Fleetwood Mac: A história, o caos e o drama por trás do álbum Rumours

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Música

Fleetwood Mac: A história, o caos e o drama por trás do álbum Rumours

Términos, brigas e abuso de drogas levaram à criação do disco “mais importante” do Fleetwood Mac

Omelete
8 min de leitura
06.04.2023, às 18H54.
Atualizada em 06.04.2023, ÀS 19H19

Texto por: Gabriela Marqueti

Ouvir os acordes do baixo em “The Chain” é um caminho sem volta para o universo de Fleetwood Mac. Em realidade, o mergulho no álbum Rumours e nas polêmicas de seus bastidores é tão envolvente que inspira novas histórias até hoje.

Um dos melhores exemplos é a série do Prime Video Daisy Jones & The Six, baseada no livro homônimo que teve como principal referência as intrigas do quinteto britânico-americano. A popularidade da obra de ficção atraiu novas gerações de fãs e trouxe à tona os conhecidos dramas do Fleetwood Mac, especialmente no TikTok. Mas o que aconteceu naqueles seis meses de gravação, afinal?

Rumours foi o décimo primeiro álbum de estúdio do Fleetwood Mac e o segundo com Lindsey Buckingham (guitarra e vocais) e Stevie Nicks (vocais) na formação. O casal se conhecia desde a adolescência e lançou seu primeiro e único disco, Buckingham Nicks, em 1973. O projeto não foi um sucesso, mas chamou a atenção de Mick Fleetwood (baterista e co-fundador), que convidou Lindsey a se juntar à sua banda.

O primeiro álbum a ser feito com Lindsey e Stevie foi o autointitulado Fleetwood Mac (1975). Com a adição dos dois novos integrantes e sua inclinação para um som mais pop, o grupo experimentou o sucesso comercial pela primeira vez em oito anos de formação. A canção “Rhiannon”, escrita e performada por Stevie Nicks, chegou à 11ª posição da Billboard em seu ano de lançamento como single. “Over My Head” e “Say You Love Me” também tiveram boas performances. O disco vendeu 5 milhões de cópias.

Entre 1976 e 1977 os ventos da mudança rapidamente se transformaram em um furacão. Depois de uma turnê intensa de seis meses pelos Estados Unidos, os cinco integrantes do Fleetwood Mac se reuniram no estúdio para começar a trabalhar em seu próximo álbum, que viria a ser o Rumours; mas as relações interpessoais entre membros da banda estavam desmoronando.

Pouco antes do início das gravações, Stevie Nicks e Lindsey Buckingham romperam seu relacionamento, enquanto os integrantes Christine McVie (teclado e vocais) e John McVie (baixo) estavam nos estágios iniciais do divórcio de seu casamento de oito anos. Além dos términos entre membros da banda, Mick Fleetwood descobriu que sua esposa e mãe de seus filhos estava tendo um caso com seu melhor amigo. Tudo isso misturado ao abuso de álcool e drogas - especialmente cocaína - fez do estúdio um ambiente tanto criativo quanto nocivo ao Fleetwood Mac.

Nós realmente nos perguntamos se iríamos terminar o Rumours,” admitiu Stevie Nicks em documentário da BBC feito em 1997. “Nesse mesmo estúdio, naquela salinha ali, estavam 5 pessoas que estavam absolutamente terminando.

Cada um dos integrantes tinha uma maneira própria de lidar com suas dores, mas nenhum deles podia fazê-lo de maneira privada. Todos os problemas internos eram conhecidos dos outros membros da banda e a maioria das relações interpessoais entre os cinco estava fragilizada. Todo o turbilhão emocional virou tema para as músicas que viriam a compor o novo álbum; canções que falavam de raiva, traição, mágoa e ressentimento, mas também de esperança e redenção. Em depoimento para um documentário da BBC feito 20 anos depois, todos deram sua perspectiva sobre os bastidores do disco:

Nós todos estávamos escrevendo músicas uns sobre os outros, por mais que não tivéssemos consciência disso na época”, conta Christine McVie. “Todas as canções eram sobre nossos relacionamentos privados e nossas próprias relações turbulentas [um com o outro]. Acho que foi o John que sugeriu o nome Rumours porque nós estávamos escrevendo diários uns sobre os outros. E nós não percebemos isso até escutarmos todas as músicas juntas.

Algumas relações entre integrantes, como a de Stevie e Christine, se fortaleceram em meio ao caos. As duas encontraram apoio emocional e conforto na presença uma da outra e alugaram apartamentos no mesmo condomínio para se manter mais próximas. Já Lindsey e John costumavam se estranhar durante as gravações do álbum devido a diferenças criativas e os três integrantes masculinos dividiam a mesma casa. Mick era descrito como a figura paternal e a “cola” que mantinha todos unidos e trabalhando para o melhor.

