Iced Earth, a banda que cantou Spawn

Alguns meses atrás, um leitor escreveu para "Post Mortem", a seção de cartas da revista Spawn, perguntando sobre a existência de uma banda que teria feito músicas inspiradas no Soldado do Inferno. Sabe-se lá por que cargas dágua, ele obteve uma resposta bem inconclusiva. Segundo o editor Marco Moretti, ele e sua equipe haviam procurado informações em todos os lugares possíveis e nada encontrado.

No mês seguinte, a resposta veio através de uma carta de outro leitor e o aparente mistério foi solucionado. Na verdade, segundo Emerson Agune, da Abril, uma enxurrada de cartas e e-mails, inclusive deste que vos fala, chegou à Redação de Heróis comentando o assunto. A nome da banda seria Iced Earth e ela teria gravado um CD em homenagem ao Spawn. O que não foi dito é que Iced Earth não vive apenas de Spawn e que desponta como uma das melhores bandas de Heavy Metal da atualidade. Eis aqui um pouquinho da história da banda, para os interessados.

Em 1991, o CD "Iced Earth" chegou às lojas trazendo um novo grupo ao cenário do Heavy Metal. A banda, então, contando com Jon Schaffer na guitarra e backing vocals, Randy Shawver na guitarra, Gene Adam no vocal, Dave Abell no baixo e Mike McGill na bateria oferecia um som tipicamente metal, ou seja, pesado, com baterias fortes e guitarras rápidas e furiosas, intercaladas com alguns trechos melódicos e passagens acústicas. Não causou muita repercussão, mas prometia muito.

A RELIGIÃO E O SINISTRO

No ano seguinte, o Iced voltou às lojas, desta vez com um álbum conceitual. Night of the Stormrider conta uma história um tanto quanto sinistra e trata de um dos assuntos que parece ser muito caro à banda: A Religião, ou a falta dela. Através das músicas do álbum, conhecemos a história de um homem que se sente traído pela religião e se volta contra ela. A sua raiva e ódio são tão grandes que atraem a atenção das forças do mal. Estas se juntam a ele, usando-o como instrumento de suas intenções, de forma que o sujeito passa a causar morte e destruição na Terra. Por sua eficiência, principalmente pelo fato de não saber o que é remorso, as forças recompensam-no com a obtenção da vida eterna... no Inferno.

Night of the Stormrider trouxe duas mudanças na formação do Iced. A entrada de John Greely nos vocais, substituindo Gene Adam e Richey Secchiari na bateria. Foi a primeira vez que se notou esse padrão de conduta. A cada disco ou turnê, um ou mais membros são substituídos, talvez para trazer novas influências. "Night..." precisava de um vocal forte, que desse verdadeiros gritos raivosos e de agonia. Portanto, a substituição de Gene por John foi acertada. Além disso, o álbum, apesar da predominância do som pesado, chamava atenção por várias passagens melódicas, com corais e teclados. Apesar de pouco evidentes, estes se tornariam elementos característicos do som da banda.

CARACTERÍSTICAS MELÓDICAS

O tema religioso retornou ao Iced Earth três anos depois, com o lançamento daquele que seria considerado seu álbum mais pesado: Burnt Offerings. Este trabalho trouxe com mais evidência a característica melódica - trechos acústicos, teclados -, sem perder sua base Heavy Metal. Como de praxe, há uma mudança na formação da banda, com Rodney Beasley na bateria e Matthew Barlow nos vocais. Matthew, aliás, passou a ser o vocalista oficial do Iced Earth e até hoje continua na banda. Dono de uma das vozes mais poderosas do Heavy Metal atual, ele alterna gritos raivosos com sussurros melódicos típicos do Iced Earth. Burnt Offerings conta, ainda, com uma das melhores composições do Iced Earth, "Dantes Inferno", baseada na obra de Dante Alighieri. Trata-se de uma música épica, com mais de dezesseis minutos de duração, onde o ouvinte é levado a conhecer os nove círculos infernais, um mais aterrorizante que o outro.

