Como foi dito na última Piolhices & Afins, a série "bandas que você não conhece, mas que deveria conhecer" continua nesse mês, trazendo mais sugestões legais de bandas de rock e heavy metal que merecem uma conferida.
Astral Doors
O primeiro álbum do Astral Doors, Of the son and the father, traz a "singela" imagem de padres crucificados em meio a um deserto. Já este segundo, Evil is forever (algo como "o mal é eterno"), mostra um bando de dragões atacando uma torre e músicas com títulos sugestivos como "Bride of Christ" e "From the cradle to the grave". Baseando-se nisso, pode-se afirmar com certeza que o Astral Doors trata-se de uma banda de black metal, certo? Errado. Provando que as aparências enganam, o que o Astral Doors faz é algo que posso simplesmente definir como "rock pesado", já que a banda caminha na fina linha que separa o hard rock do heavy metal tradicional, pendendo mais para o último. O grupo foi formado no começo da década na Suécia - o que, por si só, já diz muito, haja vista o sem número de bons grupos de rock e metal advindos daquele país - pelo guitarrista Joachin Nordlund e o baterista Johan Lindstedt. A eles se juntaram depois o vocalista Nils Patrik Johansson, o guitarrista Martin Hanglund, o tecladista Joakim Roberg e o baixista Mika Itäranta. Evil is forever apresenta uma sonoridade moderna, com uma boa produção, cujas influências principais são bandas dos anos 70 e 80, como Deep Purple e Black Sabbath. As guitarras de Nordlund e Hanglund trazem o peso na medida exata que suas composições necessitam, aliadas à precisão da bateria de Lindstedt e a competência de Itäranta. O teclado de Roberg é discreto, mas cumpre bem a sua função. Já Nils Patrik Johansson é um caso à parte. O cara é simplesmente um monstro dos vocais, daqueles que raramente aparece no cenário do rock/heavy metal. Lançado no começo desse ano, Evil is forever já é um forte candidato a melhor álbum de 2005. Escute e confira por si mesmo. |
Storm Warrior
Se o Astral Doors parece um caso de identidade trocada, o mesmo não pode ser dito de Northern Rage, segundo álbum dos alemães do Storm Warrior. O álbum traz na capa um exército de vikings atacando o que aparenta ser um acampamento ou igreja cristã. Isso, aliado ao nome da banda e do álbum, além das alcunhas de seus membros - que se apresentam como Thunder Axe (vocal/guitarra), Lightning Blade (guitarra), Black Sworde (baixo) e Doomrider (bateria) - leva a crer que se trata de uma banda de heavy metal tradicional. E dessa vez a expectativa é confirmada. O Storm Warrior foi fundado em 1998, na Alemanha, por Lars Ramcke (vocal/ guitarra) e André Schumann (bateria). Naquele mesmo ano, o guitarrista Scott Bölter e o baixista Tim Zienert se juntaram ao bando. Um ano depois, a banda começou a seguir o árduo caminho que a grande maioria dos grupos necessita percorrer para conseguir um contrato de gravação, ou seja, a produção e distribuição/comercialização de demos. Para o Storm Warrior, esse processo durou cerca de três anos, até que eles assinaram um contrato com a gravadora alemã Remedy Records. Logo em seguida, eles caíram nas graças de Kai Hansen, fundador do Helloween e líder do Gamma Ray, dois dos mais influentes nomes do cenário heavy metal. Com produção de Kai e Dirk Schlächter (baixista do Gamma Ray), o Storm Warrior chegou às lojas em 2002 e conseguiu uma boa repercussão do público e da crítica especializada. Pouco após o lançamento deste álbum de estréia, o guitarrista Scott Bötler deixou a banda, sendo substituído por David Wiczorek. Northern Rage é o segundo álbum da banda e traz um heavy metal tradicional, recheado de influências advindas do speed e do thrash metal. Chama a atenção no álbum o fato de todas as letras terem sido escritas em inglês arcaico e trazerem pequenos textos dando mais detalhes sobre as histórias contidas nas músicas, cuja temática gira em torno da mitologia viking. Uma boa pedida para os fãs do estilo. |
