Bruno Mars e Lady Gaga em "Die With a Smile" (Reprodução)

Créditos da imagem: Bruno Mars e Lady Gaga em "Die With a Smile" (Reprodução)

Música

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Lady Gaga cria mais um clássico instantâneo do karaokê em “Die With a Smile”

Canção mistura assinaturas melódicas de Gaga e Bruno Mars com maestria

Omelete
3 min de leitura
16.08.2024, às 09H52.

Criar melodias que se sentem mais em casa às duas da madrugada em um barzinho de karaokê escuro, naquele momento específico em que os frequentadores - calibrados na medida certa com álcool - se sentem impelidos por uma força quase sobrenatural a jogar os braços para cima e balançá-los de um lado para o outro enquanto berram o refrão a plenos pulmões… taí uma arte em extinção. O equilíbrio delicado de simplicidade e intensidade emocional, de repetição e variação, de universalidade e especificidade - no cenário autocentrado e temperamental do pop ocidental da atualidade, ninguém mais está interessado em puxar essas cordinhas. Bom, ninguém a não ser Lady Gaga.

“Die With a Smile”, lançada na madrugada de hoje (16) em parceria da cantora com Bruno Mars, já foi chamada de “sequência espiritual de ‘Shallow’” pelos jornalistas de cultura pop - mas tem muito pouco a ver, melódica ou instrumentalmente falando, com a canção que Gaga cantou ao lado de Bradley Cooper em Nasce Uma Estrela. Tudo bem, a gente dá algumas concessões: o formato de incluir uma ponte instrumental entre os últimos dois refrões, e a divisão de linhas entre os dois vocalistas, é um pouco remanescente da composição que deu o Oscar a Gaga, mas é aí que acabam as similaridades.

Enquanto “Shallow” é tingida pelo country que os personagens de Nasce Uma Estrela representam, por exemplo, “Die With a Smile” incorpora a tradição de balada soul na qual Mars construiu a fundação de sua carreira. Com sua guitarra estourada (inclusive, a tal ponte conta com um solo inesperadamente sentido), seu pianinho propulsivo e suas harmonizações delicadas, a canção é muito mais “Talking to the Moon”, ou “Locked Out of Heaven”, do que jamais poderia ser “Shallow”. 

Ao mesmo tempo, a presença de Gaga ali traz Mars de volta para a terra firme após anos de viagens soul cada vez mais ousadas e, de certa forma, eruditas. Não há nada de etéreo ou cripto-sensual em “Die With a Smile”, e até por isso ela se mostra a balada mais direta e eficiente do cantor em um bom tempo. A composição em parceria (Gaga e Mars são creditados com letra, melodia e produção) necessita talvez um mergulho menos profundo nas influências de cada um, e uma letra que trafegue mais em emoções humanas compartilhadas do que em discurso pop entrincheirado - “Die With a Smile” não é “girl, so confusing”, nem almeja tocar nos mesmos espaços que ela, e está tudo bem.

O que se ganha com a mistura das sensibilidades dos dois artistas, com a ambição mais terrena da parceria, é no fim das contas emblemático do que perdemos no Ocidente ao adentrar em um pop cada vez mais cifrado, que aposta no nicho ao invés do popularesco. “Die With a Smile” é uma canção para se compartilhar através de estratos sociais, o tipo de composição pop que cria um tecido conectivo (mesmo que ele precise ser azeitado por uns bons drinks) onde antes não existia. Ela toca e conquista no headphone, porque é um pedaço de arte íntegro, mas é feita mesmo para as caixas de som estouradas do karaokê da sua vizinhança.

E, se você não acredita em mim, só confie e espere. Quando acontecer - porque vai acontecer -, volte e me diga se não estou certo.

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