O começo e os nomes mais importantes
A cena grunge começou principalmente com duas bandas, o Soundgarden e o Green River, sendo este último considerado o grande pai do movimento.
Entretanto, foi a partir da separação do Green River que o grunge começou a fazer seus "encaixes", multiplicando bandas e encorpando o movimento.
Mark Arm e Steve Turner formaram o Mudhoney. Stone Gossard e Jeff Ament entraram para o já existente Mother Love Bone. Com a morte do vocalista do Mother Love Bone, Andrew Wood, os membros remanescentes resolveram gravar um tributo em sua homenagem. Para a empreitada foram escalados outros amigos: os músicos do Soundgarden e Eddie Vedder. O projeto recebeu o nome de Temple of the Dog e teve um resultado belíssimo, como seria esperado de uma reunião de talentos incontestáveis.
Daí para a formação do Pearl Jam foi um pulo. O recém-chegado Vedder (vocal) uniu-se a Jeff Ament (baixo) e Stone Gossard (guitarra) e juntos recrutaram Mike McCready (guitarra) e Matt Cameron (bateria).
Outra grande banda que despontava era o Alice in Chains, formado por Layne Staley (vocal), Jerry Cantrell (guitarra), Mike Inez (baixo) e Sean Kinney (bateria). Formada como uma glam rock band em 87, foi se estruturando nas características do movimento e acabou sendo outro de seus maiores expoentes. Costuma-se dizer que o Alice in Chains foi a banda que teve o mundo aos seus pés e jogou tudo para o alto.
O Stone Temple Pilots foi outro grupo surgido na mesma época, sob as mesmas influências, apesar de ser de San Diego. Devido ao timbre de voz de seu vocalista Scott Weiland, a banda foi injustamente considerada no início uma cópia do Pearl Jam. Entretanto, seu primeiro álbum, Core, é visivelmente mais pesado do que as melodias preferidas pela banda de Eddie Vedder. Justiça feita, o Stone Temple Pilots definiu sua importância, mas optou por caminhos diferentes. Os álbuns que vieram a seguir, igualmente excelentes, já se afastavam bastante da ideologia e temática grunge, com pitadas de blues e jazz em sua sonoridade.
O Screaming Trees, liderada por Mark Lanegan também fez parte da cena, mas não chegou a ser um nome tão bem sucedido comercialmente quanto os outros. Obviamente, os reais admiradores do grunge não deixaram de apreciar de perto o som da banda.
Outras bandas importantes foram The Melvins e TAD.
Após o Temple of The Dog, um segundo supergrupo de Seattle foi criado mas é ainda menos reconhecido, provavelmente porque os fãs do grunge ainda tentavam digerir a morte de Kurt Cobain. O Mad Season, que tinha em sua formação Layne Staley (Alice in Chains), Mike McCready (Pearl Jam), Barrett Martin e John Saunders (Screaming Trees) adicionando elementos do blues ao grunge no álbum Above, legou uma das produções mais belas de Seattle, em 1995.
É indubitável que o Nirvana foi a banda que atraiu os olhos de todo o mundo para Seattle, no que a mídia denominou como "fenômeno grunge", mas seria injustiça deixar de lembrar os nomes que iniciaram a cena, os que a mantiveram mesmo após a morte de Kurt (Ex: Alice in Chains - que só acabou oficialmente em 2002, com a morte por overdose de Layne Staley; Stone Temple Pilots - em vias de extinção e o Soundgarden - dissolvido em 1997) e os que ainda fazem boa música, seja lá o nome que ela receba atualmente (Ex: Pearl Jam e Audioslave - com o ex-Soundgarden, Chris Cornell).
O Som
Grunge é uma combinação de punk e heavy metal, tendo como principais mentores dessas vertentes o Stooges e o Black Sabbath. Se as guitarras têm uma influência clara do metal dos anos 70, a abordagem das letras e a atitude foram adotadas do punk.
Pode-se fazer uma distinção entre as bandas grunge. As da primeira safra - Green River, Soundgarden e Mudhoney - têm uma sonoridade bem mais pesada do que as da segunda, que tem como seu melhor exemplo o Nirvana. A banda abusa das distorções de guitarra e dinâmica punk de tocar músicas curtas de maneira rápida.