Distant Thunder
Heavy metal tradicional também é o que pode ser encontrado em Welcome the end, trabalho de estréia dos americanos do Distant Thunder. A banda é uma iniciativa do vocalista James Rivera - um nome bastante conhecido no underground, haja vista o fato de ter participado (ou ainda fazer parte) de grupos como Helstar, Destinys End, Flotsam & Jetsam e Seven Witches -, do baixista Mike LePond (membro do Symphony X) e do guitarrista Eric Halpern (companheiro de James no Destinys End). A eles se juntaram o guitarrista Gregg Gill e o baterista Rick Ward. Welcome the end, que tem produção do guitarrista Jack Frost (Seven Witches) e de Gregg Gill, traz nada mais nada menos do que um heavy metal tradicional e direto, sem muitas firulas, calcado na competência e bagagem anterior de todos os seus membros que, individualmente, já tem uma boa experiência no cenário. Destaque para o bom trabalho das guitarras de Halpern e Gill e as linhas de baixo bem trabalhadas por LePond. |
Anvil
Falar do Anvil não é tarefa das mais fáceis. Afinal, estamos falando de uma banda cuja história começa em 1973, no Canadá, quando o vocalista/guitarrista Steve "Lips" Kudlow e o baterista Robb Reiner começaram a tocar juntos. Cinco anos depois, em 1978, com a adição de Dave Allison (backing vocals, guitarra) e Ian Dickson (baixo), surgiria a banda Lips, que, em 1981, após o lançamento de um álbum independente, assinaria com a gravadora Attic Records e adotaria o nome pelo qual seria conhecida no mundo do rock pesado. O Anvil começou a chamar a atenção da critica especializada em 1982, com o lançamento de seu clássico álbum Metal on metal. De lá para cá, o grupo sofreu tudo aquilo que acomete a maioria das bandas do gênero: mudanças de formação, de gravadora (de 1981 a 1996 a banda passou por nada menos do que quatro) e períodos de inatividade. Apesar disso, conseguiu lançar 16 álbuns, entre trabalhos inéditos, ao vivo e coletâneas, sempre se mantendo fiel às suas raízes heavy metal, apesar de sofrer dos diversos altos e baixos pelos quais passam a maioria das bandas que se mantêm no cenário há tento tempo. Com sua formação estabilizada desde 1996, contando com o Kudlow e Reiner, além do guitarrista Ivan Hurd e do baixista Glenn Five, o Anvil lançou seu último álbum, Back to basics, no ano passado. De uma maneira geral, Back to basics é um dos álbuns mais diversificados da longeva carreira do Anvil, trazendo tanto músicas rápidas, como "The chainsaw", como outras mais lentas, como "Song of pain", e passando ainda por outras como a quase balada pesada "Cruel world". Além das acima citadas, o álbum traz uma seleção de músicas nas quais o Anvil faz um power metal que, segundo diversas fontes mais embasadas, remete bastante ao material apresentado pela banda ali pelo meio dos anos 80. A versão nacional do álbum traz ainda um DVD gravado durante a apresentação da banda no Wacken Open Air, talvez o mais tradicional festival de música pesada do planeta, de 1998. Neste disco é possível ver o Anvil executando algumas das músicas que marcaram sua carreira, como a clássica "Metal on metal", de 1982. |
Destra
Como nem só de europeus e norte-americanos vive o heavy metal, chegou a hora de dedicar um espaço dessa coluna para falar de coisa nossa. Antes, no entanto, é necessário que eu confesse que sempre tive um certo preconceito com as ditas "bandas cristãs", também denominadas de White metal. Na minha concepção de ver as coisas, é estranho escutar músicas de heavy metal que louvem aos ideais religiosos, especialmente os cristãos, haja vista o quanto a Igreja Católica e as demais agremiações cristãs picham o rock pesado como "coisa do capeta". Dito isso, foi com um certo receio que recebi o álbum Joes rhapsody, segundo trabalho do Destra, banda de metal cristão que surgiu no fim da década passada e que já tem em seu currículo o álbum