![]() Introduce Yourself - 1987 |
![]() The Real Thing - 1989 |
![]() Angel dust - 1992 |
![]() King for a Day, Fool for a Lifetime - 1995 |
![]() Album of the Year - 1997 |
![]() This Is It: The Best of Faith No More - 2003 |
![]() O FNM |
![]() Mike Patton |
Hoje em dia, bandas como Linkin Park, Limp Bizkit e System of a Down, só pra citar algumas, são aclamadas pela imprensa musical americana - cujo cordão baba-ovos é encabeçado pela MTV - como os salvadores do heavy metal, graças à inovação que promoveram ao mesclar elementos do hip hop e do hard rock em prol da criação de uma nova onda dentro do estilo: o new (nu) metal.
O irônico é que as ditas salvadoras estão estourando em todo o mundo devido a uma originalidade que não é delas. Não vou aqui nem discutir a qualidade - ou a falta dela - nas suas composições, ou porque eu não considero essa turma a próxima onda do heavy metal. Afinal, no meu entendimento, nem são bandas de metal.
Muito antes de Fred Durst posar de malvado, soltando gritinhos horríveis em letras pra lá de toscas, a mistura do hip hop com elementos característicos do hard rock - acrescentando, ainda, pitadas de funk, punk, rap e mesmo heavy metal - já era marca registrada de uma das mais influentes e melhores bandas nos anos 80/90: o Faith No More.
A precedência desse quinteto nem está em discussão. Até mesmo os líderes de algumas das bandas que mencionei acima consideram o FNM como o verdadeiro precursor do new metal. Tal inspiração, porém, não agrada, em nada, os membros do extinto grupo, principalmente o vocalista Mike Patton. Em uma entrevista, ano passado, ele disse o seguinte:Não nos culpe por essa merda, culpe a mãe deles (dos músicos do estilo). Acredite em mim, em alguns anos vamos rir do New Metal. Para falar a verdade, eu já estou rindo. Pra completar, Patton ainda classificou o movimento de um estilo musical destinado a garotos idiotas de treze anos de idade.
Adepto de um estilo musical difícil de ser rotulado, principalmente devido a mistureba de tendências em suas composições, o Faith No More começou a estourar no início da década de 90, depois do lançamento de seu terceiro álbum, The real thing, cujo primeiro single Epic foi o pivô das atenções. No entanto, Epic , foi lançado quase dez anos depois da fundação da banda. Do seu início até o sucesso, no entanto, muita coisa rolou.
APRESENTE-SE
Em 1981, os músicos Mike Puffy Bordin, Billy Gould, Mike The Man Morris e Wade Worthington, todos oriundos da Califórnia, reuniram-se para formar uma banda, que, em princípio, foi intitulada de Faith No Man. A formação inicial, no entanto, durou pouquíssimo. Worthington logo abandonou o barco, dando lugar ao tecladista Roddy Button; e, com a saída de Mike Morris, o grupo decidiu mudar de denominação. Surgia, então, o Faith No More.
A primeira formação do Faith No More - com Bordin (bateria), Gould (baixo) e Button (teclados) e a chegada do guitarrista Mark Bowen - estava quase completa, mas necessitava de um vocalista. Depois de experimentarem vários, inclusive a Yoko Ono do grunge, Courtney Love, os quatro recrutaram Chuck Mosely.
Pra não fugir à regra, logo o guitarrista Mark Bowen também pulou fora, sendo prontamente substituído por Jim Martin. Era 1983 e, no ano seguinte, foi gravado uma demo tape com quatro músicas, o que garantiu um contrato com a Mordam Records. Em 1985, o Faith No More registrava seu primeiro álbum de estúdio, We care a lot.
No ano seguinte, o quinteto mudou-se da Mordam para a Slash Records e, em 1987, lançou seu segundo álbum, Introduce yourself. A obra teve boa repercussão, principalmente na Europa, e a turnê que se seguiu foi um sucesso. Ao fim dela, no entanto, o grupo sofreu nova baixa. O vocalista Chuck Mosely foi demitido. Seus problemas com álcool resultavam em constantes atritos com os demais integrantes, bem como comprometiam sua capacidade vocal.
SUCESSO ÉPICO
O Faith No More partiu, mais uma vez, à cata de um vocalista.
Àquela altura, chegou às mãos do guitarrista Jim Martin uma demo tape do Mr. Bungle, banda adepta do death metal. Jim sugeriu aos demais que contratassem seu vocalista, Mike Patton. Com a papelada assinada em janeiro de 1989, o novato arregaçou as mangas. Em cerca de duas semanas, escreveu boa parte das letras para as músicas que o grupo estava compondo e, seis meses depois, um terceiro álbum, The real thing, chegou às lojas.
The real thing granjeou excelentes críticas da imprensa especializada e uma ótima acolhida do público. Contribuiu para tanto, o estilo desleixado e agressivo do carismático vocalista, dado às mais estranhas atuações no palco. A popularidade recém-adquirida, principalmente na Europa, garantiu ao FNM uma breve turnê com duas das mais populares - e maiores - bandas da época, Metallica e Guns and Roses. Foi a chance de se apresentar para grandes platéias.
