produzido, e chega aos cinemas integrando a comemoração dos 30 anos da banda na estrada. O longa dirigido por Otávio Juliano surge como um novo capítulo na história da banda brasileira, atualmente é formada por Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto (baixo), Derrick Green (vocais) e Eloy Casagrande (bateria) que conversaram com o Omelete sobre o processo e a importância do material para a história de um dos principais nomes do rock mundial - veja trailer.

Já na coletiva de imprensa, Xisto fez questão de destacar que Endurance é um “projeto para quem curte o Sepultura poder realmente entender o que aconteceu com a banda e o que vai acontecer. Já para quem não conhece, esse pode ser uma porta para essa história”.

E apesar dos longos anos em produção, a banda é unânime em afirmar que o projeto foi lançado na hora certa. “Em alguns momentos achamos que poderia não rolar, mas uma hora ele iria sair e saiu no momento certo”, destaca Kisser.

Enveredando por esse caminho Kisser também comenta que um dos grandes desafios em ser objeto de um documentário é se acostumar com o diretor. “Acho que a gente, se não fosse pelo Otávio, não teríamos feito com nenhum outro diretor. Tivemos uma empatia, uma química e foi muito rápido”.

O início do projeto
A história do relacionamento entre a banda e o diretor começou quando o grupo apresentou, na Virada Cultural de 2011, o projeto Sepultura e Orquestra em conjunto com a Orquestra Experimental de Repertório. “Nós montamos essa parceria com a orquestra e ao mesmo  tempo plantamos mil mudas de pau-brasil no interior da Bahia, por meio do projeto Árvore da Música”, destaca Kisser.

As conversas começaram a partir desse evento, com a banda planejando a realização de um documentário para comemorar os 25 anos na estrada, mas a produção só foi finalizada com o grupo comemorando 33 anos. Sobre o período de gravação, Kisser faz questão de ressaltar que esse tempo foi necessário. “Ele [Otávio] chegou tranquilo, a gente trocou uma ideia, ele filmou shows, filmou camarim, a gente passou o contato dos músicos que a gente conhece, Megadeth, Metallica, e aí ele começou a coletar os depoimentos até praticamente se tornar parte do crew do Sepultura”.

O que o projeto mostra
Kisser comenta comenta também que o diretor pôde acessar todos os arquivos de fotos e ensaios do Sepultura para que ele pudesse trabalhar. “A intenção do projeto é mostrar o presente, mesmo. O que é fazer parte de uma banda como o Sepultura. Os irmãos, a saída, empresária. Toda a mudança de tecnologia, a entrada do Derrick, tudo!”. O diretor também estava acompanhando a banda quando Jean Dolabella, o baterista que substituiu Iggor Cavalera, decidiu deixar a banda e novo baterista, Eloy Casagrande iniciou sua trajetória no Sepultura. “O Jean saindo… O Eloy entrando, foi tudo muito importante na nossa história e ele [o diretor] tava ali. Porra, o primeiro ensaio do Eloy… Já é foda o cara fazer o teste com a gente, e já tinha um cara filmando tudo”.

As mudanças na banda
O Sepultura, principalmente após a saída de Iggor Cavalera, em 2006, passou por mudanças rápidas nas baquetas. Sobre essas entradas e saídas, e tudo o que elas acarretaram na sonoridade do grupo, Kisser afirma que cada pessoa que passou pelo Sepultura deixou a sua marca e trouxe algo novo, “desde a saída do Max até a entrada do Eloy”.

O músico segue enfatizando que o segredo para a banda continuar funcionando depois dessas mudanças é pensar no agora. “É o que eu falo do presente, sabe? É o MacGyver, você tem uma garrafa de água com açúcar e você faz uma estátua, é meio isso. Trabalhar com o que a gente tem na mão, não ficar chorando o leite derramado e nem uma expectativa de ter coisas no futuro. É ter aqui e agora, sabe? E esse é o ponto fundamental da banda ter sobrevivido, principalmente quando o Max saiu que foi o momento mais crucial. Lá a gente não perdeu só o vocalista. O empresário foi embora, toda a estrutura que demorou dez anos pra construir, o cara levou tudo pra ele. O primeiro disco do Soufly [banda montada por Max Cavalera após sua saída do Sepultura] foi gravado no mesmo estúdio do Roots, com a mesma equipe, a única coisa diferente eram baixista, baterista e o guitarrista. O resto, o Max levou tudo e a gente teve que começar do zero. O que hoje em dia eu vejo como uma coisa muito positiva, porque a gente teve que reestruturar, aprender coisas novas, improvisar, não só musicalmente, mas na vida”.

