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Heavy Metal: O estilo marginal do rock

Heavy Metal: O estilo marginal do rock

13.07.2002, às 00H00.
Atualizada em 01.11.2016, ÀS 19H04

Nesse dia 13 de julho, estamos, mais uma vez, comemorando o dia mundial do rock. A mim, coube a árdua e, ao mesmo tempo, prazerosa, tarefa de escrever algumas linhas sobre um dos estilos mais marginais do rock and roll, o Heavy Metal. Para dar inspiração, nada melhor do que ter como trilha sonora Manowar, banda que se auto-intitula como os reis do metal.

Desde que surgiu, no fim da década de 60, pelas mãos de Ozzy Osbourne, Tony Iommi e seu Black Sabbath, e se difundiu graças ao rock horror de Alice Cooper, o Heavy Metal desdobrou-se em uma série de subgêneros, o que dificulta, às vezes, classificar uma banda. E se tem uma coisa que a a indústria adora fazer é rotular bandas. É power metal pra cá, speed metal pra lá, metal melódico acolá, e por aí vai. No entanto, apesar disso, o estilo ainda conserva as características que o tornaram, senão popular, pelo menos cultuado: belos riff’s de guitarra, bateria marcante, vocais fortes e, acima de tudo, uma atitude de honestidade com relação ao que fazem. Para o músico de Heavy Metal - e muitos dos fãs - o metaleiro que modifica seu trabalho para conseguir mais espaço no mercado ou, pior, afasta-se totalmente de suas raízes apenas em prol de mais lucros, não é um verdadeiro membro dessa comunidade. É apenas um mercenário em busca de dinheiro e fama. Muitas bandas de metal tiveram sua carreira abreviada por causa disso.

TEMPOS DE CRESCIMENTO

A proliferação do Heavy Metal deu-se com mais força no fim dos anos 70, início dos 80, por vários motivos. Um deles foi a NWOBHM, o New wave of British Heavy Metal (algo como A nova onda do Heavy Metal britânico), que apresentou ao mundo um dos maiores nomes do estilo, o Iron Maiden. Paralelamente, bandas como o Judas Priest e o Manowar, só para citar algumas, despontaram para o mercado mundial. Outro foi o fato da aparição da MTV e sua distorção do estilo. Para a emissora, qualquer banda que tivesse dois ou três cabeludos tatuados tocando guitarras era de Metal. Mesmo bandas notadamente adeptas de hard rock, como AC/DC, Kiss, ou Scorpions, eram chamados de metaleiros. Aliás, uma certa confusão que se mantém até os dias de hoje. Exemplo disso pôde ser visto no último Rock In Rio (Entre aspas mesmo, já que só no Brasil um evento que, supostamente, deveria ser de rock aceita presenças de boys bands, Sandy & Jr. e Britney Spears dentre outros), quando Carlinhos Brown acusou os metaleiros de serem os responsáveis por jogarem garrafas de plástico e latas contra ele no palco. O interessante é que Carlinhos, que disse em entrevista posterior ao ocorrido que todo metaleiro é burro, apresentou-se na mesma noite em que Pato Fu, Oasis, e Guns ‘n Roses, bandas que não tem nada de metaleiro em seu som. E depois os metaleiros é que são burros. Tá certo...

Ainda na década de 80, o Heavy Metal começou a sofrer transformações, muitas delas atribuídas ao lançamento de Walls of Jericho e, principalmente, Keeper of the seven keys, respectivamente primeiro EP e álbum do Helloween, banda alemã que muitos consideram a pioneira no estilo que viria a ser denominado como Heavy Metal Melódico. Aliás, a Alemanha é um dos maiores celeiros de bandas de Metal no mundo, como também veremos mais adiante.

SATÃ E COMPANHIA

Outro fator que contribuiu para a divulgação do Heavy Metal é sua suposta ligação com o satanismo. Desde a década de 70, graças às atuações bizarras e, ao mesmo tempo, maravilhosas de Alice Cooper, cujas apresentações eram - e ainda o são - muito mais do que apenas música, e algumas capas de discos, os músicos de metal têm a fama de ter parte com o coisa ruim. O estigma do satanismo não é uma marca do Heavy Metal, já que até bandas de rock, como os Beatles, Led Zeppelin e - claro - o Kiss foram erroneamente acusados, em delírios puramente paranóicos, de inserirem mensagens subliminares em suas músicas. Segundo algumas teorias, várias obras, dentre elas o hino Stairway to Heaven, quando tocadas de trás pra frente, trariam odes satânicas.

