"Posso contar um segredo a vocês? Tem muitos celulares gravando, mas acho que posso confiar mesmo assim... O Brasil é a p*rra do nosso lugar favorito!", declarou Adam Levine logo antes de cantar "Payphone", um dos maiores hits do Maroon 5, na ponta de uma passarela montada em frente ao palco, pertinho dos fãs, enquanto era acompanhado por só dois violões.
É verdade, parece texto ensaiado e uma variação emocionada da demagogia de sempre, mas não é tão difícil assim acreditar no vocalista. Com múltiplas passagens pelo Brasil nos anos pré-pandemia, incluindo a memorável (para o bem ou para o mal, dependendo do ponto de vista) substituição de Lady Gaga no Rock in Rio 2017, Levine e cia. fizeram do show da noite desta terça (5), no Allianz Parque, uma celebração de volta para casa.
Os momentos de explosão foram vários, e alguns até surpreendentes - confesso que, pessoalmente, não esperava ver um estádio inteiro cantando "Maps", single do álbum V, de 2014, que nas paradas foi prontamente ofuscado pela gigantesca "Sugar", apropriadamente guardada pelo Maroon 5 para o encerramento do espetáculo. Enfim, os fãs são dedicados, animados e, essencialmente, a banda sabia que tinha o jogo ganho quando entrou no palco ao som de "Moves Like Jagger".
Por falar em Jagger, a comparação de Levine com o frontman dos Rolling Stones envelheceu mal. É verdade que ele emula trejeitos e reboladas do britânico, talvez até como forma de homenagem, mas o líder do Maroon 5 amadureceu como um showman ao mesmo tempo mais contido (nas dancinhas) e mais efusivo (nas interações com o público e no sorriso franco). Ele também amadureceu como um cantor que sabe o que quer e o que pode fazer - uma pena que a banda ao seu redor queira e peça justamente o contrário.
Isso porque Levine demonstra mais garra de cantar, esticando e modulando seu belo falsete esganiçado, nas canções mais recentes da banda, puxadas para o R&B - vide as performances plenamente entregues que ele mostrou em "Wait", "Lost" e "Cold". A banda, no entanto, se mostra meio perdida nesses momentos, com o guitarrista James Valentine tendo pouco o que fazer e o tecladista PJ Morton (como Levine apontou, recém-vencedor do Grammy) procurando formas de se encaixar no groove do restante dos músicos.
Corta para "Harder to Breathe" e "Makes Me Wonder", e o prazer de tocar reascende os músicos no palco, passeando confortavelmente pelo funk rock que tornou o Maroon 5, mesmo que brevemente, uma adição única ao panteão do pop rock. Já Levine parece não ter mais as manhas desses ritmos, remodulando e arrastando até melodias clássicas como "She Will Be Loved". Da forma como está, dividida, a banda faz os hits funcionarem com a ajuda generosa dos fãs, com quem claramente nutre uma bela relação.
Mas imagine o que eles poderiam fazer se estivessem todos na mesma página...
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