O Gorillaz é uma das bandas mais cool do mundo. Essa é a fama que os músicos liderados por Damon Albarn - ele, por si mesmo, um ícone pop - tentaram e conseguiram reafirmar com o show que encerrou o MITA Festival 2022, na noite de hoje (15).
No fim da extensa setlist, a aura vaga de zombaria em torno do projeto, especificamente por causa do seu aspecto visual, havia desaparecido no ar. Sim, nos clipes e materiais promocionais, o Gorillaz é representado não por Albarn e seus colegas, mas por personagens de desenho animado que ganharam biografias e personalidades próprias com o passar dos anos. E sim, 2-D, Murdoc, Noodles e cia. apareceram abundantemente nos telões do show no MITA.
Mas, se havia dúvida que o Gorillaz era uma banda de verdade, que faz música de verdade, ela se dissipou nas primeiras canções do show. Não só de verdade, inclusive, como o Gorillaz é uma banda grande, e quase toda composta de multiinstrumentistas. As surpresas não paravam durante a apresentação: sintetizadores de tons diversos e pianos, pandeiros e coros de backing vocals, batuques e escaleta (aquele tecladinho pequeno que é tocado como se fosse um instrumento de sopro)...
O Gorillaz ama fazer música, ama experimentar com música, e ama comunicar-se através da música. Apesar de aventureiro, no entanto, o projeto de Albarn também tem uma identidade muito clara, que brilha ainda mais no palco do que nos estúdios: eles são uma banda soul. É o que o barítono instável do frontman comunica, junto com o balanço implacável do baixo.
Às vezes, esse soul faz um passeio pelo território de trip hop tão caro a Albarn (inclusive no hit "Feel Good Inc.", ainda catártico ao vivo), às vezes escapa pelos caminhos do rock, às vezes envereda por uma melancolia experimental ("On Melancholy Hill" nunca é menos que hipnotizante). Em uma sessão do show, o líder da banda se sentou ao piano e revelou uma música inédita, uma bela balada com letra de protesto ecológico e estrutura de estrofe-refrão bastante subversiva.
Essas são só viagens temporárias, no entanto, e o Gorillaz faz valer cada uma delas. Ajuda muito ter um Damon Albarn sorridente e brincalhão, que se jogou na plateia várias vezes, calaramente empenhado em fazer o público curtir tanto aquele momento quanto ele, sem nenhuma pose de rockstar "das antigas".
Como ele, o Gorillaz sabe que, no fim das contas, o que importa é a música. Nada mais cool do que isso.