É claro que muitas bandas usaram essa paranóia a seu favor. O próprio Kiss, cujo nome, segundo alguns é uma abreviação para Knights In Satan’s Service (Cavaleiros a serviço de Satã) durante anos não negou nem confirmou as acusações. Obviamente, só suas músicas já são mais do que prova suficiente do contrário. Outro conjunto a ser acusado de satanismo inutilmente foi o Iron Maiden, principalmente devido ao seu terceiro álbum. Intitulado The number of the beast, mostra na capa a mascote da banda, Eddie, manipulando um fantoche que seria o próprio Satã. Este, por sua vez, manipulava o homem.

É claro que há realmente bandas que tem mesmo tendências satanistas - ou, pelo menos, assim afirmam - tais como Venom, Possessed e Obituary. Elas, no entanto, praticam um metal mais extremo, o death/black. Há ainda as que se dizem contra a igreja, em especial a Católica, como o Cradle of Filth e o Iced Earth, dentre muitas. No geral, no entanto, satanismo e Heavy Metal estão mais ligados na mente fantasiosa de certos paranóicos do que na prática. Se bem que, hoje em dia, acusar uma banda de metal de adoradora do diabo é quase um elogio. Basta ver o sucesso do satanista de butique Marylin Mason.

MAUS ELEMENTOS

A mídia minstream é outra que colabora para tanto. Pegue qualquer novela ou programa, especialmente da Globo, e repare. Todo metaleiro é, inevitavelmente, uma figura estranha. Baderneiro, drogado, bêbado, marginal, sempre usando preto e, na maioria das vezes, satanista. Raramente um metaleiro bonzinho aparece nas telas da TV brasileira.

Da mesma forma que alcançou o auge nos anos 80, o metal chegou ao fundo do poço na primeira metade dos anos 90, não devido à qualidade das novas banda, mas à exposição a qual foram submetidas. As bandas do estilo perderam muito do espaço na grande imprensa que tinham na década anterior - e que nem era assim tão grande - para o novo estilo que viria salvar o rock: o grunge de Seattle.

Na chamada terra dos modismos, os Estados Unidos, o estrago foi geral e depois da onda do grunge, poucas bandas que executam o clássico Heavy Metal sobreviveram. Na Europa, no entanto, a situação foi bastante diferente já que principalmente na segunda metade dos anos 90, o Heavy Metal sofreu nova explosão, com ótimas (e também péssimas) bandas surgindo de todos os cantos do velho continente. E não só por lá. De todas as partes do mundo, cada dia mais e mais grupos surgem.

CARA FEIA DA MÍDIA

É claro que isso contribui para a desvirtuação e confusão que se faz em relação ao estilo. Nos Estados Unidos principalmente, voltou a mania de se chamar qualquer banda que toque um som mais pesado do que Britney Spears, de metal. Conjuntos como Linkin Park, Limp Bizkit, Slipknot, Creed e System of a Down, entre outras, que misturam hardcore com hip-hop (exceto o Creed, que é uma adepta do hard rock), têm sido classificados pela mídia, em especial a MTV, como Altherna Metal, ou New (Nú) Metal. O curioso é que nenhuma das supracitadas pode ser considerada verdadeira grupo de metal e dificilmente é citada - a não ser para serem depreciadas - em revistas especializadas em Heavy Metal.

Pelo fato de ser um gênero musical tipicamente underground, o Heavy Metal é, constantemente, desenhado pela indústria. Todo ano, surge alguém dizendo que o estilo está morto. Aliás, dizer que o metal está morto é corriqueiro, uma vez que se diz o mesmo do rock and roll de tempos em tempos. Claro que, depois de décadas ouvindo a mesma ladainha, já nos acostumamos. Afinal, toda vez que alguém diz que o rock and roll está morto, coincidentemente aparece uma nova banda para salvar o estilo, haja vista o caso recente dos Strokes. O interessante é que muitos fãs - e mesmo alguns músicos - adoram essa particularidade do gênero e acredita que, caso o Heavy Metal e seus subgêneros tornem-se populares, provavelmente perderão muito da sua essência, o que, segundo algumas pessoas, deu-se com o rock and roll.

