Iggy Azalea no The Town

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Iggy Azalea foi artista pela metade com show pela metade no The Town

Desperdiçando um bom catálogo, a australiana desanimou o público ainda mais do que a chuva

Omelete
2 min de leitura
02.09.2023, às 20H00.
Atualizada em 02.09.2023, ÀS 20H13

Em certo ponto dos anos 2010, tudo que Iggy Azalea tocava virava ouro, e por um bom motivo: sim, foram parcerias com Charli XCX ("Fancy"), Rita Ora ("Black Widow") e Ariana Grande ("Problem") que solidificaram o lugar da rapper no Olimpo do pop de sua era, mas não só os hits solos existem - "Work" e "Bounce", principalmente -, como o conjunto da obra posiciona Iggy como artista importante para entender toda uma fase da música mainstream anglofônica. Além, é claro, de ser especial para toda uma geração.

É especialmente frustrante, portanto, ver esse repertório desperdiçado no The Town, em um show rápido, raso e artificial em todos os sentidos imagináveis. O playback estava lá (ou, ao menos, uma backing track bem graúda que fazia o microfone da rapper se tornar irrelevante) quando Iggy subiu ao Palco Skyline no fim da tarde do sábado (2), conforme a chuva apertava no Autódromo de Interlagos - mas, sinceramente? O playback era o de menos.

Incomodou muito mais, por exemplo, a estrutura pífia do show, resumida a um grupo reduzido de dançarinas e gráficos de PlayStation 1 exibidos no telão, aproximando-se de uma estética oitentista, new wave (pense em neon rosa, carros cromados, imagens em negativo, sombras de palmeiras no horizonte) da forma mais básica possível. A impressão dominante é que Iggy foi escalada para o The Town por engano, sem ter noção do tamanho da tarefa.

Também incomodou muito mais o esforço mínimo da rapper na hora de representar suas músicas no palco. Quando ensaiava passos de vogue, especialmente em canções mais recentes do seu repertório, inspiradas pelo techno, Iggy se limitava a uma alusão fraca da cultura do ballroom, uma imitação pálida (em mais de um sentido) da arte que a inspirou. Não foi diferente quando, em "Goddess", ela tentou emular a pose de feminismo altivo que Beyoncé exemplifica tão bem no cenário pop.

Com a Iggy que veio à São Paulo, tudo é assim: um simulacro decepcionante de referências, culturas, ideias e - porque não - hits que já foram melhores, ao menos na nossa memória afetiva. Um banho de água fria muito pior do que aquele que a natureza resolveu dar ao público do The Town.

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