Entre os dois ex-casais, a dinâmica de convivência era diferente. Enquanto Stevie e Lindsey costumavam ter brigas acaloradas, John e Christine evitavam um ao outro e não se falavam em momento algum a não ser para discutir assuntos técnicos sobre as músicas.

A situação ficou ainda mais constrangedora depois que Christine iniciou um relacionamento com o diretor de iluminação da banda. Apesar da proximidade com os integrantes devido ao trabalho, ele não era bem-vindo no estúdio ou nos mesmos espaços em que John McVie estivesse, o que diminuiu a frequência de seus encontros com a tecladista. De acordo com Mick Fleetwood, era possível ver que a situação não era fácil para John, mas para Christine foi como um grande recomeço. Ela escreveu a faixa “You Make Loving Fun” sobre seu novo relacionamento, onde descreve uma relação fácil e mágica que a faz querer acreditar em milagres.

Na relação de Stevie e Lindsey, os sentimentos de cada um ficavam claros através de suas composições. A etérea “Dreams” é de autoria de Nicks e aborda o fim do relacionamento com uma pitada de esperança em um futuro mais esclarecido na relação. Já a enérgica “Go Your Own Way” foi escrita por Buckingham como um ponto final raivoso e possui o verso vingativo “Sair por aí, ficar de pegação é tudo o que você quer”, que não agradou Stevie pela “crueldade” e falta de veracidade.

Apesar de todos os desentendimentos, Lindsey conta que terminar a banda nunca foi cogitado pelos integrantes. “O mecanismo já tinha funcionado tão bem que nunca houve nenhuma ponderação sobre ‘Queremos ficar juntos ou queremos lidar com isso de outra maneira?’”, explica. “Precisávamos jogar com as cartas que tínhamos. E a única maneira de fazer isso era pegar todos aqueles sentimentos - por exemplo, meus sentimentos pela Stevie e vice-versa -, e empurrá-los para um canto da sala. E aí lidar com o que quer que estivesse acontecendo no restante do seu processo com [as outras pessoas] na sala.

Mesmo com os problemas internos da banda, o Fleetwood Mac decidiu despejar seus ânimos e frustrações na música, o que resultou em um disco genial com participação ativa de todos os integrantes. Por mais desconfortável que possa ter sido, John McVie contribuiu com uma excelente linha de baixo em “You Make Loving Fun” (escrita sobre o namorado de sua ex-esposa), e os três vocalistas constantemente precisavam dividir microfones enquanto cantavam letras sobre si mesmos escritas por outra pessoa.

Apesar de suas brigas e diferenças, Stevie e Lindsey continuavam sendo uma dupla que entendia as músicas um do outro como ninguém e sabia como extrair o melhor um do outro enquanto artistas. Nicks entregava suas letras para Buckingham e ele sabia exatamente o que fazer para transformar aquela composição em uma canção de qualidade. Ele se refere à dinâmica dos dois no estúdio como “almas gêmeas”, apesar de admitir que houve momentos em que ele não queria ajudar Stevie com suas músicas.

O entrosamento da banda e a determinação em criar um projeto musical de qualidade foi o bote salva-vidas que os manteve à deriva em meio a todos os destroços. “É isso que é maravilhoso sobre a música”, reflete Stevie Nicks. “Você pode estar muito chateado, aí você entra no estúdio e alguém toca algo que é muito bom… Uma parte de você tem que ficar feliz. Então havia um equilíbrio que nos impedia de enlouquecer completamente. A música era boa o suficiente para nos manter meio que no mesmo patamar.

A recompensa pela perseverança do Fleetwood Mac foi ter um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos que se manteve no topo das paradas por 31 semanas e venceu o Grammy de Álbum do Ano. A banda enfrentou outras turbulências após o lançamento do Rumours - como o início de um caso entre Stevie Nicks e Mick Fleetwood - mas trabalhar juntos no disco permitiu que todos os integrantes passassem por um processo catártico de suas emoções. E, é claro, todas as especulações sobre a vida pessoal dos artistas ajudaram nas vendas. Ouvir o álbum é como estar diretamente inserido no contexto em que ele foi gravado.

Esse é o álbum mais importante que fizemos porque permitiu que o Fleetwood Mac continuasse por muitos anos depois dele”, declara Mick. “Eu realmente sinto que se não tivéssemos feito esse álbum, nós talvez tivéssemos seguido o caminho alternativo e teríamos literalmente parado.

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