A vida na estrada
Em um trecho do documentário é possível ver a conversa dos membros da banda com o ex-baterista Jean Dolabella em um momento no qual eles falam sobre passar muito tempo longe de casa em turnês e viagens, detalhe que culminou com a saída do músico do grupo. Sobre essa rotina intensa que o Sepultura tem na estrada, Kisser fala que as coisas não mudaram após a saída de Dolabella. “Não é a gente que escolhe [como as turnês vão funcionar]. A gente acabou de sair de duas turnês com bandas tradicionais e até mais antigas que o Sepultura, o Kreator e o Testament. Eles têm o mesmo ritmo, velho. O mesmo ritmo, de segunda a segunda, só o Metallica não faz isso”.

Xisto aproveita e complementa, “Não tem esse negócio de deu cinco horas, bateu o ponto e vai pra casa”.

Kisser exemplifica como o ritmo do grupo é intenso desde o começo: “É um outro ritmo e no nosso estilo é muito difícil você conseguir um patamar de tocar em estádio, enfim… Eu acho que o ritmo do heavy metal é esse. Desde 89, quando a gente começou a fazer turnê fora do Brasil… A primeira turnê que a gente fez fora do Brasil, sem crew, sem falar inglês direito, com uma banda alemã que tava pouco se fodendo pra gente, foram 16 shows direto, não teve day-off. 14 dias, 16 shows, até a gente ter uma folga em Londres, que foi o dia que a gente conheceu o Lemmy. E pra gente é aquilo, a gente tava vivendo o nosso sonho e até hoje a gente tá vivendo o nosso sonho, porque ele é muito real. É melhor que um sonho, é real, a gente tá lá realmente fazendo”.

Roots e uma nova história
E claro, com o documentário, alguns dos grandes momentos do grupo vêm à tona e o principal deles é a turnê de Roots. O projeto lançado em 1996, mostrou a banda apostando em uma mistura sonora completamente diferente, misturando sonoridades brasileiras ao metal. O resultado levou o grupo a excursionar pelo mundo, lotando estádios e chamando a atenção de grandes nomes do metal mundial. Sobre esse momento da banda, Kisser destaca que durante o Roots não existiu zona de conforto em nenhum momento. “O disco vendeu muito, o Sepultura estava tocando em arenas na Europa, a gente tava lotando lugares que o Kiss lotava em 96, mas o backstage era um caos. Não entre a gente, sabe? Mas essa relação banda, Max e empresária. Era uma coisa muito desconfortável completamente caótica, entendeu?”.

O grupo finaliza a conversa comentando que não acredita que o Sepultura Endurance seja um divisor de águas, mas sim uma onda que faltava na história da banda. “Eu acho que não divide nada, ele só acrescenta, tem o ponto de vista do outro lado, tem o ponto de vista que o Otávio conseguiu captar com as entrevistas e tudo que a gente queria falar. Tem depoimento da galera que é muito mais importante do que o nosso próprio depoimento. Pessoas falando da própria experiência que tiveram com o Sepultura. Mas eu acho que um divisor de águas é o Machine Messiah [novo disco da banda], que abriu novas possibilidades pra gente. E sair junto com o filme, nesse mesmo ano, eu acho que é emblemático, algo que não foi planejado, mas que aconteceu de forma perfeita no nosso calendário”.

Sepultura Endurance chega aos cinemas brasileiros no dia 14 de junho com uma estreia diferente. A produção dirigida por Otávio Juliano, será disponibilizada em uma grande quantidade de salas de cinema no país e para essas sessões especiais irá contar com duas músicas - após os créditos finais - filmadas em 4K, durante o show de comemoração dos 30 anos da banda. No dia seguinte o filme segue para salas de cinema selecionados ao redor do Brasil.

Sepultura Endurance chega aos cinemas brasileiros no dia 14 de junho e permanece em circuito restrito a partir do dia 15 e junho.

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