INDEPENDÊNCIA, UNDERGROUND E FÃS DEDICADOS

Permanecer no underground dá mais liberdade para as bandas que, sem ter que se submeter às exigências que as grandes gravadoras impõem a seus contratados, têm mais controle sobre sua música. Esse tipo de atitude, de não se prostituir pra alcançar mais dinheiro e fama, é outra característica marcante do gênero. Nem mesmo grupos gigantescas como o Iron Maiden, que tem contrato com a EMI, ou a emergente Cradle of Filth, primeira banda de black metal a assinar com uma grande gravadora - no caso, a Sony Music - permitem que os executivos dessas companhias alterem qualquer aspecto na essência de seu trabalho. Esta, pelo menos, é a crença de muitos fãs e mesmo de alguns dos profissionais que, apesar de desejarem vencer como músicos, preferem arrumar empregos de verdade a ver seu trabalho adulterado. Afinal, uma vez perdido, reconquistar o respeito dos é ainda mais difícil do que obtê-lo da primeira vez.

Apesar da marginalidade, ou por causa disso, o fato é que o Heavy Metal está sempre se adaptando, adquirindo novas características sem nunca perder a essência. Talvez por isso, o público metaleiro seja o mais fiel que existe dentre os demais. Provas disso puderam ser constatadas no já citado Rock In Rio, onde a noite dedicada a esse público - com apresentações de Sepultura, Rob Halford, e Iron Maiden - foi a mais lotada do evento.

O mesmo tipo de dedicação ocorre no Wacken Open Air, festival que ocorre na cidade alemã de Wacken todos os anos. Durante três dias, inúmeras bandas dos mais variados estilos de metal revezam-se em dois palcos, tocando praticamente durante dezesseis horas ininterruptas por dia. Geralmente, a primeira banda pisa no palco do WOA às dez da manhã e a última se despede ali pelas duas da madrugada seguinte. O festival já se tornou permanente, tamanha a popularidade que alcançou no país.

O METAL ESPALHADO PELO MUNDO

Aliás, falar em Heavy Metal é, com certeza, falar em Europa e, principalmente, Alemanha. Afinal, o país é um dos maiores celeiros de bandas do gênero. Grave Digger, Helloween, Gamma Ray, Blind Guardian, Iron Savior, Edguy, Dreams of Sanity e a nova revelação Metallium são só alguns dos principais nomes que saíram de lá para estourar no resto do mundo. A Suécia é outro pólo de onde saíram, dentre outros, nomes como Running Wild, Hammerfall, o polêmico guitarrista Yngwie J. Malmsteen e Insannia; da Finlândia, terra do Stratovarius, também vieram o Nightwish, Sonata Arctica, Children of Bodom e os novatos do Thunderstone; da Itália, Rhapsody, Labÿrinth, Vision Divine e a novata Seven Gates; Edenbridge e Visions of Atlantis, da Áustria; Within Temptation e After Forever - adeptas do gothic metal - da Holanda; Iron Fire da Dinamarca são algumas dentre tantas outras bandas - sem contar as adeptas de estilos mais extremos, como trash/death metal - originárias do velho continente. Isso, sem esquecer, é claro, a terra da rainha, que nos trouxe bandas como Iron Maiden e Black Sabbath. Noruega, França, Portugal e Espanha também têm dado uma bela contribuição para o estilo sempre se renovar no velho continente.

Fora da Europa, a coisa também vai bem. Mesmo restringindo-se ao underground, países como os Estados Unidos ainda têm belos representantes do gênero, como Metallica, Iced Earth, Kamelot, Savatage, as lendas Ronnie James Dio, Alice Cooper, a recente desmantelada Megadeth e, é claro, os reis do metal, o Manowar. Aliás, devido à onda do chamado nu metal, o Heavy Metal está sofrendo um tímido renascimento no país. Até mesmo a poderosa MTV deu o braço a torcer e inaugurou a MTVX, canal que veicula Hard Rock 24 horas por dia, sem intervalos ou VJs e a MTV|2, com programação voltada para a música mais extrema.

Em terras brasilis, como no resto do mundo, o Heavy Metal é restrito ao underground, o que não impede, de maneira alguma, que deixemos de exportar metal para o resto do mundo. Provas disso são bandas como Sepultura, Angra, só para citar as duas maiores, e todas as presentes no recém-lançado Hamlet.

Enfim, ainda há muito que se poderia falar do Heavy Metal neste especial que preparamos sobre o rock and roll aqui no (o). Infelizmente, não disponho de espaço - nem de mais conhecimento - para tanto. Por isso, decido encerrar minha contribuição com o refrão de The gods made Heavy Metal, do Manowar, que diz o seguinte:

The gods made Heavy Metal and they saw that is was good

They said to play it louder than Hell

We promised that we would

When losers say its over with you know that its a lie

The gods made Heavy Metal and its never gonna die.

Falou pouco, mas disse tudo. :-)

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