As origens não tão óbvias do heavy metal, que possivelmente você não sabia

Música

As origens não tão óbvias do heavy metal, que possivelmente você não sabia

Conheça as pistas que indicavam que o mundo estava pronto para um som muito mais visceral, sombrio e pesado em 1970

Omelete
9 min de leitura
17.11.2022, às 14H13.
Atualizada em 17.11.2022, ÀS 16H39

Por Daniel Dystyler

A história famosa é conhecida por todos (ao menos por todos que curtem heavy metal): Numa sexta-feira 13, em fevereiro de 1970, o lançamento de um disco iria mudar a história da música para sempre. A primeira música desse disco começa com 37 segundos de som de chuva, dramaticamente acompanhados por trovões e sinos que precedem o famoso riff composto de 3 notas que combinadas formam o trítono, som que na Idade Média foi proibido pela Igreja Católica por “atrair o demônio” de acordo com os religiosos da época.

Essa história, "todo mundo" conhece…

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Junto com ela, também é famoso o acidente que fez o guitarrista Tony Iommi perder a ponta dos dedos da mão direita e com isso ser obrigado a buscar uma sonoridade diferente, mais pesada. Agregue uma pitada das letras e temáticas macabras do baixista Geezer Butler e pronto! É indiscutível que o primeiro disco do Black Sabbath tenha deixado uma marca definitiva na criação do gênero. Mas será que foi só isso? 

Um movimento cultural (não apenas musical, mas um estilo de vida) tão grandioso, que perdura por mais de 50 anos, que se espalhou e dominou TODOS os países do mundo, não pode ser obra de apenas uma pessoa ou uma música ou um disco. Isso é, sim, o resultado de um conjunto de condições que propiciaram que esse movimento se proliferasse por todo o planeta e durasse tanto tempo.

Sempre penso na famosa cena de De Volta Pro Futuro quando, em pleno baile de formatura nos anos 50, Marty Mcfly ao tocar "Johnny B. Goode" de Chuck Berry, se empolga num solo de guitarra e deixa a plateia de jovens estupefatos e perplexos. No microfone, Marty que tinha viajado no tempo, vindo do futuro, diz: "Acho que vocês não estão preparados pra isso ainda... mas seus filhos vão adorar!"

A cena mostra de um jeito divertido que nos anos 50, o mundo ainda não estava preparado para um som desses. Mas em 1970, aparentemente o mundo ficou pronto para um som muito mais visceral, sombrio e pesado. O mundo estava pronto para o heavy metal. Como isso aconteceu?

O objetivo da coluna de hoje é juntar aqui algumas das pistas que sinalizavam que o mundo finalmente estava pronto para o metal. As pistas estavam espalhadas em diversas áreas da cultura e das artes nos anos que antecederam o lançamento do álbum Black Sabbath

A primeira referência ao termo heavy metal surgiu no livro Nova Express escrito por William S. Burroughs em 1964. Um dos personagens do livro, “Uranium Willy", ganhou o apelido de "the heavy metal kid” ("o garoto heavy metal" em português) fazendo referência ao fato do urânio ser um metal pesado, porém usando o termo pela 1a. vez fora do contexto da Tabela Periódica de Química.

Dois anos depois, em 1966, uma das maiores bandas do planeta na época, emplacou um sucesso que trazia em sua temática, elementos que seriam usados para sempre na estética do heavy metal: a cor preta e a morte. Em "Paint It Black" dos Rolling Stones, Mick Jagger canta uma letra que nos dias de hoje não faria grande alvoroço, mas em 1966 tratava-se de uma ruptura. Uma mudança nos ventos que sopravam com uma música descrevendo graficamente um funeral:

"I see a line of cars and they're all painted black.
With flowers and my love both never to come back"
("Eu vejo uma fila de carros e eles estão todos pintados de preto.
Com flores e com o meu amor que nunca mais vai voltar")

Já em 1968, os Stones seguiram o caminho para o inferno com a lendária "Sympathy for the Devil", com Mick Jagger cantando em primeira pessoa como sendo o próprio diabo. 

