Há semanas, publicamos uma série de artigos sobre a história e os meandros da música eletrônica. Dissecamos o início desta vertente e mostramos as diferença entre seus principais e mais adorados estilos, como house, drum and bass, trance e techno.
deadmau5
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skrillex
Para finalizar o especial, preparamos uma matéria sobre a evolução da EDM no Brasil. Conversamos com DJs e promoters nacionais, para termos uma noção do quão importante é o nosso país na evolução deste gênero.
A nova Meca da música eletrônica
No âmbito comercial, há anos o Brasil deixou de ser o país do samba e da MPB. O crescente poder aquisitivo da população torna seus gostos cada vez mais caros, exigentes e, em sua maioria, estrangeiros. O ramo do entretenimento se tornou um dos mais lucrativos setores de negócio do país, trazendo as principais atrações do mundo para shows e até turnês em terras tupiniquins. Dentro deste segmento, um dos mais visados por produtores de eventos nacionais e promoters internacionais, são as festas dedicadas à música eletrônica.
De acordo com os dados divulgados pela Rio Music Conference - um dos maiores congressos de EDM do mundo, realizado no Brasil - em 2011, somente com os valores de ingressos, o cenário brasileiro de e-music movimentou cerca de US$ 515 milhões, ou seja, mais de um bilhão de reais. Se comparado com o desempenho do ano anterior, é evidenciado um crescimento de 56,64%. Estes números fizeram a renomada revista Forbes publicar o artigo "Esqueceram da Bossa Nova: o Brasil agora é o país da música eletrônica", em fevereiro deste ano. O bom desempenho da e-music extrapola o gosto pessoal da população - a pesquisa aponta um público aproximado de 20 milhões de pessoas -, levando um aquecimento econômico aos setores de transportes, hotéis e transporte das cidades que alocam evento do gênero. Ao incluir na conta estes avanços, a EDM movimentou no Brasil aproximadamente 1,2 bilhão de reais no ano passado.
Para Marcelo Frazão, diretor de entretenimento da GEO Eventos - empresa responsável pelo Lollapalooza Brasil e pelo XXXperience -, a movimentação da cena eletrônica brasileira começou há cinco anos. "Desde então a e-music deixou de ser algo restrito e hoje faz parte da música popular. Não há mais algo fechado, dirigido somente a um público segmentado. Quem gosta de Coldplay e U2, por exemplo, astros pop, pode e muitas vezes gostam de música eletrônica", fala. A expansão começou em pequenas festas e depois começou a aparecer no final de grandes eventos, que não necessariamente tinham ligação com a EDM. "Os bons DJs saíram dos clubes fechados para começar atuar em festas como o carnaval de Salvador. Nos últimos anos, por exemplo, a exposição chegou a mídia aberta, com grande nomes da EDM tocando em reality shows na TV e até em lançamentos de filmes no cinema", conta o DJ/produtor Bernardo Novaes, que tocou na última edição do Big Brother Brasil, da TV Globo.
Sem fórmulas para o sucesso
Para se tornar popular mundialmente, a música eletrônica precisou ser protagonista no cenário musical estadunidense. Foram muitos anos para que ela deixasse a marginalização artística e se estabelecesse como uma forma de arte reconhecida. A evolução da disco music, do house e do techno ajudaram bastante nessa evolução, mas ainda precisava de uma inclusão imediata no cotidiano dos fãs de rock e pop. O Lollapalooza Chicago foi um dos primeiros a colocar um astro da e-music como sua principal atração. "Quando eles colocaram o Daft Punk como headliner em 2007 a visão de muitos empresários mudou. O público se mostrou interessado e as atrações de EDM viriam a ser obrigatórias nos festivais", diz Marcelo Frazão, da GEO Eventos, lembrando ainda a constante presença de DJs como headliners em festivais como o Coachella.
Para alguns, a demanda por este tipo de evento sobrepôs a preocupação pela qualidade musical. Em sua coluna na revista House Mag, a jornalista Gabriela Loschi aponta a voracidade dos estadunidenses como um dos maiores motivos pela globalização da música eletrônica. "Enquanto nós discutíamos a perda de qualidade do som ao deixar de ser underground e a consistência da cena quando agrega a massa, eles não quiseram nem saber. Decidiram que mais gente é bom e ponto. Eles sempre foram bons em expandir a própria cultura. Se nós já gostávamos e preparamos terreno para esse crescimento, agora os Estados Unidos - que nunca entram pra perder - dão aquela força", escreveu.
