A dedicação de Dave Grohl em tocar no Brasil nunca deixa de impressionar. Talvez por trauma dos shows horrendos que fez com o Nirvana por aqui 30 anos atrás, o frontman tenta se superar em grandiosidade e simpatia sempre que vem ao país com o Foo Fighters. Mais do que simples “obrigados” ou “vocês são o melhor público do mundo”, Grohl e companhia mostram um carinho genuíno pelo público brasileiro, que responde, ano após ano, gritando até as músicas mais ou menos do sexteto a plenos pulmões. No quarto dia de The Town, a história não foi diferente. No último sábado (9), o Foos voltou a botar centenas de milhares de fãs já exaustos para dançar, cantar, gritar, chorar e tudo mais que tinham direito ao longo de duas horas e meia de uma apresentação impecável (de novo).
Em Back and Forth, documentário de 2011 sobre o Foo Fighters, a banda classificou “All My Life” como a música-chave para ou salvar shows que não iam bem ou para consagrar algumas de suas melhores apresentações. Mais de uma década depois, a canção de 2002 se tornou a abertura perfeita para o espetáculo que Grohl comanda sobre o palco. O cantor, aliás, pouco precisou fazer em seus primeiros segundos sob os holofotes — assim que o riff icônico tocou, a plateia já estava 100% entregue.
Ainda que Grohl sempre comande o público de forma hipnótica, a apresentação do Foo Fighters no The Town teve uma sensação muito mais simbiótica do que em outras passagens deles por aqui. Talvez pelo verdadeiro mar de gente gritando “WHO ARE YOU?” em “The Pretender”, talvez por ser a primeira vez que pisa em São Paulo desde a morte de Taylor Hawkins às vésperas do Lollapalooza 2022, o frontman parecia encontrar nos fãs a certeza de que levar a banda em frente após a morte do amigo foi a escolha correta.
Essa simbiose ficou ainda mais clara durante as versões intimistas de “Times Like These” e “My Hero”. Acompanhando Grohl, o público se tornou um enorme coral a céu aberto, que deu aos hits uma atmosfera ainda mais grandiosa do que a que eles já têm em seus arranjos normais. Não que o show tivesse, até estes momentos, faltado com emoção, mas era claro que essas canções em especial, assim como “Aurora”, dedicada a Hawkins, afetaram os presentes de forma profunda — eu, aliás, não fui completamente capaz de segurar as lágrimas quando o setlist chegou ao single de The Colour and the Shape.
Apesar do Foo Fighters vir ao Brasil até com certa frequência desde o lançamento de Sonic Highways — infelizmente o único disco não contemplado nesse The Town —, o festival estava cheio de gente que nunca teve a oportunidade de ver a banda ao vivo. Reconhecendo (e cobrando!) essa parcela do público, a banda não perdeu tempo em dedicar praticamente todo o seu set a esses recém-chegados, que em troca se permitiram deixar levar pela congregação cada vez mais numerosa que Grohl forma ano após ano.
Mesmo os pontos “baixos” do show do último sábado passaram anos-luz longe da decepção. Por mais que uma parte do público (de novo, eu incluso) não tenha começado as mais recentes e menos populares “No Son of Mine” ou “The Glass” na maior das animações, bastou um único sinal Grohl para que elas repentinamente fossem cantadas a plenos pulmões.
Mais uma vez proporcionando um espetáculo catártico aos seus fãs, o Foo Fighters encerrou a noite com a pesada dobradinha “Best of You” e “Everlong” e se despediu prometendo voltar para shows ainda maiores nos próximos anos. Aos fãs, agora só resta esperar e guardar dinheiro para garantir que não ficará de fora da próxima festa que o sexteto e sua equipe prepararão para seu inevitável e já muito aguardado retorno.
Confira abaixo o setlist do Foo Fighters no The Town 2023:
- All My life
- The Pretender
- No Son Of Mine
- Learn to fly
- Rescued
- Walk
- Times Like These
- Breakout
- Run
- Apresentação da banda e solos
- My Hero
- This Is Call
- Sky Is a Neighborhood
- Shame Shame
- These Days
- Generator
- Aurora
- The Glass
- Monkey Wrench
- Best of You
- Everlong