A canção, que seria regravada pelo Guns N' Roses em 1994, pelo Motörhead em 2015, pelo Hellcacopters com Papa Emeritus IV do Ghost em 2021, entre outros, fala das atrocidades da Humanidade, contadas sob o ponto de vista dele mesmo, Satã, incluindo o julgamento e a morte de Jesus Cristo, as guerras em nome da religião, a violência da Revolução Russa e da Segunda Guerra Mundial, o assassinato dos Kennedys, entre outros temas, todos amplamente explorados posteriormente pela cultura do heavy metal.

Ainda em 1968, a temática satânica ganharia mais força no mundo todo com o filme clássico do terror psicológico O Bebê de Rosemary, que ganhou imensa popularidade e rendeu vários prêmios e indicações ao diretor Roman Polanski e à atriz Mia Farrow.

Nesse mesmo ano, a cultura pop foi tomada de assalto (literalmente) pelo “heavy metal thunder” da letra de “Born To Be Wild”, do Steppenwolf. A referência ao ronco dos motores de motocicletas colocou pela primeira vez o termo "heavy metal" na letra de uma música. Todos esses elementos ajudaram a pavimentar o terreno.

Mas o aval derradeiro, o sinal verde para que Black Sabbath, ancorado por Deep Purple e Led Zeppelin, a tríade fundadora do heavy metal, pudessem criar a estrada definitiva pro inferno, só poderia ter vindo da maior banda do planeta. Quando os Beatles indicaram o caminho, o mundo estava pronto para o metal.

A música "Helter Skelter" do disco branco (1969) dos Beatles é constantemente citada em diversas matérias como uma precursora do heavy metal. Outras pessoas citam "Taxman" do álbum Revolver (1967) como a música que ajudou a formar o metal. O próprio Geddy Lee, fundador, baixista e vocalista do Rush disse em outubro deste ano:

“Normalmente as pessoas se lembram dos Beatles por sua plenitude de melodia e pelos ótimos vocais. Mas também há de se considerar que Paul McCartney foi um baixista bastante influente. Se você ouvir ‘Come Together’, há uma parte ousada do baixo nessa música. Se você ouviu ‘Taxman’, é heavy metal antes de existir heavy metal.”

Agora se você chegou no texto até aqui, eu peço encarecidamente que você aumente o volume e clique no link abaixo para ouvir o riff mais metal dos Beatles - especificamente aos 5 minutos 39 segundos. Nos comentários, por favor me diga se você não consegue imaginar o Ozzy gritando algo tipo "LET'S GO FUCKING CRAZY" em cima desse riff que foi lançado em 1969, ainda 5 meses antes do Black Sabbath lançar o álbum que seria a pedra fundamental do metal.

O nome da música traz a palavra "Heavy" em seu título e como um advogado diria no clímax de um julgamento: "I rest my case. Sem mais perguntas, meretíssimo". “Ah, mas você acha que os Beatles influenciaram o Sabbath?”

Óbvio que sim! Em sua biografia Eu Sou Ozzy e o no recente documentário As Nove Vidas de Ozzy Osbourne, o Príncipe das Trevas literalmente diz que decidiu o que faria na vida por conta de sua paixão pelos Beatles, em particular pela admiração por Paul McCartney.

Mas se eles influenciaram o Sabbath ou não, é o que menos importa. O mais importante é que eles influenciaram o mundo inteiro! As pessoas foram levadas, foram conduzidas, foram empurradas a “acostumar o ouvido”, a estarem mais abertas e preparadas para um som mais pesado. 

Com Beatles e Stones, as duas maiores bandas do mundo na época, abrindo o coração e a mente das pessoas e com todos os outros nudges ("empurrõezinhos", como as Ciências Comportamentais definem esse tipo de influência), o mundo foi colocado na frente dos portões que nos levariam ao heavy metal. E em 1970, Ozzy, Tony, Geezer e Bill abriram definitivamente esses portões, e o resto é história.

No mesmo ano, o Sabbath lançaria o lendário Paranoid. O Deep Purple traria para dentro do heavy metal a velocidade e os elementos de música clássica, enquanto o Led Zeppelin, incorporaria o misticismo e o sex-appeal. E assim a tríplice aliança forjaria o metal. 