A consagração na Europa, todavia, só teve eco em sua terra natal a partir de janeiro de 1990, quando seu maior sucesso de todos os tempos, a música Epic, foi lançada em single. Além de um clipe para ela, foram produzidos vídeos das as faixas Falling to pieces e From out of nowhere, todas extraídas de The real thing. Devido ao sucesso de Epic, a banda receberia uma indicação ao Grammy, na categoria Melhor Interpretação de Banda de Heavy Metal/Hard Rock. Ao fim de 1990, The real thing receberia um disco de platina em terras ianques.
O Faith No More adentrou o ano seguinte ainda galgando o sucesso de The real thing . Oportunamente, lançou seu primeiro registro ao vivo, Live at the Brixton academy, onde o destaque principal ficou para a versão de War pigs, do Black Sabbath, que se tornaria uma de suas marcas registradas. intitulado You fat b**tards, também foi lançado um VHS com o mesmo material do álbum.
Ainda durante a turnê de The real thing, o Faith No More desembarcou no Brasil para uma apresentação no Rock In Rio II. Com um dos menores cachês do festival dentre os gringas (algo em torno de vinte mil dólares), abriu a noite para um dos maiores nomes do evento, o Guns and Roses. Participando como, ilustre desconhecidos, os cinco saíram-se muito bem. De cara, cativaram um número significativo de fãs, entre os quais este humilde escrivinhador.
Quando escutei Epic pela primeira vez foi como se alguém tivesse me chutado a bunda e dissesse: Por que diabos você ainda não tem o álbum desses caras?. O bom resultado no RRII renderia uma breve porém bem-sucedida excursão pelo país.
SACUDINDO A POEIRA
Ainda colhendo os frutos do sucesso, em 1992, o Faith No More lançou seu quarto trabalho de estúdio, Angel dust. Mais melódico do que o anterior, este álbum mostrou grande progresso na sonoridade da banda. Mais envolvido do que nunca, Mike Patton escreveu letras e compôs músicas mais bem trabalhadas, além de aprimorar seu estilo vocal. Lembro-me de que, na época, muitos críticos diziam que, agora sim, Patton havia aprendido a cantar. A boa fase repercutiu também nos demais membros, especialmente Gould, Bottum e Bordin, que se sentiram mais seguros para experimentar novos sons.
Por outro lado, o sucesso incomodou - e muito - o guitarrista, Jim Martin. Ele começou a faltar a ensaios e até mesmo em gravações. Dizia-se insatisfeito com os rumos da banda. Isso obrigou Billy Gould a substituí-lo algumas vezes na guitarra. O resultado ficou claro em Angel dust, que quase não teve destaque para guitarra, à exceção do pesada Jizzlobber.
De qualquer forma, o disco foi lançado no verão americano de 1992 e emplacou grande sucesso de pública e crítica. Em seguida, foi a vez de um single para Midlife crises. Esta música bem como A small victory e Easy - cover dos Commodores - resultaram em vídeos. Easy foi sucesso particularmente na Europa.
Naquela que foi a maior turnê do gênero no ano, o FNM novamente abriu para Guns and Roses e Metallica. Em seguida, apresentou-se nos Estados Unidos e Europa, sozinho ou como grupo principal em eventos mais modestos. Na época, Mike Patton gravou um álbum com o Mr. Bungle, que, havia muito, perdera sua veia death metal. Foi quando começaram os primeiros boatos de dissolução da banda.
Mais experimental do que The real thing, Angel dust não vendeu tão bem nos Estados Unidos. A MTV não veiculou os vídeos da banda como fizera antes, talvez por ela não se encaixar na imagem hard rock que tentavam lhe imputar. Mesmo assim, o CD arrecadou o bastante para garantir um disco de ouro. Já na Europa e na Austrália, o sucesso comercial foi mais vultoso, principalmente na Grã-Bretanha, onde superou o anterior.
Após passar o resto de 1992 e praticamente todo o ano seguinte promovendo o álbum, em novembro de 1993, Patton, Gould, Bordin e Button reuniram-se e demitiram o Jim Martin. Segundo eles, a falta de entusiasmo de Jim comprometia a banda como um todo. Em seu lugar, foi contratado o guitarrista Trey Spruance, que havia tocado com Mike Patton no Mr. Bungle.
CAVANDO O (PRÓPRIO) TÚMULO
Em 1995, o FNM voltou às lojas com o álbum King for a day, fool for a lifetime, sem muita variação em relação ao anterior. Foram produzidos vídeos das músicas Evidence, Diggin the grave e Ricochet, todas com bastante potencial comercial, mas praticamente ignorados pela MTV americana. Obviamente, essa ausência na tela pequena influenciou negativamente as vendas do CD, ainda que tenha estreado na primeira posição do ranking australiano. O disco ainda trouxe uma homenagem aos fãs brasileiros, na faixa Caralho voador (Nota: os mais puritanos que me perdoem, mas o nome da música é esse mesmo; fazer o quê?), onde, em determinado trecho, Patton tenta - só tenta - dizer algumas frases em português.
