É impressionante como o Metallica tem sido vítima das ironias da vida, especialmente na última década. A última delas aconteceu justamente nos dias que antecederam o lançamento do tão aguardado Death Magnetic. O álbum tinha uma data de lançamento mundial programada para o dia 12 de setembro. No entanto, uma loja francesa decidiu largar na frente e colocou o álbum em suas prateleiras no dia 3. O resultado foi aquele que todos poderiam esperar. A banda que mais se opôs ao Napster e seus similares se viu vítima dos piratas digitais novamente, já que em menos de 24 horas os franceses já disponibilizavam o álbum na rede através de programas P2P e espalhavam o lançamento Internet afora.
Ironias à parte, o fato é que, finalmente, depois de mais de uma década colocando álbuns medíocres no mercado, visando parecer uma banda "moderninha" sem saber ao certo como fazê-lo, o Metallica "tomou vergonha na cara" e voltou a fazer o thrash metal que colocou a banda como uma das maiores do gênero. Deixando a empolgação de lado, pode-se dizer que o Metallica finalmente aprendeu com seus erros e entregou o álbum que os fãs da fase pré Load, Reload e St. Anger esperavam há mais de uma década. Se fôssemos usar uma linguagem mais típica dos quadrinhos, Death Magnetic parece quase como um retcon na sua discografia, já que o álbum se encaixaria muito mais entre ... And Justice For All e o Black Album - ou imediatamente após esse último - do que depois daquela ofensa chamada St. Anger.
Antes de seu lançamento todos os membros da banda, especialmente Lars Ulrich (bateria) e James Hetfield (guitarra/vocal) disseram pra quem quisesse ouvir que esse seria um álbum que traria músicas longas, pesadas e elaboradas - e não mentiram. Todas as faixas de Death Magnetic ultrapassam a faixa dos cinco minutos. A menor delas, "My Apocalypse" tem exatos 5min01s cravados.
Death Magnetic é aberto com "That Was Just Your Life" e já mostra a que veio. A música começa com um riff de guitarra que há muito não se ouvia em qualquer trabalho do Metallica, produzindo uma agradável sensação de déjà vu. Logo ela descamba para aquele heavy metal elaborado, pesado e rápido que sempre foi característica do grupo. Ah, e Kirk Hammet (guitarra) voltou a solar, abusando de seu pedal wha-wha, algo que tanta falta fez nos álbuns anteriores. Era um desperdício impedir que um guitarrista da sua qualidade ficasse restrito às notas mais básicas simplesmente para tentar agradar um público que não se liga em solos e acompanhamentos mais elaborados.
"The End of the Line" parece ter sido tirada diretamente do álbum Master of Puppets. Aliás não é só "The End of the Line" que contém auto-referências nesse álbum, como veremos mais adiante. O fato é que a faixa tem um riff de guitarra matador e linhas vocais bem legais. É aquela típica música que faz com que você queira levantar da cadeira e sair batendo a cabeça pela casa. Destaque para o refrão simples e empolgante.
"Broken, Beat & Scarred" mantém o nível do album lá em cima, com uma longa introdução instrumental, calcada especialmente nas guitarras da dupla Hetfield e Hammet e na bateria de Lars Ulrich. São três músicas que, se não redimem, quase nos fazem esquecer todos os delizes cometidos pelo Metallica nos últimos 15 anos.
"The Day That Never Comes" foi escolhida para ser um dos singles da banda e seu clipe deu as caras há alguns dias na Internet, inclusive aqui no Omelete. É uma daquelas músicas que vêm se tornando bastante populares no metal ultimamente. Começa lenta, tem todo aquele ar de balada e descamba para um heavy metal em sua segunda metade. A bateria e algumas passagens de guitarra lembram muito um dos maiores clássicos do Metallica, "Welcome Home... (Sanitarium)", do Master of Puppets.
"All Nightmare Long" se mostra uma das composições mais agressivas de um álbum bastante pesado. É outra daquelas músicas que devem abrir rodas nos shows devido ao seu ritmo rápido e pesado. A ela segue-se "Cyanide", uma das primeiras a serem tocadas ao vivo e liberadas para audição. Ela tira um pouco o pé do acelerador e acaba se constituindo em uma das músicas mais facilmente digeríveis do álbum, em termos comerciais. Aqui o destaque é para o baixo cheio de funk de Robert Trujillo.
A desaceleração continua na introdução de piano de "The Unforgiven III", que dá sequência ao clássico presente no Black Album. Essa sim tem toda a cara de música escrita especialmente para tocar em rádios, a começar pelo nome. Não é uma música ruim, mas parece deslocada no meio de tantas faixas pesadas. Além do mais, parece uma tentativa quase apelativa do Metallica de ligá-la à "The Unforgiven", já que ela não lembra, nem de longe, a música original. Não me entendam mal, "The Unforgiven III" é uma boa canção, bem melhor do que a "The Unforgiven II", do Reload, mas, ainda assim, nada excepcional.
"The Judas Kiss" volta a botar velocidade. Novamente, os destaques são os riffs de guitarra e as quebradas de ritmo presentes em praticamente todo o álbum. Aqui um dos maiores destaques são os vocais de Hetfield e o simples, mas "grudento" refrão. "Suicide & Redemption" é a música mais longa desse Death Magnetic. Beira os dez minutos e é a primeira instrumental do Metallica desde "To Live Is To Die" presente no ... And Justice For All. O destaque dessa vez fica para os solos de Kirk Hammet, especialmente o primeiro deles, bastante lento e climático. Cumpre bem seu papel.
Finalmente chegamos à "My Apocalypse", que lembra bastante "Damage, Inc.", outra faixa gravada em 1986 para o Master of Puppets, e que fecha com chave de ouro o álbum.
No frigir dos ovos, Death Magnetic é um álbum pesado, elaborado e, ao mesmo tempo, cru e direto em diversos momentos, algo que os fãs há muito estavam merecendo. Kirk Hammet e James Hetfield parece que finalmente reaprenderam a tocar seus instrumentos, Robert Trujillo cumpre de maneira excelente seu papel e Lars Ulrich, que não é nenhum baterista excepcional, soube levar bem seu instrumento dessa vez. Ele realmente toca bateria em Death Magnetic, e não aquele monte de latas que usou no execrável St. Anger. Uma boa volta do Metallica ao caminho que um dia trilhou. Esperemos que não se desviem dele novamente tão cedo.
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