Uma das preocupações de Loschi ao escrever o texto era a identidade da cena eletrônica brasileira - "Resta saber se teremos um cenário cada vez mais americanizado - com influências europeias - ou se acharemos nossa identidade", diz a jornalista. Para Frazão, há anos no ramo do entretenimento e há três organizando a versão brasileira do Lolla - que em 2012 trouxe Calvin Harris e Skrillex, e em 2013 trará deadmau5 e Steve Aoki - não há como importar um estilo de evento. Adaptações e uma reformulação de todo o estilo musical e até mesmo do evento deve ser revisto ao se implantar uma festa no Brasil. "Os astros são os mesmos em todo o lugar do mundo, mas não há fórumla para os festivais. É preciso respeitar a característica local. É isso o que fazemos com o Lolla e com o XXXperience, por exemplo", comenta. Este ano, o XXX traz a São Paulo artistas como David Guetta e Armin van Buuren.
Festivais de música. Música eletrônica.
A junção da popularidade da música eletrônica e o bom momento econômico do Brasil são alguns motivos relevantes para o sucesso dos eventos musicais aqui alocados. A chegada de franquias como Lollapalooza, SWU, Coachella e Boonaroo são a evidência da boa visão que o meio empresarial do entretenimento tem para com o país. Fora as marcas internacionais, existem muitos outros eventos nacionais - com renome mundial - que também compõem um dos melhores calendários de festas eletrônicas no planeta. Além de agora ser considerado a Meca da EDM, o Brasil é destino certo para os grandes artistas - o que causa uma disputa acirrada entre o empresariado local.
"O processo para contratar uma grande banda pop ou um ótimo DJ é muito semelhante, o que muda é a mobilidade, por razões de equipamento e logística. Para quem quer contratar bons DJs, isso tem um lado bom - a facilidade em transportar a equipe -, e um lado ruim, pois as agendas ficam muito lotadas. Não raro, as disputas que nós temos na GEO são nacionais, sem interferência de eventos de outro país", conta Marcelo Frazão, que traz em 2013, deadmau5 e Kaskade para o Lolla 2013. Em 2012, a aposta de Frazão e da GEO na música eletrônica deu certo no Lolla. "A área destinada à e-music lotou e até excedeu sua capacidade. Quem gostava ou quem não conhecia o Calvin Harris e o Skrillex foram para lá e gostaram. Foi um dos maiores sucessos da edição passada", revela o empresário.
Para o próximo festival já foi anunciada a presença, pela primeira vez no Brasil, de um DJ como headliner, o canadense deadmau5. "Foi uma aposta ainda maior. E por incrível que pareça, a resposta foi tão boa quanto nós esperávamos. Os ingressos se esgotaram rapidamente e o feedback do público foi extremamente positivo", revelou Frazão - os primeiros passaportes para o Lollapalooza 2013 esgotaram em aproximadamente 15 horas. A presença de nomes como Pearl Jam, The Killers e Queens of The Stone Age claramente ajudou a acelerar as vendas, mas o diretor explica que a variedade, principalmente em um festival, é o que faz ele se tornar um sucesso. "Não há mais a exigência por um estilo só. Com isso, nós temos uma liberdade maior em trazer outros artistas e cada vez mais apostar em gêneros como a e-music. Afinal, um dos papéis de um festival de música é apresentar uma nova temática artística para seus frequentadores". Outras marcas de entretenimento também começam a direcionar seus esforços para a EDM, como por exemplo, o Rock in Rio, que deve ter um evento exclusivo para este tipo de música.
Há anos, a música eletrônica deixou de ser um gênero desprezado. Mais do que cair no gosto popular, ela se tornou elemento preponderante na composição de hits de grande artistas - vide U2, Coldplay, Rihanna, Madonna, Lady Gaga -, além de ser um item indispensável para o sucesso de grandes eventos musicais. Não há como ignorar a força da e-music no cenário da música e da cultura mundial. Goste ou não, é algo que já faz parte do cotidiano de quem escuta qualquer tipo de música.