O heroísmo permeia a trajetória do Red Hot Chili Peppers a cada década. Nos anos 80, o quarteto da Califórnia era o "herói" de John Frusciante, que teve a missão de substituir o ídolo Hillel Slovak, vítima de overdose em 1988. Após o sucesso estrondoso, a recuperação das drogas e o adeus nunca aceito pelos fãs, o guitarrista retorna em "Black Summer" para "salvar" a banda e dizer, com seus riffs, que o tempo não passou.
O single está presente em Unlimited Love, primeiro álbum de inéditas do Red Hot em cinco anos, com lançamento confirmado para 1º de abril, mas poderia constar em qualquer parte da discografia com Frusciante na formação. Embora tivesse se afastado do rock e desviado para a música eletrônica, o "novo velho pepper" mostra que sua relação com as guitarras e seus parceiros continua fraternal.
"Black Summer" remete à fase de ouro do Chili Peppers, em que Anthony Kiedis, Flea, Chad Smith e John Frusciante foram os "heróis" da geração que conheceu hits como "Give It Away" (1991) e "Scar Tissue" (1999) em rádios FM e na MTV, especialmente no Brasil. O show histórico no terceiro Rock in Rio (2001), para 250 mil fãs, prova a ligação quase umbilical entre a banda e o nosso país.
O "cordão", neste caso, vem do baixo dançante de Flea e da guitarra rasgada de Frusciante. Juntos, os dois instrumentos quase dissonantes se fundem com perfeição. Em "Black Summer", as dedilhadas seguem afiadas e a dupla aproveita cada brecha entre os versos cantados por Anthony Kiedis para o improviso que marca a trajetória dos californianos.
A sensação de nostalgia se reforça com a bateria de Chad Smith, com uma sonoridade "crua" semelhante à dos álbuns mais vendidos do Chili Peppers. O responsável por esse resgate pode se considerar um "quinto pepper": Rick Rubin, que nas últimas três anos só não produziu um álbum da banda, The Getaway (2016).
Rubin admitiu ao podcast Talk Is Jericho ter chorado ao ouvir Frusciante novamente. Flea, que convenceu John a reassumir a guitarra da banda, disse à revista NME que foi emocionante voltar a tocar com o amigo. Portanto, é compreensível a comoção dos fãs com o retorno do músico ao Chili Peppers desde o anúncio oficial, em dezembro de 2019.
Este sentimento não anula o trabalho incrível de seu substituto na última década, Josh Klinghoffer, que também enxerga Frusciante como "herói". Aliás, não seria ousado dizer que até ele torcia por esta reunião.
"Black Summer" tem o poder de transportar o ouvinte para "Death of a Martian", faixa que encerra o último álbum com John Frusciante, Stadium Arcadium (2006). É como se Unlimited Love fosse lançado logo em seguida. Nos últimos 16 anos, os fãs esperavam que "mais um verão sombrio terminasse", como diz o refrão do novo single. Com Frusciante e Rick Rubin, o Red Hot Chili Peppers anuncia o fim da escuridão.
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