Nessa mesma época, na revista Creem, o célebre crítico Lester Bangs cunharia pela primeira vez o termo "heavy metal" como sendo uma referência ao estilo de som que estava sendo feito. E assim, batizou o movimento. E meses depois, Jimi Hendrix apelidava o heavy metal como sendo a "música do futuro”.

Jimi estava certo. Por mais de 50 anos, o metal cresceu, se espalhou, evoluiu, mudou, sofreu, cresceu, se reinventou e seguiu seu caminho. E ainda segue. 

Aqui uma playlist com mais de 500 músicas novas. Todas deste ano. Todas excelentes. De diversos estilos de rock e metal. São mais de 35 horas de músicas lançadas em 2022, mostrando que o movimento vai bem, obrigado (quem quiser seguir a playlist, eu atualizo toda semana)! Se por um lado Jimi Hendrix estava certo, por outro, Marty Mcfly em De Volta Pro Futuro, também estava: Os adolescentes dos anos 50, de fato, não curtiram. Mas seus filhos adoraram.

PARA OUVIR

Presenciar um show de heavy metal ao vivo é uma experiência quase religiosa para os metalheads. Quem nunca sonhou com o momento em que finalmente poderia cantar aquele hino dos discos ao vivo, cercados por centenas – ou milhares! – de fãs apaixonados?

Depois de dois anos de pandemia e muitas incertezas sobre o retorno dos shows, os álbuns de rock e heavy metal ao vivo foram essenciais para matar as saudades desse sentimento único. E mesmo agora com o retorno dos shows, escutar a banda em conexão com a plateia consegue nos levar de volta para nossos shows favoritos.

Do Metallica no Brasil aos registros do Helloween, representado na capa por Michael Kiske e Andi Deris na mais recente passagem da banda pelo nosso país, em foto por Leca Suzuki (veja galeria de fotos aqui), o Wikimetal fez uma seleção imperdível de grandes performances ao vivo do metal, em mais de quatro horas de música! Acompanhe a playlist no Spotify e também no Deezer.

WIKIMETAL RECOMENDA

O vocalista e ícone do punk João Gordo lançou no início de outubro o álbum Brutal Brega. Realizado em parceria com o produtor Val Santos (Toyshop, VIPER), o disco é um divertido tributo à música brega, contando com clássicos da música brasileira transformados em versões punk rock. Brutal Brega já está disponível em todas as plataformas, e é um lançamento do selo Wikimetal Music.

O projeto surgiu como uma brincadeira durante a pandemia: Val Santos começou a desenvolver as versões por diversão, e quando João Gordo ouviu as músicas, se interessou no projeto. Em pouco tempo, os dois haviam gravado dezenas de versões juntos e formado um disco. As músicas incluídas foram escolhidas pela forte memória afetiva que a dupla tinha pelas canções, originalmente lançadas por artistas como Sidney Magal, Reginaldo Rossi, Ângelo Máximo, Jane e Herondy, e muitos outros. 

Entre as 12 faixas do disco, estão os singles que já haviam sido lançados – como “Fuscão Preto” e “Tô Doidão” – e outros clássicos, como “Amante Latino” e “Domingo Feliz”. O disco também mostra um outro lado de João Gordo, em faixas como a romântica “A Namorada Que Sonhei” e o dueto “Não Se Vá”, com a atriz Marisa Orth

O álbum também está disponível em CD, com duas faixas bônus exclusivas: “Doces Beijos” (Menudo), e “Sandra Rosa Madalena” (Sidney Magal). O CD já está à venda nas principais lojas, e online via Wikimetal Store.

SOBRE O WIKIMETAL

Fundado em 2011, o Wikimetal se tornou o maior portal de conteúdo próprio do segmento de rock e heavy metal do país. Atualizado diariamente com notícias, quizzes, enquetes, textos, entrevistas e cobertura de shows, o portal busca informar o público sobre o mundo musical além de apresentar uma visão sobre como a música se coloca em nossa sociedade.

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