O SOLDADO DO INFERNO

Em 1996, o tão falado CD inspirado em Spawn fez sua estréia. The Dark Saga é um álbum conceitual baseado na personagem de Todd McFarlane. Cada música mostra um aspecto diferente da vida do Soldado do Inferno. Sua morte e ressurreição, o casamento de sua esposa com seu melhor amigo, seus inimigos, sua busca por redenção, tudo está lá em 10 músicas. Para contar essa história, o som do Iced mudou de forma, tornando-se ainda mais melódico. A música é mais simples e emotiva, pois Schaffer, líder e principal letrista/compositor da banda, preferiu se concentrar mais nas letras. E o resultado, em especial para os fãs de Spawn, é bastante satisfatório. Músicas como "Violate" e "Hunter", respectivamente inspiradas no Violador e em Ângela são fantásticas. A primeira, bem pesada e rápida, tem, na letra, diversas das falas do palhaço demoníaco.

O álbum fecha-se com a impressionante "Question of Heaven", cuja letra emocionante cai como uma luva. Seu som oferece uma rara mescla de suavidade e peso. Além disso, para os fãs de Spawn, há outro atrativo: A capa, que é uma reprodução quase exata de Spawn 50 (49, no Brasil), com arte de Greg Capullo e McFarlane.

PURGATÓRIO

The Dark Saga atrair atenção para a banda; tanto que, no ano seguinte, ela decidiu lançar sua primeira coletânea.

O CD duplo intitulado Days of Purgatory, que conta com a participação de vários músicos, reuniu composições escritas entre 1986 e 1994 . Algumas, principalmente a dos dois primeiros álbuns, foram regravadas na voz de Matthew Barlow, tornando-se superiores às originais.

Segundo pude apurar, a escolha do título do disco não foi gratuita; primeiro porque "Purgatory" é o nome original da banda, quando esta começou em 1984. Por outro lado, também representa todo o sofrimento pelo qual seus membros passaram antes de alcançar uma posição de respeito no cenário do Heavy Metal. Seguindo a linha do álbum anterior, essa coletânea também flerta com o mundo dos quadrinhos, mas de forma menos evidente. Sua capa é desenhada por Jim Balent, famoso por dar forma às sensuais curvas da Mulher-Gato, e conta com a personagem Purgatory, da Chaos! Comics.

A CONSAGRAÇÃO

Days of Purgatory não foi uma continuação direta do trabalho da banda e, portanto, não satisfez a expectativa dos fãs. A resposta veio no ano seguinte, em 1998. Something Wicked This Way Comes chegou às lojas com o melhor que o Iced já havia feito até então, bem como uma dose salutar de novidades. Este é o álbum mais melódico da banda, mesclando, de forma competente, instrumentos como flautas e teclados ao peso já tradicional do Iced. Something... levou o Iced Earth a ser eleito por uma revista especializada americana a melhor banda de Heavy Metal daquele ano. Além disso, segundo o próprio grupo, a trilogia de músicas que fecha o álbum - Wicked Trilogy: "Prophecy", "Birth of the Wicked" e "The Coming Curse"), não só justifica o título da obra como é um gancho para o próximo CD, que será lançado em 2001.

Ainda sobre Something Wicked This Way Comes, reparem na imagem da capa do CD. Está pequena, eu sei, mas conseguiram identificar quem a desenhou&qt;& Ponto pra quem disse Greg Capullo e Danny Miki, a dupla infernal de "Spawn". :-)

AO VIVO EM ATENAS

Antes de trabalhar no novo álbum (que será focado em monstros, reais e lendários), o Iced decidiu dar aos fãs um presente há muito aguardado: Um CD ao vivo. Para marcar ainda mais a ocasião, a banda escolheu a Grécia para a gravação. Produzido durante duas noites seguidas, Alive in Athens é um álbum triplo, com 31 faixas contendo o melhor da banda em seus 10 anos de estrada. Foi lançado no ano 2000 e é uma excelente opção para quem quer conhecer o grupo.

Enquanto o novo trabalho do Iced Earth não chega, eu sugiro a quem quiser se familiariza com a banda que procure algumas de suas músicas na internet, principalmente antes do Napster ser fechado de vez. Pode dar trabalho mas, garanto que, se vocês apreciam um bom Heavy Metal, vai valer à pena.

Mais informações (MP3, história, entrevistas, vídeos, etc) no site oficial: www.icedearth.com.

Agradecimentos a Débora Ribeiro, cuja mini-biografia do Iced na Whiplash (www.whiplash.net) foi de extrema ajuda quando escrevi esse artigo.