Como se o desempenho mais modesto não fosse ruim o bastante, logo após o término das gravações e o início da turnê subseqüente, o Faith No More enfrentou mais um problema na guitarra, com o desligamento de Trey Spruance. Para o caso, há duas versões. De acordo com os membros restantes do FNM, não havia desejo por parte de Trey de se envolver em uma longa turnê mundial; já o guitarrista alega que estava pronto para encarar as viagens, mas os outros haviam decidido que ele não era a pessoa certa para o cargo. Polêmicas à parte, para substituir Trey, foi recrutado um dos ex-roadies do próprio Faith No More, Dean Menta, guitarrista de uma banda chamada Duh. Seria esse nome uma homenagem a Homer Simpson e sua marca registrada, a interjeição duh? :-)
Com tantos tropeços e problemas, não é de se estranhar que a turnê não tenha sido bem-sucedida. A recepção na Inglaterra foi tão fraca que levou ao cancelamento da segunda parte da excursão européia. O revés, no entanto, não foi tão lamentado. A banda viu aí uma oportunidade para voltar ao estúdio e se dedicar a novas composições.
DO PÓ AO PÓ
Nos dois anos seguintes, os rumores de uma separação do Faith No More assumiram proporções absurdas enquanto seus membros ocupavam-se de projetos paralelos: o baterista Mike Bordin excursionou com Mr. Madman Ozzy Osbourne, Mike Patton acompanhou a turnê do Mr. Bungle e ainda encontrou tempo para lançar mais dois trabalhos-solo e o tecladista Roddy Buttom alcançou expressivo sucesso com sua banda Imperial teen, da qual, sinceramente, nunca tinha ouvido falar até pesquisar para esse artigo.
Na gravação de seu sexto álbum, para não fugir à tradição, o Faith No More teve novamente que procurar um substituto para seu guitarrista. De acordo com Bill Gould, Dean havia prestado um excelente trabalho durante a turnê, mas trabalhava de forma diversa da que os demais membros estavam acostumados. Para seu lugar, foi convocado Jon Hudson, amigo de Gould e ex-membro do Systems Collapse (Nem pergunta...).
Em junho de 1997, foi lançado Album of the year, aquele que seria o derradeiro disco do Faith No More, descontando, é claro, as coletâneas produzidas após a separação. Singles e vídeos para Ashes to ashes, Last cup of sorrow e Stripsearch foram veiculados e, ao lançamento, seguiu-se uma turnê de expressivo sucesso pelos Estados Unidos, Austrália e Europa. Mesmo assim, isso não calou os rumores da separação da banda. Especulava-se que os projetos paralelos dos integrantes estavam tomando tempo demais e que não havia mais interesse em dar continuidade ao FNM.
Em 19 de abril de 1998, os boatos foram confirmados por um comunicado de Bill Gould: Após quinze longos e frutíferos anos, o Faith No More resolveu dar um basta nas especulações relacionadas à sua iminente separação... se separando. A decisão entre os membros é mútua e não haverá trocas de acusações além da declaração de que, para efeito de registro, foi Puffy (Bordin) que começou. Além disso, a separação vai possibilitar que cada membro siga com seus projetos paralelos livremente. Por fim, e mais importante, a banda gostaria de agradecer todos os fãs e associados que ficaram ao seu lado e a apoiaram durante toda a sua história.
O último show do Faith No More ocorreu na cidade de Lisboa, Portugal, no dia 7 de abril de 1998, deixando órfãos uma legião de fãs e seguidores.
O interessante é que, mal a banda se desfez, começaram os boatos de uma reunião, coisa que, até hoje não aconteceu. E nem deve ocorrer tão cedo. A última notícia a esse respeito foi ao ar ano passado, quando membros de bandas do famigerado new metal, dentre eles Chino Moreno (Deftones), Brandon Boyd (Incubus), Fred Durst (Limp Bizkit), Coby Dick (Papa Roach), Joey Jordison (Slipknot) e ainda Gavin Rossdale (Bush), levaram duas propostas a Mike Patton e Bill Gould: A gravação de um álbum tributo ao Faith No More só com bandas do estilo e; uma reunião do grupo em uma turnê onde figurariam apenas bandas de new metal. Aparentemente Mike deu sinal verde para a gravação - que já havia sido autorizada por Bill - mas descartou o reencontro, independente da vultosa quantia envolvida.
Engraçado, ele desce o cacete nos caras, mas autoriza um tributo. Vai entender o que faz a grana...
Atualmente, Mike Patton divide-se em três projetos: o Mr. Bungle, Fantomas e Tomahawk. Mike Puffy Bordin é integrante da banda de Ozzy Osbourne, enquanto Bill Gould e Roddy Buttom continuam trabalhando com seus projetos paralelos. Recentemente, Bordin participará da gravação de Degradation trip, álbum-solo de Jerry Cantrell, ex-guitarrista do Alice in Chains.
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