A famosa gravadora Sub-Pop foi o epicentro inicial do movimento e ali o grunge original era mantido como se as gravações fossem feitas na garagem. Os primeiros álbuns de Nirvana, Soundgarden, Mudhoney datam dessa época e conservam uma sonoridade mais crua do que os que viriam a seguir. A produção dos álbuns ficava a cargo do famoso Jack Endino (os brasileiros do Titãs embarcaram na onda e chamaram o cara para produzir Titanomaquia, o álbum mais pesado da banda), que conservava integralmente as características musicais de cada banda.
A partir do momento em que Seattle e o grunge adquiriam importância histórica e chamavam a atenção da imprensa especializada, as bandas assinaram contratos com grandes gravadoras, caprichando mais na produção e perdendo um pouco de sua crueza original. Nevermind (leia mais aqui), o álbum mais cultuado pelos admiradores do grunge, teve sua sonoridade mais "limpa", tansformando o grunge em um produto mais acessível comercialmente. Esse viria a ser o grunge moderno e é o que mais estamos acostumados a escutar nas rádios.
Atitude e Lirismo
A energia do punk também voltou aos palcos. Nos shows eram comuns os stagedivings e o crowd surfing, inclusive dos artistas. Eddie Vedder é o maior exemplo. O vocalista do Pearl Jam também pratica o alpinismo em estruturas do palco, escalando equipamentos de iluminação. O Nirvana não deixava nenhum rastro dos instrumentos que haviam tocado, destruindo pedacinho por pedacinho e deixando a platéia completamente em transe. A atitude punk também chegava à audiência, que dançava o pogo como os punks dos anos 70.
As letras, extremamente sensíveis, confessionais, carregadas de memórias de infância e questionamentos existenciais, são a outra metade da imediata identificação que os jovens encontraram no grunge.
Outras influências são Led Zeppelin, Aerosmith, Kiss, Cheap Trick, MC5, Neil Young, New York Dolls, Ramones, Sex Pistols, The Germs, The Heartbreakers, Flipper e artistas que fizeram a transição da década de 80 para a 90 como REM, Husker Du, The Replacements, Sonic Youth, Dinosaur Jr., Pixies e Jane´s Addiction.
O modo de se vestir
Como todo grande movimento musical, o grunge também influenciou outras esferas de consumo jovem na época.
Num contra-ataque à moda yuppie - engomadinha e elegante - dos jovens dos anos 80 e a abundância de couro e itens caros usados pelas glam rock bands, o grunge provocou uma verdadeira rebelião. Priorizando a simplicidade e a não ostentação, os artistas usavam calças rasgadas, camisas de flanela, sapatos gastos, suéters velhos e botas (Doc Marten). O cabelo emarfanhado e geralmente comprido compunham a nova imagem a ser adotada: a do anti-star, algo como anti-estrela.
Assédio da Mídia
Alçados repentinamente ao estrelato (com Nevermind batendo Michael Jackson da primeira posição das paradas), os representantes do grunge faziam o possível para manter-se distantes da mídia. Eles insistiam em dizer que faziam a música que queriam e que em nenhum momento tinham planejado ser famosos. Eddie Vedder e Kurt Cobain chegaram a ser denominados os porta-vozes da "Geração X", alcunha que detestavam.
Outro ponto forte a ser vasculhado pela imprensa da época foi, sem dúvida alguma, o relacionamento atribulado de Kurt Cobain e Courtney Love que rendeu centenas de reportagens, em sua grande maioria, sensacionalistas, invadindo totalmente a privacidade que Cobain queria manter.
Não à toa, um dos motivos apontados atualmente para o suicídio de Kurt Cobain foi o incansável assédio da mídia, que sugere que Kurt não queria ser o herói de absolutamente nada e que, numa atitude desesperada, tenha posto fim à própria vida.
Eddie Vedder e o Pearl Jam usaram inúmeras estratégias para conseguir se manter afastados o suficiente para lidar com o sucesso de maneira mais saudável. Talvez por isso estejam na ativa até hoje. Com o esfacelamento do grunge, eles já não causam o deslumbramento do passado, mas permanecem vivos.