Sea of doubt. Quando coloquei o álbum pra tocar, no entanto, tentei me despir desses preconceitos e o que escutei foi um excelente álbum de metal progressivo, na mesma escola de Dream Theater e Symphony X, mas tão recheado de elementos brasileiros, como o baião, quanto de influências do rock progressivo praticado por bandas como o Pink Floyd. Joes Rhapsody é uma ópera-rock que conta a história de Joe, um garoto bem educado, vindo de um lar destruído, que vai para o mundo do crime, vira o chefão do tráfico de drogas, vive toda a ilusão que isso pode oferecer, acaba preso, condenado à morte e encontra a Salvação (ou seja, Jesus) na prisão. A história de Joe é contada por Rodrigo Grecco (vocais/guitarra), Ricardo Parronchi (vocal/baixo), Eduardo Parronchi (guitarra), Maxsuel Rodrigo (teclados) e Fábio Fernandes (bateria) em 11 músicas de alto nível, cujos maiores destaques são "Cruel jungle (part two)", "Darkness land" e "Wisdom calls (the preaching)". Destaque também para bela arte gráfica do álbum, e para o trabalho que a banda fez incluindo no encarte as versões em português das letras de suas músicas. |
Symbols
O Symbols é mais conhecido no cenário do metal brasileiro por ter sido a banda de origem do atual vocalista do Angra, Edu Falaschi. A história deles começou na capital paulista com Rodrigo Arjonas (guitarra), Demian Tiguez (guitarra), Tito Falaschi (vocal e baixo), Rodrigo Mello (bateria) e Marcello Panzardi (teclado), em 1997. No ano seguinte, o grupo gravou seu auto-intitulado debute e convidou Edu, irmão de Tito, para a produção do álbum. Edu acabou entrando para a banda, para dividir os vocais com o irmão. O disco Symbols alcançou boa repercussão entre o público e a mídia especializada. Era um álbum que mesclava todo o peso do heavy metal com belas baladas e um excelente trabalho da banda como um todo. Esse começo promissor viria a se concretizar em Call to the end, segundo CD, lançado em 2000. O trabalho é um apanhado de músicas que vão do heavy metal ao hard rock característico dos anos 80, passando pelas indefectíveis baladas, que acabariam por ser uma espécie de marca registrada da banda. Apesar - ou talvez devido à isso - da boa repercussão de seus dois discos, a coisa começou a desandar a partir do momento em que Edu Falaschi foi chamado para assumir o posto de vocalista do Angra, em 2001. Nessa mesma época, Rodrigo Arjonas e Tito Falaschi decidiram priorizar o projeto em que estavam trabalhando juntos e também deixaram a banda. Coube a Demian Tiguez e Rodrigo Mello a tarefa de montar um novo time. Nisso passaram-se anos, tanto que todos já admitiam a possibilidade da banda ter encerrado suas atividades. Em 2004, no entanto, foi anunciado que o Symbols voltaria e lançaria seu terceiro trabalho, Faces. Eles eram agora Demian Tiguez (vocal/Guitarras), Rodrigo Mello (bateria) e os recém-chegados Cesar Talarico (baixo) e Fabrizio Di Sarmo (teclados). Depois de tantos contratempos, não é de surpreender o fato de Faces ser um álbum tão diferente dos anteriores. O grupo investiu mais em composições puxadas para o hard rock e em orquestrações e vocais típicas de bandas de metal progressivo como o Savatage, o que o torna bem diferente dos trabalhos anteriores do Symbols. O trabalho de Demian Tiguez é bom e ele se revela um vocalista à altura da tarefa de substituir Edu Falaschi, apesar de ambos terem estilos vocais bem diversos entre si. Após o fim das gravações, Rodrigo e Cesar deixaram a banda. Tony Del Nero e Dee Padovan (irmão de Demian) assumiram as respectivas vagas. Além disso, o guitarrista Ulisses Miyazawa passou a integrar o Symbols, dividindo as guitarras com Demian. Apesar de não ser um álbum tão bom quanto os anteriores, Faces marca uma nova fase na carreira do Symbols, que traz uma proposta bem diferente dos anteriores, mas, ainda assim, bem interessante. |
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