O fim e os desmembramentos
A atitude grunge de ser absolutamente contra as instituições sociais e em prol da não cooperação com a mídia acelerou o seu fim. É consensual que ele nasceu fadado a durar pouco. Seria impraticável um movimento que durasse muito mais tempo sem que fizesse acordos com redes de televisão e gravadoras e deixasse seu som mais comercial. E isso, de parte das bandas de Seattle, definitivamente não iria acontecer.
Com isso em mente, as gravadoras começaram a investir em artistas que não gerassem tanto trabalho e vendessem tanto quanto as bandas de Seattle.
Para os fãs do rock de Seattle, o grunge morreu definitivamente em 1997, com a dissolução do Soundgarden.
Sem dúvida alguma, grande parte do rock produzido hoje em dia carrega influências do grunge. Para citar apenas alguns nomes: Staind, Linkin Park, Godsmack, Creed, Crazy Town, Days of the New, Puddle of Mud. Entretanto, não se pode falar de um movimento originalmente criado por tais bandas.
Por outro lado, assim como o grunge foi uma resposta ao que vinha sendo feito nos anos 80 (glam rock bands, new wave, psicodelismo, dance music), sua rápida e extremamente marcante passagem pela história da música provocou como reação uma nova avalanche de música eletrônica (Chemical Brothers, Prodigy, Fatboy Slim, Moby) e também a mudança de foco da mídia, que se transferiu dos Estados Unidos para a Inglaterra com o britpop do Blur e Oasis.
Além disso, houve a invasão avassaladora de artistas pop e a popularização do rap e do hip hop, como forma de refúgio aos que não gostavam deste tal de rock n roll. Seus representantes são mais fáceis de trabalhar, mais apegados ao estrelato e por que não dizer, mais descartáveis, movimentando constantemente o capital de giro. Britney Spears, 50 Cent, Christina Aguilera, N´Sync, Robbie Williams, Shakira, Rick Martin, Eminem. Nenhum desses nomes está aí por acaso.
Na perspectiva dos que esperam uma resposta do rock, com a calmaria da eletrônica e o esfuziamento do britpop, assistimos hoje à busca pela "salvação do rock" e a insistente tentativa de se criar um movimento. The Strokes? The Vines? White Stripes? Melhor não fazer previsões, quando a gente menos espera, o furacão passa de novo.
Os que estiveram lá
O que fazem os que sobreviveram ao grunge?
Krist Novoselic - liderou a banda Sweet 75, criada após o fim do Nirvana, que durou até 2000. Também fez parte da Eyes Adrift, ao lado de Curt Kirkwood, do Meat Puppets e Bud Gaugh, que era do Sublime. Hoje, Krist se dedica à política. Ele é o diretor da organização Jampac, que promove a liberdade de expressão de artistas e gravadoras.
Dave Grohl - líder e vocalista do Foo Fighters. Também participou dos álbuns do Queens of the Stone Age, da Cat Power e do Killing Joke.
Mark Lanegan - participou de Above, do Mad Season e dos dois álbuns do Queens of the Stone Age. Também excursionou com a banda de Josh Homme. Segue carreira solo.
Chris Cornell - Audioslave
Matt Cameron - Wellwater Conspiracy/Hater e atualmente cuida das baquetas no Pearl Jam.
Jerry Cantrell - carreira solo
Courtney Love - carreira solo
Scott Weiland - se conseguir se ver livre do vício pela heroína, segue a já iniciada carreira como vocalista do Velvet Revolver (com o qual já tem músicas gravadas), banda dos ex-integrantes do Guns n´Roses.
Dean and Rob DeLeo - os ex-Stone Temple Pilots fazem parte do projeto paralelo Talk Show.
Os que gostariam de ter estado - representantes do novo grunge
Silverchair e Bush - ambos formados em 1992, sendo o primeiro australiano e o segundo inglês. Ainda na ativa. No caso do Bush, pelo menos em teoria. Apesar da relativa contemporaneidade, essas bandas já usaram o modelo estabelecido, pouco acrescentando de novidade ao movimento.